«Também Eu não te condeno» – Santo Agostinho

Há um salmo que diz: «Deixai-vos instruir, juízes da terra!» (Sl 2,10). Os que julgam a terra são os reis, os governantes, os príncipes, os juízes propriamente ditos. […] Que eles se instruam, porque se trata da terra que julga a terra, mas ela deve temer Aquele que está no céu. Eles julgam os seus iguais: o homem julga um homem, o mortal, um mortal; o pecador, um pecador. Se Nosso Senhor fizesse ressoar, no meio desses juízes, esta sentença divina: «Que o primeiro que estiver sem pecado, atire a primeira pedra», não começariam a tremer todos aqueles que julgam a terra?

Aos fariseus que, para O tentar, Lhe tinham trazido uma mulher surpreendida em adultério […], Jesus disse: «Vós quereis lapidar esta mulher como está prescrito na Lei. Pois bem, que aquele de vós que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra». Enquanto O questionavam, escrevia na terra, para «instruir a terra»; mas, quando lhes deu esta resposta, levantou os olhos, «olhou para a terra e ela estremeceu» [Sl 104 (103),32]. Os fariseus, confusos e a tremer, vão-se embora, um após outro. […]

A pecadora ficou só com o Salvador: a doente com o médico, a grande miséria com a grande misericórdia. Olhando para esta mulher, Jesus diz-lhe: «Ninguém te condenou? „Ninguém Senhor» […] Mas ela permanece diante de um juiz que não tem pecado. «Ninguém te condenou? „Ninguém Senhor, e, se Tu próprio não me condenares, estou em segurança». Silenciosamente, o Senhor responde a esta inquietação: «Também Eu não te condeno. […] A voz da consciência impediu os acusadores de te punirem; a misericórdia incita-Me a vir em teu socorro». Meditai nestas verdades e «deixai-vos instruir, juízes da terra».

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 13

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