Anna Faure, caridade mariana -Pe. Raul Kestring

Crédito da imagem: Vatican News

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Recebi, há poucos instantes, a notícia do falecimento da Sra. Anna Faure. Seu velório está marcado para iniciar às 12h30 desta quarta-feira, 04 de setembro de 2024, no Cemitério São José, onde será sepultada às 17h. Anna acompanhou Pe. Miguel Rossetto (in memoriam) por muitos anos. De origem italiana, como o mesmo sacerdote, prestou-lhe a solidariedade de verdadeira e querida irmã sanguínea. Pela última vez neste mundo, eu a vi na Casa de Convivência de Idosos Santa Ana, no bairro Garcia, Blumenau. Recebendo, ali, todos os cuidados do Pe. Lauro Mittelmann, Ecônomo da nossa Diocese, e das solícitas Irmãs Elisabetinas, responsáveis pelo ancionato, teve o agradecido consolo nas limitações da sua avançada idade. Lúcida e atenciosa para com todos até o fim, nunca vou esquecer aquele derradeiro encontro.

“Caridade mariana”, sim, esse qualificativo veio-me à mente ao recordar as visitas que fiz ao Pe. Miguel. Apressava-se sempre para servir seu cafezinho com deliciosos doces italianos. Respirava-se naquela casa algo da casa de Nazaré. De simplicidade, harmonia e alegria fraterna, assim era aquela moradia. Situada à Rua Adolfo Kolping, no bairro Garcia, até na sua área externa, contemplava-se vigorosas e altas árvores, sempre bem aparadas pelo Pe. Miguel, destacado amante da natureza. Anna, enquanto suas forças puderam, cercava de flores o entorno daquele lar. A propriedade irmanava-se à sede da Comunidade Kolping, ali, do outro lado da mesma rua.

Pe. Miguel fundou a Comunidade Kolping em Blumenau. Acreditava na encarnada espiritualidade do Pe. Adolfo Kolping. Sacerdote alemão, Pe. Kolping, como é mais conhecido, em meados do século 19, início da era industrial, reunia jovens para qualifica-los com formação cristã e com uma profissão. Assim, saídos do artesanato familiar, não caíam nas corruptas propostas da grande cidade. Ganhavam um elevado ideal, a santidade e o protagonismo de uma nova sociedade. Anna apoiava e animava esse resgate da dignidade humana e social.

Anna ainda faz-me recordar com imensa gratidão as solidárias mulheres que, em meus quarenta e sete, quase quarenta e oito, anos de ministério sacerdotal, foram autênticas “marias” na casa paroquial. A exemplo da padroeira das auxiliares domésticas, Santa Zita, também italiana, viveu no século 13. De família pobre, numerosa e camponesa, aos 12 anos foi trabalhar numa casa de outra família. Seus patrões não costumavam tratar bem os seus criados. Sofreu muito, mas aguentou tudo seguindo uma vida de oração e humildade, rezando e praticando a caridade. O Papa Pio XII a proclamou padroeira das empregadas domésticas.

Um fato interessante é relatado na trajetória de Santa Zita. Na véspera do Natal, à entrada da igreja de São Frediano, ela encontrou um homem na rua com frio. Para aquecê-lo, pegou um manto caro emprestado do seu patrão. No dia seguinte, foi recriminada por tal ato. Mas, nesse mesmo dia, um idoso desconhecido chegou ao povoado e devolveu o manto. Todos os cidadãos atribuíram essa atitude a um anjo. A partir de então, a porta da famosa igreja ficou conhecida como a “Porta do Anjo”.

Anna Faure, obrigado por seu importante serviço prestado não só ao Pe. Miguel. Tantos padres, bispos, receberam a sua feminina e atenciosa acolhida. A Igreja edifica-se com tantas, tantas marias que, longe dos holofotes e dos jornais, às vezes em situações desafiadoras, vivem, de mil e uma formas, a fidelidade a Cristo na oração e na ação.

No ano jubilar da nossa Diocese de Blumenau, não nos omitamos de, sinceramente, agradecer às dedicadas e humildes servidoras das nossas paróquias e comunidades.

Inesquecível mulher, a mãe de Jesus e Santa Zita te dêem, no paraíso, o abraço das boas-vindas!

Pe. Raul Kestring – Blumenau, 04 de setembro de 2024

 

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