«Porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos»
Meus irmãos, Simeão tem nas mãos um círio aceso. Acendei também, nesta luminária, os vossos círios, lâmpadas que o Senhor vos ordena que segureis, acesas, em vossas mãos (Lc 12,35). «Aqueles que O contemplam ficam iluminados» (Sl 33,6); aproximai-vos pois, de maneira a não serdes meros portadores de velas, mas luzes que brilham no interior e no exterior, para vós mesmos e para o próximo.
Que haja portanto uma vela acesa no vosso coração, na vossa mão, na vossa boca! Que a lâmpada que tendes no coração brilhe para vós mesmos, que a lâmpada que tendes na mão e na boca brilhe para o vosso próximo. A lâmpada que tendes no coração é a devoção inspirada pela fé; a lâmpada que tendes na mão, o exemplo das boas obras; a lâmpada que tendes na boca, a palavra que edifica.
Porque não devemos contentar-nos em ser luzes aos olhos dos homens pelos nossos atos e as nossas palavras; é preciso também que brilhemos diante dos anjos, com a oração, e diante de Deus, com as nossas intenções. A nossa lâmpada diante dos anjos é a pureza da devoção, que nos faz cantar com recolhimento e rezar com fervor na sua presença. A nossa lâmpada diante de Deus é a resolução sincera de agradar unicamente Àquele diante de quem encontramos graça […]
Assim, a fim de acendermos todas estas lâmpadas, deixai-vos iluminar, irmãos, aproximando-vos da fonte da luz, Jesus, que brilha nas mãos de Simeão. Ele quer, seguramente, iluminar a vossa fé, fazer resplandecer as vossas obras, inspirar-vos palavras para dizerdes aos homens, encher-vos de fervor na oração e purificar as vossas intenções […]. E, quando a lâmpada desta vida se extinguir […], vereis a luz da vida que não se extingue levantar-se e elevar-se na noite com o esplendor da luz do meio-dia.
Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157)
abade cisterciense
1.º Sermão para a festa da Purificação da Virgem Maria, 2.3.5 ; PL 185, 64-65