Sessenta anos se passaram desde o dia em que, na Capela São João Batista, Pinhalzinho, hoje município de Mirim Doce, SC, fiz a minha Primeira Comunhão.
Depois de um ano de Catequese – naqueles tempos dizía-se “doutrina” -, realizada antes das rezas de Domingo de manhã, na escola anexa à igreja. Nos dias mais próximos da data nos reuníamos com mais frequência para os preparativos mais imediatos. A cerimônia era preparada cuidadosamente.
Lembro-me bem da catequista, Ir. Hermenegilda Crestani, da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas. De porte altivo, elegantes, hábito preto e “babado” branco, com voz firme e aveludada, comandava realmente as quarenta crianças.
Lembro-me muito vivamente da primeira confissão. O “padre barbudo” e com fama de “brabo”, Pe. Eduardo Summermatter, atrás do altar, esperava por cada um e cada uma para perdoar os pecados. Mas para mim não era só isso. Havia toda uma mística que circundava a confissão. Primeiro, um rigoroso roteiro: exame de consciência, arrependimento, acusação dos pecados, penitência e absolvição.
No caminho do banco até o sacerdote, escondido atrás do altar, havia três poças de água benta “para espantar o demônio”. E se passava um após o outro, atrás do colega da frente. Mas não se prestava muito a atenção a esta estratégia porque o medo, a insegurança/tremedeira era forte. “E se a gente esquecesse as palavras de fórmula aprendida para confessar-se”? “E se o padre desse uma bronca”. Penso que só o enfrentamento dessas verdadeiras angústias já perdoava todos e qualquer pecado! Enfim, não me lembro se segui muito fiel ao roteiro do encontro. Mas lembro bem que o padre me deu a abolvição e a penitência, isto é, uma oração que se rezava sozinho, de retorno ao banco.
Do dia a Primeira Eucaristia, lembro bem do conselho dado e repetido pela Ir. Hermenegilda. Recebida a hóstia consagrada e de volta ao banco, ajoelhados, deveríamos fazer a “ação de graças”. Desse momento, deveria fazer parte um pedido a Jesus: a sua graça para seguir o caminho de vida que se desejasse. Eu não tive dúvidas: pedi para ser padre.
Na verdade, o Pe. Eduardo, de “aranha” (chamada também de charrete) estivera visitando a escola da Volta Grande, onde eu frequentava as aulas. Lá, a certa altura da visita, este sacerdote perguntou: “quem de vocês pensa em ser padre?” Eu fui um dos que levantara o braço, me apresentando para o convite. Anteriormente, ficava encantado com a “doutrina” que ministrava para as crianças o tio Henrique, já de batina, na caminhada para o sacerdócio. E essas catequeses eram marcadas por muita alegria e vivacidade.
Assim, vejo hoje uma sequência de elementos que me levaram a este pedido a Jesus,sugerido pela catequista, logo após ter recebido a sagrada Comunhão.
Sessenta anos se passaram daquela inesquecível data. Desses, quarenta e dois anos vivo a missão sacerdotal. Motivo de imensa ação de graças ao amor de Deus que me acompanhou, principalmente nos momentos de provação. Eles não foram tão pequenos, mas reconheço que procurei fazer a minha parte, e continuo na caminhada. Lógico, preciso dizer que foi a graça divina que me sustentou!
Realmente, quando Deus chama, ele dá a graça da fidelidade e da perseverança. Isso, porém, parece até bastar para seguir em frente. Mas Ele não dispensa a colaboração pessoal e até mesmo a liberdade da pessoa. Assim foi com Maria! A sua disponibilidade foi a “matéria prima”, pode-se assim dizer, para que o plano da salvação se realizasse.
Essa disponibilidade não se pronuncia uma vez só. Cada dia é preciso pronunciá-la de novo, pois essa luta não tem trégua. Vencida uma batalha, o soldado deve estar já entrincheirado, vigilante, para a próxima luta.
Sei que muitas pessoas rezaram e rezam por mim, inclusive muitas que já partiram para a eternidade, de onde certamente continuam sua intercessão. Obrigado a todos e todas! Certamente a recompensa deles e delas não será pequena!