«Ir em paz» – Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

Evangelho de hoje, 02.02.2011 – Lc 2,22-40:

Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor,
conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogênito varão será consagrado ao Senhor»
e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.
Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele.
Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.
Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito.
Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:
«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo,
porque meus olhos viram a Salvação
que ofereceste a todos os povos,
Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.»
Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição;
uma espada transpassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela,
ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações.
Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré.
Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Comentário ao Evangelho do dia feito por
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre o Evangelho de São Lucas, n.º 15 (a partir da trad. SC 87, p. 233, rev.)
 

«Ir em paz»

 
«Uma mulher tocou na orla do manto de Jesus e ficou curada» (Mt 9,20). Se esta mulher, ao tocar a extremidade do Seu manto, daí retirou tantos benefícios, o que dizer de Simeão, que «O tomou nos braços» e, tomando-O, deu largas à sua alegria vendo que segurava a criança vinda ao mundo para libertar os cativos (Lc 4,18) e que ele próprio se veria em breve liberto dos laços do corpo? Simeão sabia que ninguém podia fazer sair fosse quem fosse da prisão do corpo com os olhos postos na vida futura a não ser Aquele que segurava nos seus braços. E assim se dirige a Ele: «Agora, Senhor, deixarás ir em paz o Teu servo, porque todo o tempo que não tive a Cristo, todo o tempo que O não apertei nos meus braços, estive prisioneiro e não pude sair desses laços».

De resto, não é só acerca de Simeão, mas de todo o gênero humano, que temos de entender estas palavras. Se alguém deixa este mundo, se alguém se liberta desta prisão e desta morada de cativos para alcançar a realeza, que pegue em Jesus com as suas mãos e O aconchegue nos seus braços, que O tenha todo junto ao coração e assim, doido de alegria, se dirija aonde quiser.

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