A TRANSFIGURAÇÃO É UMA VISÃO DO CÉU!- Comentário ao Evangelho do 18ºDomingo do Tempo Comum, elaborado pelo biblista Pe. Osmar Debatin, da Diocese de Rio do Sul, SC

(Dn 7, 9-14; Sl 96; 2 Pd 1, 16-19; Mt 17, 1-9)

Celebramos neste final de semana a festa da transfiguração do Senhor. Jesus se manifesta aos discípulos no Monte Tabor, em todo o esplendor da divindade, antecipando a glória da Ressurreição. O Pai revela a identidade de Jesus: Ele é o Filho amado de Deus. Somos convidados não somente a contemplar a face luminosa do Mestre, mas também ESCUTAR A SUA VOZ e seguir seus passos Por isso, a liturgia deste final de semana é permeada por imagens muito expressivas e simbólicas. Falar de transfiguração nos dias de hoje sugere um grande desafio, pois experimentamos a nossa volta um mundo que vai se desfigurando: desde o ponto de vista ecológico, econômico, político e até humano. Há “infelizmente” bem mais razões de “desfiguração” do que sinais transfigurados. O desafio talvez esteja exatamente neste ponto: Como encontrar novamente os vestígios que a transfiguração do Senhor deixa a nossa volta? Como não se deixar aniquilar ou desesperar com as feridas da desfiguração em nosso no tempo?

O primeiro sinal de transfiguração que podemos encontrar está nos sentidos, mais precisamente, no escutar: Temos “ouvido”, muitas ideias, muitas informações e notícias que trazem a imagem de um mundo desfigurado, de um tempo sem saídas e esperanças. E de tanto “dar ouvidos” a essas más notícias que nos absorvem, nossa confiança sente-se esmorecida e fragilizada. Claro que não dá para “fechar os ouvidos” a tantas informações que nos chegam, mas é preciso discernir melhor e sintonizar novamente nossa escuta em direção ao Filho. No alto do Tabor após Pedro, Tiago e João terem feito a memorável experiência da transfiguração do Senhor, ante a sombra da nuvem que os encobria e os amedrontava, a voz do Senhor os exorta: “ Este é meu Filho amado, no qual pus todo meu agrado. Escutai-o (…) Jesus se aproximou e tocou neles e disse: Levantai-vos e não tenhais medo” (Mt 17, 5-7).

Um outro sentido que nos desafia a encontrarmos os “vestígios” da transfiguração está na visão e por consequência na memória: Pode até parecer contradição, pois sabemos que a sociedade da imagem em que vivemos, tem posto diante de nossos olhos um espetáculo de horrores. Mas o que vale para a “escuta”, vale também para a “visão”. Ela também precisa ser recuperada, elevada, purificada. No Evangelho deste domingo Jesus tomou consigo seus três discípulos e os conduziu “a um lugar a parte sobre uma alta montanha” (Mt 17,1). Muitas vezes se faz necessário “sair e subir” para ver melhor, com mais amplitude, com mais serenidade a realidade que nos cerca. Lá no alto a experiência de Pedro e seus companheiros foi tremenda e inesquecível: “ E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas com a luz” (Mt 17,2) e ainda, “ mas sim por termos sido testemunhas oculares de sua majestade (…) quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia; Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem querer. Esta voz, nós a ouvimos do céu, quando estávamos com ele no monte santo” (2Pd 1,17-18). Esta foi uma experiência da visão e da memória, os apóstolos foram testemunhas oculares do mistério da transfiguração do Senhor. E esta visão permaneceu na memória e no coração de Pedro, ao ponto de que aquele registro espiritual, transformou-se em Palavra de Deus para todos nós.

A experiência de transfiguração que somos chamados a fazer tocam nossos sentidos. Também nós somos testemunhas do Senhor em nosso tempo. Acontece que nem sempre vivemos tempos fortes de transfiguração. Muitas vezes estamos com a vida mergulhada em problemas, tribulações e não conseguimos ver mais a luz. Nestas horas é preciso movimentar-se interna e externamente: É preciso fazer como os discípulos, “sair e subir”. Se faz necessário um movimento interno de saída de si: dos laços que nos amarram, dos problemas que nos cercam, de um círculo vicioso que vai roubando de nossa vida a visão da fé, a memória da misericórdia de Deus em nós e a escuta daquela voz que um dia falou ao nosso ouvido: “Este é meu Filho amado, escutai-o”!
Mas se faz necessário “sair e subir”. A experiência que Pedro e seus companheiros fizeram no Tabor, fora também uma experiência de saída e memória.

Assim também se faz o Tabor cotidiano em nós! Ele é sempre uma decisão pelo alto, pela luz que um dia “ que como lâmpada brilha em lugar escuro, até clarear o dia (…) em nossos corações” (2Pd 1,19), de escuta da voz do Filho amado e de memória das misericórdias do Senhor em nossa vida. A Transfiguração é uma meta possível para aquele que escuta Jesus. Transfiguração quer dizer transformação pessoal por meio da conversão, para num segundo momento, caminhar com Cristo até a fascinante aventura da entrega total aos irmãos, especialmente aos mais necessitados. O mundo se transforma quando acolhemos a voz do Pai…

 

Fonte: Site da Diocese de Rio do Sul

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