João Batista, mártir da verdade – Beato João Paulo II

A Igreja do primeiro milénio nasceu do sangue dos mártires: «sanguis martyrum — semen christianorum» (sangue de mártires, semente de cristãos). Os acontecimentos históricos […] nunca teriam podido garantir um desenvolvimento da Igreja como o que se verificou no primeiro milênio, se não tivesse havido aquela sementeira de mártires e aquele patrimônio de santidade que caracterizaram as primeiras gerações cristãs. No final do segundo milênio, a Igreja tornou-se novamente Igreja de mártires. As perseguições contra os crentes — sacerdotes, religiosos e leigos — realizaram uma grande sementeira de mártires em várias partes do mundo. O seu testemunho, dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se patrimônio comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes, como ressaltava já Paulo VI. […] É um testemunho que não se pode esquecer.

No nosso século, voltaram os mártires, muitas vezes desconhecidos, como que «soldados desconhecidos» da grande causa de Deus. Tanto quanto seja possível, não se devem deixar perder na Igreja os seus testemunhos. […] Impõe-se que as Igrejas locais tudo façam para não deixar perecer a memória daqueles que sofreram o martírio, recolhendo a necessária documentação.

Isso não poderá deixar de ter uma dimensão e uma eloquência ecumênica. O ecumenismo dos santos, dos mártires, é talvez o mais persuasivo. A «communio sanctorum», a comunhão dos santos, fala com voz mais alta que os fatores de divisão. […] A maior homenagem que todas as Igrejas prestarão a Cristo no limiar do terceiro milênio será a demonstração da presença onipotente do Redentor, mediante os frutos de fé, esperança e caridade em homens e mulheres de tantas línguas e raças, que seguiram Cristo nas várias formas da vocação cristã.

Beato João Paulo II
Carta apostólica «Tertio Millenio adveniente», 37

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