Beber do Seu cálice para se sentar à Sua direita – São João Crisóstomo

Por intermédio de sua mãe, os filhos de Zebedeu fazem a seu Mestre este pedido, na presença dos companheiros : «Ordena que nos sentemos um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.» (cf. Mc 10,35 ss). […] Cristo apressa-Se a tirá-los das suas ilusões, dizendo-lhes que devem estar prontos a sofrer injúrias, perseguições e mesmo a morte: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber ?» Que ninguém se espante por ver os apóstolos imersos em tão imperfeitas inclinações. Espera que o mistério da cruz seja cumprido, que a força do Espírito Santo lhes tenha sido comunicada. Se queres ver a sua força de alma, observa-os mais tarde, e vê-los-ás superiores a todas as fragilidades humanas. Cristo não lhes esconde as fraquezas, para que tu vejas tudo aquilo em que depois se hão de tornar, pela força da graça que os há de transformar […].

«Não sabeis o que pedis». Não sabeis quão grande é essa honra, quão prodigiosa é. Ficar sentados à Minha direita? Isso ultrapassa os próprios poderes angélicos. «Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Falais-me de tronos e de diademas insignificantes; Eu falo-vos de combates e de sofrimentos. Não é agora que receberei a Minha realeza; não é ainda chegada a hora da glória. Para Mim e para os Meus, o tempo é de violência, de combates e de perigos.

Repara que Ele não lhes pergunta diretamente: «Tereis coragem para derramar o vosso sangue ?» Para os encorajar, propõe-lhes que partilhem o Seu cálice, que vivam em comunhão conSigo […]. Mais tarde verás São João, o mesmo que neste momento deseja obter para si o primeiro lugar, ceder sempre a presidência a São Pedro […]. Quanto a Tiago, o seu apostolado não durará muito tempo. Ardente de fervor, desprezando por completo os interesses meramente humanos, com seu zelo mereceu ser o primeiro mártir de entre os apóstolos (At 12,2).

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia e posteriormente bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, n.º 65, 2-4; PG 58, 619 (cf. Breviário: 25/07)

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