Combinados, o profeta Natan e Betsabé defenderam o seu projeto perante o velho e sábio rei Davi, que estava a morrer (1Rs 1). Foi então que Salomão, cujo nome significa «senhor pacífico» recebeu a unção real. E toda a gente foi atrás dele a tocar flauta e a fazer uma grande festa, de modo que toda a terra vibrava com as suas aclamações, pois o rei havia declarado: «Estabeleço Salomão como rei de Israel e de Judá» (v. 35.40). Esta entronização prefigura sem dúvida alguma o mistério de que Daniel falava: «O tribunal realizou sessão e foram abertos os livros. Vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um Filho do homem. Avançou até ao ancião, diante do qual o conduziram. Foram-lhe dadas soberanias, glória e realeza» (Dn 7,10-14).
Foi, pois, por iniciativa de um profeta que Salomão foi estabelecido como rei, tal como foi ao cumprir as profecias no seu sentido espiritual que Cristo, Filho de Deus, foi reconhecido como Rei pacífico, Rei da glória do Pai, atraindo tudo a Si. Salomão tornou-se rei ainda em vida de seu pai, tal como Cristo foi estabelecido rei por Deus Pai, que não pode morrer. Sim, Ele fá-l’O certamente rei, «herdeiro de todas as coisas» (Hb 1,2), Aquele que não morre nem morrerá nunca. E, coisa admirável e única, Cristo, herdeiro de um Pai sempre vivo e que nunca poderá morrer, morreu; mas ressuscitou e nunca mais conhecerá a morte.
Então Salomão foi sentado na mula do rei (1Rs 1,38). Bem melhor, é no trono de seu Pai, isto é, sobre toda a Igreja […], «acima de todo o Principado, Potestade, Virtude e Dominação» (Ef 1,21), que Cristo está agora sentado «à direita da Majestade nos céus» (Hb 1,3). Eis porque toda a multidão vai atrás d’Ele, a multidão que canta e se alegra. E a terra vibra com as suas aclamações. Também nós ouvimos a enorme alegria daqueles que proclamam esta glória, ou seja, a alegria dos apóstolos falando as línguas de todos (At 2) pois «por toda a terra caminha o Seu eco, até aos confins do universo a Sua palavra» (Sl 18,5).
Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino
Da Trindade e Suas obras, 42, 4; PL 167, 1130