APRESENTAÇÃO
“O cuidado surge somente quando algo tem importância para mim” (Leonardo Boff)
É com esta inspiração que apresentamos o Texto-Base da 22ª Romaria da Terra e da Água de Santa Catarina.
Esta Romaria, com o tema: Mudanças Climáticas e com o lema: “Deus criou… e tudo era muito bom” (Gn 1,31) quer, como todas as outras, nos chamar a atenção para a arte do CUIDADO. O Planeta, nossa casa comum, é o único lugar que temos para morar. Cuidar desta casa é reconhecer a importância de toda criação. “Todo ser que vive merece viver” (L. Boff). Por isso, cuidamos do planeta, não porque o ser humano precisa dele para viver, mas porque toda criação, todas as formas de vida, têm direito de viver dignamente.
“Toda criação geme em dores de parto”. Do ventre da Terra vêm os gritos de susto pela destruição. Das entranhas da humanidade saem gritos de dor. Saem também gritos de esperança. Dores de parto anunciam sinais de vida. Escutar os gritos da Terra e das filhas e filhos da Terra nos faz dizer, como o poeta: “Há que se cuidar da vida”!
O poema da criação contado e cantado no livro de Gênesis, diz que Deus criou este mundo-jardim e viu que tudo era muito bom. Deus cria e contempla sua obra de arte. Admira-se! Alegra-se ao ver tanta beleza. O Grande Jardineiro entrega esse jardim à humanidade, sem escritura, mas com um pedido: “CUIDAI”. Desastrosamente esse verbo foi traduzido por “dominai” e, com isso, o jardim foi virando vale de lágrimas.
Estamos num tempo em que ocorrem mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global do planeta, resultado de várias ações humanas e opções políticas de devastação da natureza e do consumo desenfreado.
As mudanças climáticas tornam-se, cada vez mais, uma grave ameaça para todas as formas de vida do planeta, especialmente das populações mais empobrecidas. Percebemos muitas tragédias acontecendo no mundo inteiro.Em Santa Catarina, já vivemos vários desastres ambientais: secas, enchentes, vendavais, furacão, ciclone, tornado. São fenômenos da natureza, influenciados pela intervenção humana.
A 22ª Romaria da Terra e da Água/SC é uma das vozes da profecia, denunciando todas as formas de destruição do planeta e anunciando a possibilidade de desenvolver a ética do cuidado e salvar as vidas ameaçadas.
O presente Texto-Base é um instrumento de estudo e preparação para a Romaria. Está organizado em quatro partes: 1. VER: apresentando informações sobre o local da Romaria e sobre a questão das mudanças climáticas; 2. JULGAR: iluminando essa realidade a partir da Bíblia e de nossa fé no Deus da vida; 3. AGIR: convidando para práticas concretas. Além dessas três partes, apresenta ainda uma quarta parte, contendo um texto sobre as Tendas, como inspiração Bíblica da organização da Romaria; apresenta uma celebração de envio dos Romeiros e Romeiras e também algumas orientações gerais e a oração da 22ª Romaria.
Que esta Romaria fortaleça a nossa profecia, na denúncia de tudo o que fere a vida da terra e das filhas e filhos da terra; fortaleça o anúncio de uma terra sem males, onde a vida tem sempre a última palavra.
Que sejamos artistas da recriação da vida, desenhando com práticas concretas, um outro mundo possível. DEUS CRIOU… TUDO ERA MUITO BOM!
Equipe de coordenação da 22ª Romaria da Terra e da Água/SC
Florianópolis, março de 2011.
Primeira parte
VER
Introdução
A Campanha da Fraternidade deste ano convocou as cristãs e cristãos para refletir sobre Fraternidade e Vida no Planeta, com o lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). O tempo da quaresma nos chama à conversão. Os gritos de dor que saem do ventre da Terra são convites à constante conversão.
A 22ª Romaria da Terra e da Água quer dar continuidade a esse debate e por isso indicou a questão das Mudanças Climáticas como tema.
O local escolhido para acolher a Romaria é um dos espaços que faz memória da luta pela terra. Irani, no Meio Oeste de Santa Catarina, foi palco do primeiro combate da Guerra do Contestado, que celebra, em 2012, o centenário de seu início.
Veremos a seguir, um breve histórico de Irani e depois vamos nos ater às questões das Mudanças Climáticas, tema da 22ª Romaria da Terra e da Água/SC.
1 Sítio Histórico do Contestado – Local da Romaria
O município de Irani localiza-se no Meio Oeste Catarinense, na Região do Contestado, às margens da BR153, Km64, na Diocese de Joaçaba.
O significado do nome Irani é originário do rio que banha o município e que na língua tupi-guarani, significa mel envelhecido, ou ainda, pode ser conhecido como Abelha Enfurecida (IRA=mel + NHI=envelhecer/envelhecido). Com isso, o nome Irani tem relação com a beleza da fauna, da flora, com o remédio, o alimento e a vida e com os povos originários. Este nome aponta que esta região era habitada pelos povos indígenas Kaingangs e Guaranis. A região, conhecida pela riqueza das florestas, principalmente, pinheirais, onde, para os primitivos habitantes da região e também para os sertanejos, que posteriormente habitaram estas terras, a floresta representava a sobrevivência.
As terras pertencentes ao município de Irani inicialmente foram colonizadas, principalmente, por fazendeiros paulistas e colonos vindos do norte do Rio Grande do Sul. Na época da chegada dos primeiros colonos, as terras pertenciam ao município de Palmas, Estado do Paraná, fazendo parte de uma extensa área de terra à margem direita do Rio do Peixe. Essas terras eram desejadas pelos Estados do Paraná e de Santa Catarina, bem como pela Argentina. A pretensão da Argentina ficou conhecida como “Questão de Palmas” ou “Questão das Missões” e foi resolvida em 1910. Porém, a disputa entre os dois estados, conhecida como “Contestado”, persistiu por mais anos.
Porém, as verdadeiras causas da Guerra não estão nas disputas para a definição dos limites territoriais. Estes não foram os motivos principais da Guerra. É praticamente um consenso entre os historiadores e estudiosos que o motivo principal foi a “expulsão” dos caboclos de suas terras. Esta expulsão se deu como uma das principais consequências das atividades econômicas promovidas pela grande empresa estrangeira, ligadas à extração madeireira e a construção da ferrovia, com apoio do Estado brasileiro. Também se juntaram ao lado dos caboclos, os ex-operários da construção da estrada de ferro e os dispensados ou fugitivos das serrarias existentes. Com apoio e aprovação do Estado, as empresas se instalaram e se apropriaram das terras e das riquezas naturais. Politicamente, na região imperavam práticas sociais e políticas conhecidas como “mandonismo”, “coronelismo”, voto de “cabresto”. O “sistema de compadrio” foi permeando as relações de dominação de classe e a cultura política da época.
Na época, a empresa Brazil Railway Company adquiriu o controle acionário da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. Esta poderosa companhia norte-americana, além de controlar ferrovias, controlava também portos, indústrias, empresas pecuárias, madeireiras e de colonização. Após a construção da ferrovia, a empresa investiu pesado na região.
Segundo o professor Delmir Valentini, “no final da construção encontravam-se na região, aproximadamente 8.000 trabalhadores. Com o término do serviço estes não foram levados de volta conforme prometido e ficaram na região às margens da ferrovia”.
Além das terras adquiridas, a empresa contava com uma concessão feita pelo governo brasileiro de uma grande área localizada nas margens da ferrovia (15 kmde cada lado). Embora existissem áreas consideradas devolutas, existiam moradores estabelecidos de longa data. Nestes casos, os camponeses que não haviam formalizado a posse, eram desalojados sumariamente, isto constituía a maioria. Expulsos os “brasileiros”, abriam-se espaços para a empresa estrangeira explorar a madeira e colonizar as terras. “Em 40 anos de atividades da Lumber, desapareceram, aproximadamente, quinze milhões de araucárias das florestas brasileiras”.
Tudo isso gerou a indignação destes caboclos[1], camponeses e empobrecidos, resultando em revoltas e na organização dos redutos ou “cidades santas”. O primeiro combate do Contestado, “O Combate do Irani”, ocorreu no dia 22 de outubro de 1912, onde morreu o líder José Maria, e militares do Paraná. Foi considerada a primeira vitória dos caboclos na Guerra.
Durante este período os caboclos desenvolveram formas e princípios coletivos na produção para sua sobrevivência. Uma dessas formas coletivas desenvolvidas pelos caboclos era “o ajutório”, também conhecido por “pixurum” onde vinte ou trinta pessoas se ajuntavam animados pelo espírito da cooperação e faziam trabalhos na roça em forma de mutirão. Nos redutos a ideia é que todos pudessem ganhar o alimento e repartir, principalmente com os velhos, as crianças. Esta experiência de solidariedade e partilha, de luta e de fé, tornou-se um dos traços culturais da resistência ao mundo da ganância. No reduto, os que tinham, deveriam auxiliar os que não tinham. Os que não queriam eram presos e o que eles tinham era repartido.
Importante ressaltar os Monges João Maria de Agostinho, João Maria de Jesus, José Maria e a Virgem Maria Rosa como presença de fé junto aos caboclos nestes tempos de duras lutas. Essas pessoas eram animadoras, orientadoras e provocadoras de práticas de partilha. Foram sustentáculos dos pobres, alimentando a luta através da fé, da oração, das devoções populares, convidando o povo para rezar contra a fome, a peste e a guerra. Por isso João Maria é reconhecido pelo povo caboclo como “São João Maria” e, ainda hoje são encontradas fontes de água que ele abençoava e a cruz de cedro nos lugares por onde ele passou.
Após o término do conflito houve uma dispersão e um sentimento de frustração e vazio de perspectivas. As experiências coletivas foram profundamente atingidas, com a entrada do capital estrangeiro e as formas europeias trazidas pelos imigrantes. No período após a Guerra, a região é ocupada por descendentes europeus. Estes compram terras de empresas colonizadoras, novamente sob o aval e patrocínio do Estado.
Passa-se a uma nova forma de desenvolvimento estruturando-se em pequenas propriedades ou minifúndios. Assim, a estrutura fundiária da região, a partir desses anos, passa a conviver com dois modelos: de um lado, grandes latifúndios e, de outro, minifúndios, de propriedade familiar
Este paradoxo foi a marca principal do desenvolvimento nesta região também nos anos1950 a1970, onde se destaca a produção de trigo, milho e feijão. Estas atividades inicialmente de subsistência serviram de base para o desenvolvimento capitalista se transformar posteriormenteem agronegócio. Aextração e a comercialização da madeira marcam o início das atividades industriais e da acumulação de capital na região.
No final da década de 1970 e início de 1980 ocorrem novas e significativas mudanças nesta região com avanço e crescimento das agroindústrias e influências das políticas dos governos militares. Esta crise instiga os pequenos agricultores a abandonar o campo. Embora permaneçam fortemente traços do perfil agrícola da região, houve então, um grande êxodo rural neste período, como aconteceu em todo o país, resultado das políticas agrícolas adotadas pelos governos militares brasileiros e pela crise do capital externo. Na região a pequena propriedade vai se tornando um complemento do sistema subordinando-se ao grande capital agroindustrial.
Nos anos 1990 com o advento neoliberal no país, as empresas também passaram pela re-estruturação produtiva e patrimonial fortalecendo o agronegócio na região do Contestado.
Portanto, esta região vem se caracterizando pela predominância da agricultura familiar de um lado e, por outro, pelos grandes complexos agroindustriais, comandados pelo capital. Hoje as principais atividades econômicas desenvolvidas são as de criação de suínos e aves, cultivo de fumo, derivados de leite etc., predominantemente ligadas ao sistema de integração das empresas do agronegócio na região ou fora dela. Há o cultivo de maçã e outras frutas na região com formas de produção diferenciadas, com alto índice de ocupação de mão de obra nos meses de janeiro a maio. Nos maiores centros urbanos há também as indústrias de transformação ligadas à produção de móveis, portas, janelas, plástico, alimentação, papel e celulose, mecânica. De modo geral estas grandes empresas produzem para exportação.
Finalmente, destaca-se que, apesar da abundância de água e mesmo de terras, a problemática ambiental está presente, especialmente pelo modelo de produção agrícola adotado, com uma grande produção de animais (suínos, bovinos e aves), associada à substituição da vegetação nativa pelo florestamento com espécies exóticas (pinus e eucalipto). Portanto, conforme pode ser observado, a questão ambiental é preocupante. Isso tem sido demonstrado pela própria natureza, nas inúmeras vezes que o município foi acometido por estiagens prolongadas ou chuvas em demasia, além de outros fenômenos naturais, que o levou a decretar situação de emergência. A natureza está alertando. A sociedade precisa estar atenta para os sinais.
É nas proximidades do local onde ocorreu “O Combate do Irani” que será realizada a 22ª Romaria da Terra e da Água, às Margens da BR153, Km64, local conhecido como Sítio Histórico do Contestado ou Banhado Grande.
2 Mudanças climáticas
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
(Artigo 225 – Constituição Federal 1988)
“Precisamos repensar quem somos,
o que queremos e aonde vamos”
(Adolfo Pérez Esquivel[2])
Antes de falar de Mudanças Climáticas, aquecimento global, efeito estufa, é preciso falar de ambiente. É preciso restabelecer o equilíbrio entre o homem e a mãe natureza. Não somos todo, somos parte do meio ambiente.
O que caracteriza, qualifica e diferencia uma sociedade, uma instituição ou uma pessoa de outra, são as relações entre si, com os outros e com a natureza. Essas relações podem ser de cuidado, de acolhida, de cooperação, de inclusão, de respeito… Também podem ser de domínio, de discriminação, de competição, de exploração/exclusão… É o “USO” respeitoso ou danoso do homem pelo homem frente à natureza. O ser humano torna-se co-criador, ou destruidor responsável pelo que faz e respondendo pelos seus atos.
É necessário conhecer e analisar os mais diversos tipos de eventos extremos que são frequentes na região e que têm gerado impactos significativos sobre a sociedade local e a discussão da dinâmica climática ao longo das últimas décadas contextualizando-a com as mudanças climáticas, sócio-econômicas, ambientais e tecnológicas.
Diante deste contexto, o grande desafio é sermos sensíveis à realidade das mudanças no clima do planeta e das suas consequências para a comunidade humana. Sabemos que as mudanças sempre existiram, mas com a ação humana acelerou e ganhou ritmo que coloca em risco a vida do Planeta.
2.1 A atividade humana
O modelo de sociedade capitalista baseado no princípio da “Propriedade Privada”, ao invés de dar segurança ao cidadão, na prática serviu e serve para legitimar o acúmulo de alguns, em detrimento da maioria sem nada. As populações originárias são expropriadas de suas terras pela grilagem que, desde o processo latifundiário das “Capitanias Hereditárias” brasileiras, continua até os dias de hoje, como por exemplo, os atingidos pelas barragens, pescadores artesanais, extrativistas, pequenos agricultores, criando uma leva de sem terra. Com a posse da terra veio a privatização dos frutos da terra, das suas riquezas, da sua biodiversidade, da força do trabalho. As coisas e as pessoas passaram a ser valoradas, em vez de valorizadas.
Com a revolução industrial, a mecanização agrícola, os grandes inventos da ciência e da tecnologia nas mais diversas áreas, obedecem à lógica do mercado tornando-se mais um instrumento de dominação, de acumulação e de exploração das pessoas e da própria natureza (direitos autorais, lei de patentes, direito de exploração do subsolo…).
Esse sistema, conhecido como capitalismo, estruturou-se para garantir a sua perpetuação, pela democracia burguesa (não participativa); o sistema de ensino; os exércitos e polícias; o sistema judiciário; o sistema comercial e financeiro; os meios de comunicação de massa; o modelo de comércio e consumo mundial; a monocultura de exportação (individualista, consumista, depredatória…) ganha força na “nova” sociedade neoliberal. Aqui a superexploração dos recursos naturais, renováveis e não renováveis, necessários para atender a demanda desse modelo de sociedade consumista, extrapolou a capacidade do planeta em mais de 30%, e continua avançando cada vez mais.
O desenvolvimento econômico alcançado com a industrialização foi possibilitado por matrizes energéticas de fontes renováveis e não renováveis – baseado na queima de combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo para indústrias e veículos). Somado a este fator temos as monoculturas extensivas (soja, cana-de-açúcar, pinus, eucalipto…) e a pecuária, desenvolvidas a partir de grandes desmatamentos, queimadas e uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos, que emitem insuportáveis quantidades de gases que estão provocando o aquecimento global em níveis alarmantes. Temos também o comprometimento da qualidade das águas, dos solos e subsolo, e da sobrevivência de inúmeras espécies animais e florestais. O organismo vivo ‘terra’ está com febre, indício de uma doença muito grave.
O consumismo exacerbado, o desperdício, a ostentação de uns e a miséria de tantos, o modelo de transportes baseado no rodoviário e individual, estão levando o nosso planeta à beira da catástrofe. O alerta está dado pelo aumento da temperatura média da Terra e pelas tragédias ambientais cada vez mais constantes. Esse fato e suas consequências já não podem ser ignorados.
É a partir deste contexto que se acelera o aquecimento global como resultado do efeito estufa[3] que pode ser taxado como o “grande vilão” das mudanças climáticas. Por isso, a temperatura futura do planeta vai depender de nosso modo de produzir, consumir e nosso modo de nos relacionar com a Terra. Até agora, esses diferentes modos foram dando espaço para a implantação do sistema industrial de produção de bens e consumo compulsivo, inclusive de produtos supérfluos intensificando a extração de matérias da natureza ocasionando profundas transformações na face do planeta.
Nos últimos três séculos a população mundial aumentou dez vezes, chegando a 7 bilhões de habitantes, somando com a produção industrial crescendo 40 vezes, mais a demanda energética que cresceu 16 vezes. Tudo isso tem contribuído para a transformação de quase 50% da superfície do planeta, acelerando a emissão de gases contribuindo para o aquecimento global.
Destacamos aqui os principais gases do efeito estufa: monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), Óxido nitroso (N2O), clorofluorcarboneto (CFC´s (CFxClx) – é um composto baseado em carbono que contenha cloro e flúor (CFC), responsável pela redução da camada de ozônio, e antigamente usado como aerossóis e gases para refrigeração. Vejam o quadro abaixo:
Dióxido de Carbono (CO2) | Da decomposição vegetal – desmatamento, respiração de animais, queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural), fabricação de cimento. É responsável por cerca de 64% do efeito estufa. Aumentou sua concentração na atmosfera em 40% após o início da industrialização. | Duração:50 a200 anos |
Metano (CH4) | Produzido nos cultivos agrícolas (campos de arroz), pecuária (pelo gado na ruminação), decomposição orgânica (lixões), natureza (grandes lagos – barragens). Responsável por 19% do efeito estufa. | Duração: 15 anos |
Óxido Nitroso (N2O) | Fertilização do solo e defensivos agrícolas (Monoculturas). Indústria de fertilizante, combustão de petróleo. | Duração: 150 anos |
Clorofluorcarbono (CFC´s (CFxClx) | Plásticos e solvente, sprays, motores de aviões, utilizados na indústria eletrônica, aparelhos de ar condicionado e geladeiras, gases refrigerantes. 15.000 vezes mais nocivo à camada de ozônio do que o dióxido de carbono (CO2). | Duração:50 a1700 anos |
Hexafluoreto de enxofre (SF6) | Equipamentos eletrônicos (é 23.900 vezes mais nocivo para o efeito estufa que o dióxido de carbono). | Duração: 3,2 mil anos |
Hidrofluorcarbonos (HFCs) | Aerossóis, refrigeradores, ar-condicionado. | Duração: 40-250 anos |
Ozônio (O3) | Poluição do solo provocado pelas fábricas, refinarias de petróleo e automóveis. | |
Monóxido de carbono (CO) | Produzido pela queima incompleta de combustíveis fósseis – lenha, carvão vegetal e mineral, gasolina, querosene, óleo diesel, entre outros. |
Aqui podemos afirmar que os principais grupos sociais responsáveis pelo aquecimento global e pela emissão dos mais diferentes gases, não serão necessariamente os mais afetados por suas consequências. Uns poucos se beneficiam do “modelo” de produção e consumo insustentável enquanto outros tantos têm que pagar a conta.
2.2 O “modelo” de produção neodesenvolvimentista
Hoje, é visível que as mudanças climáticas estão em curso: a temperatura está mais elevada, temporais/enchentes por toda a parte, vendavais/tornados, longas estiagens. Essas mudanças são reflexos do processo de industrialização que se intensificou nos últimos dois séculos, relacionadas com as atividades empreendidas pelo ser humano após a implantação do atual sistema de produção “neodesenvolvimentista”. Este desmata e consome 70% da água doce; degrada e contamina lagos e rios, solo e subsolo – devastando os BIOMAS[4].
Aqui o cuidado com o meio ambiente é visto como um empecilho ao crescimento econômico; produz matéria prima para exportação; tem privilégios de governos em políticas de financiamentos; perdão e cancelamento de dívidas (em torno de 10 bilhões, só no Brasil) e infrações dos crimes ambientais; flexibilização do Código Florestal Brasileiro (aumentando a degradação); prioriza a transgenia[5].
Grandes empresas transnacionais, em torno de 500 maiores do planeta, exercem o poder econômico controlando 53% de toda riqueza produzida, empregam apenas 8% da mão-de-obra empregada no mundo. São empresas principalmente ligadas ao agronegócio, como: Monsanto, Syngenta, Bunge, Cargill, Nestlé. São fundamentadas na monocultura, tecnologia, máquinas possantes, fertilizantes, agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas e o mesmo na produção de carnes: manipulação genética, clonagem, utilização de substâncias químicas para engorda precoce etc. São empresas que têm em “suas mãos” os alimentos gerenciados por um mercado denominado commodities não disponibilizando os alimentos para todas as pessoas. São estas as mais responsáveis pela crise climática, ao se apoderarem da natureza, ao utilizarem fontes energéticas poluidoras e ao buscarem apenas o lucro máximo e da forma mais irresponsável possível.
É um “modelo” de desenvolvimento que tem o monopólio do mercado com preços segundo as suas conveniências prejudicando, principalmente os pequenos agricultores. É um mercado “desenhado” para grandes produtores reduzindo o número de empregos, gerando mais pobreza, provocando o êxodo rural aumentando assim a população urbana, a favelização e degradando o meio ambiente.
O diagnóstico já está claro: é impossível a manutenção desta escalada de crescimento e consumo que se globaliza por um mercado que vê unicamente o lucro e não se importa com os famintos. Além disso tudo, estão provocando uma leva de imigração – os denominados migrantes climáticos. A Conferência da ONU[6] (Bonn – Alemanha) de junho 2010 concluiu que: “Hoje temos 50 milhões de migrantes climáticos e em 2050 teremos cerca de 700 milhões”.
Esta realidade continua gerando uma multidão de pessoas famintas no mundo. Há dois tipos de fome: a Quantitativa, ou fome aguda, provocada pela falta total de alimentos e a Qualitativa, ou subnutrição, conhecida como a Fome Oculta, causada pelo consumo insuficiente de nutrientes ou calorias. Por outro lado, a atual produção mundial de alimentos é superior à capacidade de consumo dos seres humanos. Assim, podemos constatar que a fome não resulta de uma baixa produtividade ou de pouca produção de alimentos no mundo.
As questões políticas fundamentais que se colocam no debate sobre a produção de alimentos giram em torno do que, porque, como, por quem e para quem algo é produzido. Desde 1960 aprodução de grãos no mundo aumentou em 40 vezes, em 50 anos. A população mundial cresceu 100%. No entanto, em 1960 havia 80 milhões de pessoas que passavam fome. Em 2010, dados da ONU mostram que há mais de 1,2 bilhão de pessoas que passam fome. E destas, mais de 60% vivem no meio rural. Entretanto, no Brasil, mais de 70% dos alimentos são produzidos pela agricultura familiar camponesa e não pelo agronegócio. Como diz Mahatma Gandhi “O mundo tem recursos suficientes para atender às necessidades de todos, mas não à ambição de todos”.
2.3 A realidade de Santa Catarina
A realidade e as consequências em Santa Catarinanão são diferentes do apresentado até agora. Nos últimos 50 anos, a temperatura de SC subiu entre 1,4ºC e 3,2ºC. A água do Oceano Atlântico evaporou mais rápido e as chuvas estão mais intensas e concentradas, provocando enchentes mais violentas. Com o aumento da temperatura têm aparecido com mais frequência e intensidade os “eventos” climáticos extremosem nosso Estado. Como o furacão Catarina no sul, em 2004; enchentes e deslizamentos no vale do Itajaí e no litoral em novembro e dezembro de 2008, com cento e trinta e cinco óbitos, trinta e dois mil desalojados e desabrigados e um enorme prejuízo material. Em setembro de 2009, vendavais e tornado no extremo oeste e oeste catarinense, atingindo vários municípios sendo Guaraciaba o município mais afetado; as chuvas de granizo são mais frequentes, atingindo vários municípios.
Diante deste contexto podemos destacar que Santa Catarina tem mais de 56% dos municípios com contaminação do solo (IBGE, 2002) e das águas. Problemas no uso/gestão da água: redução da disponibilidade/qualidade; manejo impróprio e conflituoso; contaminação/descontrole sobre águas subterrâneas (perfuração de poços); deficiências dos órgãos estaduais/municipais; gestão compartilhada inoperante; morosidade/insuficiência da estrutura de licenciamento/fiscalização; urbanização crescente e desordenada com pouca infra-estrutura de saneamento – menos de 10% da população tem “coleta/tratamento adequado” de esgoto (saneamento básico), – só ganha do Piauí. Apenas 12% dos 293 municípios possuem rede coletora de esgoto.
Os problemas ambientais associam-se às atividades produtivas predominantes. Veja o mapa quanto à produção, degradação e consequentemente a poluição:
Perda acelerada de remanescentes de floresta nativa (Mata Atlântica), resistência à criação de reservas, Veja o mapa:
O Estado tem dois milhões de hectares de mata preservada = 22% da cobertura original.
Em Santa Catarina foram desmatados27.522 hectaresde vegetação nativa entre os anos de 2005 e 2008. É o Estado que mais desmata.
Quanto às áreas de floresta plantada e áreas cultivadasem Santa Catarina:
Floresta plantada |
Área cultivada |
“Reflorestamento” 691.5 mil ha.
Ocupa 7,27% da área do Estado 90% é pinus e a meta é atingir 12%. É o 2º estado maior produtor. |
Para 50 culturas diferentes entre elas (feijão, arroz, banana, batata inglesa, cebola, mandioca, tomate, trigo, alho, maçã, uva, caqui, laranja, pêssego, tangerina, pêra, melancia, batata doce, batata salsa, batata cará, mais a horticultura e floricultura) em torno de 680 mil ha
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Podemos perguntar: qual é a prioridade que o Estado está assumindo?
Em relação ao nível de poluição dos rios, das águas, a destruição é também visível. Veja o mapa:
O gráfico abaixo é uma amostragem da realidade da poluição no oeste catarinense das nascentes e dos poços tubular profundo, conhecidos como poços artesianos. Apesar desse estudo ter sido realizado em2000 a2003, serve para mostrar a realidade.
2.4 A legislação ambiental e sua importância
Sabemos da importância da conservação da biodiversidade global que compreende os mais diferentes biomas e ecossistemas, ricos em diversidade de vida. No entanto, constituem-se em ambientes vulneráveis às perturbações ambientais e fortemente ameaçados pelas atividades humanas provocando impactos ambientais que comprometem a integridade do sistema. Os dados mostram que os ecossistemas estão sofrendo rápidas modificações e reduções de áreas significativas, devido a atividades feitas pelos seres humanos, das quais se destacam as atividades agrícolas, a pecuária, os aterros, a urbanização, o despejo de lixo e esgoto doméstico.
Aqui é importante destacar a necessidade de Leis Ambientais para regulamentar as atividades técnicas, jurídicas, econômicas e sociais, com responsabilidade de toda a sociedade. Entretanto, estas leis não devem estar a “serviço” ou favorecer um determinado segmento da sociedade, mas ajudar na elaboração de ações, visando a conservação da biodiversidade e da qualidade ambiental pensando nas futuras gerações.
Temos hoje uma série de normas, resoluções, decretos, leis que, de certa forma, buscam proteger o meio ambiente ou regulamentar as mais diferentes atividades. Como lei maior, temos o Código Florestal Brasileiro – Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, que encontra sérias resistências do setor do agronegócio, tanto a nível nacional quantoem nosso Estado.
Esta lei 4.771, dentro de suas funções, limita as áreas de preservação permanente com diferentes faixas de proteção, para diferentes realidades ambientais. Quanto à mata ciliar, que atualmente enfrenta muitos questionamentos, depende da largura do rio. Para nascentes a lei determina 50 metrosde preservação em seu contorno. Para córregos, rios de até 10 metrosde largura são 30 metrosde preservação de cada lado. Rios de 10 a50 metros– 50 metrosde preservação. Rios de 50 a200 metros– 100 metrosde preservação. Rios de 200 a600 metros– 200 metrosde preservação. Rios com largura acima de 600 metros– 500 metrosde preservação. Diante de um Estado com uma geografia e topografia bastante diferenciada, o ideal seria realizar um estudo aprofundado para definir em cada região, qual a metragem mais adequada. Qual o tamanho da área, com o propósito de não diminuir as faixas de floresta em beiras de lagos e rios e em encostas, pois estas servem como corredores de biodiversidade, evitando enchentes, deslizamentos e protegendo a qualidade da água. Para André Muggiati, representante da Campanha Amazônia do Greenpeace na COP16[7] “As alterações no Código Florestal representam um retrocesso em uma das legislações florestais mais avançadas do mundo”.
Exemplo disso foi o Código Ambiental Catarinense que, para conseguir a sua aprovação, o governo estadual e seus aliados na Assembleia Legislativa, fizeram um verdadeiro terrorismo. As audiências públicas tornaram-se palco de manipulação, mobilizando agricultores para defender e aplaudir os interesses dos dominantes. Nem o fato de o nosso Estado conviver com sérios problemas de estiagens, enchentes e desmoronamentos, agravados pelos desmatamentos e ocupações irregulares, e termos praticamente todas as águas de superfície e subterrâneas poluídas, sensibilizou os políticos representantes do latifúndio, do agronegócio e dos grandes empreendimentos imobiliários.
Agora querem reproduzir a mesma estratégia para modificar o Código Florestal Brasileiro, mesmo diante de todos os alertas que a própria natureza esta mostrando. Vemos parte significativa de nossos políticos que, agindo a serviço do latifúndio, do agronegócio e de outros interesses mesquinhos, buscam, sutil e/ou agressivamente, modificações na legislação ambiental brasileira, visando sua flexibilização, não se importando com as suas graves consequências. Para tanto, contam com a falta de informação da maioria da população, com a mídia de massas e seu poder de persuasão, via de regra, a serviço do capital, cooptam associações e sindicatos de trabalhadores e pequenos proprietários rurais.
É possível destacar que há limitações atuais da política ambiental estadual. Há um descompasso entre discurso e prática (“ambiente é importante, mas atrapalha”). Temos órgãos ambientais desaparelhados e pouco atuantes, sobretudo nos municípios com uma contração significativa da estrutura executiva responsável pelo meio ambiente. Falta de funcionários e técnicos. Desequilíbrio na aplicação de recursos públicos: gasta-se dezenas de vezes mais com propaganda do que com ações ambientais efetivas. O Código Ambiental: define medidas menos protetivas e até inconstitucionais (imbróglio institucional, insegurança jurídica, agravamento dos problemas ambientais etc.). É comum encontrarmos especialistas definindo que Santa Catarina foi na contramão da história e aprovou um “código anti-ambiental”. Podemos nos perguntar: o “novo” Código Ambiental Catarinense a quem serve e por quê?
2.5 Outro planeta é possível
Nem tudo é sombra e sofrimento. É possível visualizar alternativas que já são vividas no cotidiano dos povos tradicionais através do uso da medicina alternativa – das ervas medicinais – resgatada pelos movimentos sociais, em especial o Movimento de Mulheres Camponesas. De grande valor é o resgate das sementes crioulas feito pelo Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento de Mulheres Camponesas e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. As festas populares que resgatam elementos culturais em sintonia com a mãe terra, como a festa das sementes crioulas (realizada a cada dois anos em Anchieta – no Oeste), a festa da melancia realizada em vários municípios e assentamentos; a festa da Moranga em Ponte Alta; a festa de produtos da terra feita em vários lugares; a Festa das Tendas, na Diocese de Lages.
O compromisso das Igrejas na luta em favor da vida através das Campanhas da Fraternidade. A inspiração para novas práticas no espírito comunitário, de partilha, de solidariedade. As inúmeras experiências de Economia Solidária espalhadas por todo o Estado. A nova consciência que desperta na Agricultura Familiar, com políticas de convivência e conservação da Mãe Natureza e de cuidado com o planeta. A agroecologia que mostra uma nova dimensão de vida, de saúde, de relacionamento, de respeito tanto com a terra quanto com quem vive dela.
São tantos os sinais que estão mostrando como se deve evitar o Aquecimento Global. No entanto, uma das questões chave do problema é o consumismo. É ele que alimenta essa máquina insana. A humanidade precisa retomar as boas relações com toda a natureza, a exemplo do Criador.
O princípio ético da convivência é o respeito, a equidade e o cuidado para com todas as criaturas. É preciso construir uma nova cultura: diferente e contrária à do consumismo. Consumir segundo a necessidade e não segundo o desejo. Não desperdiçar. Não esbanjar. Consertar e reaproveitar na medida do possível. Evitar o descartável. Cuidar de cada criatura e de toda a natureza. Eis a alternativa para salvarmos o Planeta e a nós mesmos.
Em sintonia e continuidade com a Campanha da Fraternidade 2011, queremos “contribuir para a conscientização das comunidades cristãs e pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visam enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta”.
Santa Catarina precisa realinhar seu rumo e fazer a “tarefa de casa” na construção de estratégias de desenvolvimento mais sustentável com viabilidade econômica, mais equidade social e mais prudência ecológica.
Como diz Leonardo Boff: “A temperatura do planeta vai depender de nossa capacidade de projetar outros modos de ser, de agir, de produzir, de consumir, de nos relacionarmo-nos uns com os outros e com a Terra”.
O grande líder Mahatma Gandhi dizia: “O mundo tem recursos suficientes para atender às necessidades de todos, mas não à ambição de todos. Temos que aprender a viver mais simplesmente! Para que os outros simplesmente possam viver”.
Segunda parte
JULGAR
A vida no planeta depende de nós
Na primeira parte deste texto, pudemos perceber a realidade em que nos encontramos. Estamos numa encruzilhada diante do futuro do nosso planeta: “Coloco diante de ti, a vida e a morte, a maldição e a bênção. Escolhe, pois, a vida.” (cf. Dt 30,19) A vida no planeta depende de nós.
Deus é Criador e Libertador da vida. Estamos vivendo uma crise ecológica e todas as formas de vida correm perigo. Movimentos ecológicos buscam preservar o equilíbrio desfeito pela ação humana. Maior responsabilidade também deve ser a nossa, enquanto cristãos e cristãs, na defesa e preservação da vida em nosso planeta terra, nossa casa comum.
A Bíblia tem a preocupação em revelar um Deus da Vida, com rosto de mãe, que cria a humanidade e a coloca num jardim, bonito e bom para viver. E neste jardim a humanidade recebe a missão do cuidado.
1 A criação: revelação do amor gratuito de Deus
A Bíblia não é um manual sobre a ecologia, mas nos mostra a necessidade de olhar para o cosmos como uma obra divina e que tudo o que Deus fez é bom (Gn 1,31). A criação, o universo, a natureza são obras de Deus e não podemos dispor de forma irresponsável. O livro de Jó faz uma afirmação neste sentido: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei a ele” (Jó 1,21). Se olharmos a realidade, não conseguimos fugir dessa constatação simples: a realidade é comum a todos depois da morte. Viemos ao mundo sem nada e tudo o que fazemos deixamos aqui. Se compararmos o ventre da mãe ao ventre da terra, viemos e voltamos para ela nas mesmas condições.
O cosmos é, então, um lugar para todas as pessoas e não só para algumas. O ser humano está neste mundo como inquilino, administrador e subalterno, que terá que prestar contas de tudo o que faz ou deixa de fazer (Mt 25,1-46). Deus deixou o ser humano com muita autonomia e liberdade, mas também com total responsabilidade: “Podes comer de todas as árvores do jardim, mas não comerás do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, porque no dia em que dela comeres, conhecerás a morte” (Gn 2,17).
A morte não significa que a pessoa deixa de existir, mas nesse caso, a morte significa o pecado, a desobediência a um mandamento comum que origina o mal. De Deus procede o bem, e quem pratica o mal constrói a sua própria ruína, por isso, quando alguém fere a natureza, fere a criação, prejudica seu próximo, nega à geração seguinte os benefícios próprios da natureza, e isso se chama pecado.
O conceito de propriedade, como administração responsável, como tempo de vida inquilina, pode se caracterizar pela atitude responsável de sustentação da vida ou, no lado oposto, pode expressar a ganância, a avidez de lucro e a atividade predatória que se constitui no mal.
A criatura humana, porém, usando do seu livre arbítrio, optou por outro tipo de relações entre si e com as demais criaturas. No lugar do cuidado, do respeito, da cooperação/interação, optou pela competição, pela exploração e pela dominação. A invenção da moeda e o modo equivocado de utilização dos bens da mãe natureza, acelerou a destruição da natureza a ponto de “a criação estar gemendo como que em dores de parto” (Rm 8,22). Desta forma, o ser humano se torna o único que extermina as espécies. Da mesma forma, é o único que produz lixo, que acumula, que explora seus semelhantes.
As primeiras páginas da Bíblia nos apresentam o transbordamento do amor divino por todas as criaturas, até chegar ao ser humano: “E Deus viu o que tinha feito e viu que tudo era muito bom”.
O ser humano é feito do barro, uma condição igual para todos. O barro exige uma reflexão profunda sobre a temporalidade, a finitude e fragilidade. Por isso, vale a pena viver para a felicidade e para a solidariedade, na harmonia com o cosmos (cf. Rm 12,1ss). Precisamos ter a consciência de que somos criaturas à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). A inteligência e o “sopro divino” no ser humano pedem um olhar sábio sobre o lugar e a forma de vida no universo.
Na mesma dimensão em que se dá a evolução, o ser humano necessita conhecer-se, conhecer o outro e conhecer o sentido da vida orientado por Deus, pela espiritualidade e pelo amor.
O universo, como obra do Criador, é harmonia e integração, é um Paraíso. A desarmonia, o sofrimento e a dor são sinais do pecado e da maldade humana.
O meio ambiente não pode ser olhado com critérios utilitaristas. Cultivar a terra é a missão do ser humano, mas a terra não é nossa, não nos pertence. A inteligência e a vontade voltadas para o desenvolvimento é um dom de Deus, mas tudo deve estar orientado para o cultivo e o cuidado com o Jardim, que é de Deus (Gn 2,15).
A vocação humana é, neste sentido, a de cultivar a terra e o jardim. Há uma expressão latina que nos ajuda a compreender esta relação: “imago mundi, imago Dei” (Imagem do mundo, imagem de Deus). Esta relação não é a de domínio ou de exploração. O ser humano é, primeiramente, uma criatura de Deus junto com as demais criaturas, participando da mesma existência e do mesmo destino, como criatura. Pelo sopro divino, é tornado imagem de Deus. Torna-se criatura aberta ao Espírito, habitada pelo Espírito. Deus não o retirou do meio das demais criaturas, mas o torna representante, responsável, o porta-voz de Deus. A vocação e a responsabilidade humanas trazem a marca do divino sobre a terra. Assim, as criaturas deveriam sentir-se aconchegadas junto aos seres humanos. Os animais deveriam sentir-se protegidos. A terra deveria ser cuidada e cultivada.
Respeitar a natureza, como Criação, não é apenas uma questão de religião, mas consciência da forma de como se relacionar com ela e da transitoriedade da vida e, portanto, a simplicidade é o melhor caminho para a felicidade, aqui e na eternidade.
2 O Dilúvio: nova aliança de Deus com a humanidade
É claro que em muitos momentos da história, a Bíblia foi interpretada de maneira para legitimar a exploração da natureza. Durante muito tempo o ser humano se comportou como se ele, o homem, fosse o centro e dono de tudo, baseado na interpretação equivocada da ordem de Deus de: “dominar a terra e submetê-la”. Mas Deus sempre está nos dando a chance de voltar ao convívio harmonioso e amoroso com Ele e com todas as criaturas.
Mesmo estabelecida esta primeira Aliança entre Deus e a humanidade, nós estamos sujeitos à queda, ao pecado. Rompemos nosso compromisso de cuidar, de zelar a obra de Deus. É isto que nos lembra, também, a narração do Dilúvio. Este texto foi incorporado pelo povo de Israel à sua caminhada de fé. Fez dele também seu patrimônio, sua história. O autor bíblico toma esta história e dá um significado simbólico. A maldade humana leva a humanidade a retornar da criação para o caos. Fez desta história um anti-Gênesis. Mas Deus, fiel à vida, recria a humanidade com seu sopro de vida.
O autor nos diz que Deus é forçado a alertar o ser humano por causa de sua maldade. A destruição é fruto da maldade e da ganância humana, da sua ação. Aquilo que nós chamamos de castigo, na realidade, é um alerta que Deus faz à nossa consciência (Os 4,1-3).
Recebemos uma educação que, muitas vezes, nos leva a ter uma imagem errada de Deus, que nos castiga. Fazendo isso, deixamos de lado o essencial de Deus, que é amor e ama a vida acima de tudo.
Em Gênesis 9,8 temos uma recriação. Deus refaz a aliança com Noé, com sua descendência e com todos os seres vivos. Desde o início nós percebemos esta rede de relações entre todas as formas de vida: humana, animal, vegetal, mineral. Eles comungam do mesmo destino (cf. Gn 6,5-7).
Em Gênesis 9,7, Deus sela a aliança através do sinal do arco-íris. Estabelece uma ponte entre o céu e a terra. Confia à humanidade, a responsabilidade de manter a harmonia desta rede de relações. Esta responsabilidade é que assegura a vida. Nós somos responsáveis uns pelos outros e somos responsáveis por cuidar de todas as formas de vida no planeta.
Hoje, mais do que nunca, a vida do planeta e de todos os seres vivos corre perigo. A causa desta ameaça está no desequilíbrio ecológico. Olhando ao nosso redor podemos ver bem o que mudou na natureza. Assistimos a todo instante o que acontece no mundo: a falta de cuidado com a preservação do meio ambiente coloca em risco a vida, causa tragédias em todos os países. Rios, plantas, água, ar, animais, saúde, tudo acaba sendo ameaçado e destruído.
A narração bíblica do Dilúvio parece apresentar um Deus que tem dois rostos diferentes. O Deus do dilúvio que se cansa da malvadeza humana e decide destruir todos os seres vivos. A seguir, tem atitudes de cuidado, carinho e realiza uma aliança com Noé, sua descendência e todos os seres vivos: “nunca mais haverá destruição”.
O Deus do arco-íris revela outra face de Deus: o Deus infinitamente paciente. Sempre está pronto a dar uma nova chance. Está disposto a apostar de novo na humanidade, mesmo quando conhece toda sua maldade e ganância.
O autor quer nos ajudar a entender uma realidade profunda. A destruição vem do agir humano, que na sua ganância planeja e realiza seus planos de acumulação de bens por parte de poucos, mesmo que isso cause destruição e morte de muitos. É assim que, muitas vezes, agimos. Para ter dinheiro, somos capazes de explorar a natureza ao máximo, achando que ela é nossa propriedade. A natureza é algo que está aí para ser explorado! Porém, achamos que podemos tudo: fazer da monocultura o nosso jeito de produzir, usar venenos químicos para produzir mais, poluir os rios, extrair o máximo de petróleo, cavar buracos imensos para achar ouro, ou qualquer outro minério. O resultado não poderia ser outro. Com tanta ganância, nós, seres humanos vamos destruindo a beleza da criação. Vamos prejudicando o meio ambiente. Destruímos nossa Mãe Terra, por causa de nossa ganância devoradora. Na verdade, somos nós os responsáveis pelas tragédias que acontecem.
Deus nos deu um Planeta bonito e cheio de riquezas e belezas. Este Planeta é criação de Deus, que nos entregou para que dele cuidássemos. Este é o tesouro que recebemos de Deus para que todos vivam bem. Precisamos tomar consciência, o mais rápido possível, de que toda a criação de Deus a nós foi entregue para que possamos viver bem na relação conosco mesmos, com os irmãos, com a natureza e com o próprio Deus.
A narração do dilúvio prepara o caminho para o Deus do arco-íris. Não podemos compreender o dilúvio como castigo. Precisamos compreender e acreditar na promessa de Deus: “Não mais destruirei todos os seres vivos” quer dizer: “Nunca mais destruirei os seres vivos apesar da maldade e ganância de todo ser humano”.
O arco-íris pendurado entre as nuvens é o sinal do pacto, da aliança que Deus faz com Noé, com toda a sua descendência e com toda a vida nas suas diversas formas. É o compromisso de Deus com a vida. Mas não é somente isso.
Os antigos imaginavam Deus como guerreiro que lançava suas flechas no céu, com seu arco. O arco pendurado no céu é um sinal de paz e nos pede para pendurar todos os arcos de destruição e violência e transformar as águas do dilúvio em águas da vida, recriando nossas relações, reafirmando o compromisso com a defesa da vida em nosso planeta.
Somos convidados e convidadas, nesta nossa caminhada de fé, a refazer nossas relações de maneira respeitosa, cuidadora e cooperadora com “toda a criação que geme em dores de parto”. Neste texto, Paulo constata que toda a criação está escravizada pela corrupção, gerada pelo pecado. Pecado de cada um de nós e de toda a humanidade. Ao compreendermos isso, nos desafiamos a gestar coisas novas, superando toda e qualquer mentalidade de competição, de exploração e de manipulação da natureza. A dor faz parte da vida nova. São Paulo nos adverte que é necessário romper com o pecado da instrumentalização da natureza e buscar nela as fontes de vida, para gerar novas relações para com o nosso planeta Terra.
Cultivar uma espiritualidade ecológica significa assumir nossa responsabilidade de cuidar de toda (holos) a criação de Deus. Precisamos aprender a pensar o conjunto de todas as ações, suas consequências, interligando-as com várias propostas em vista da defesa da vida em suas diferentes formas. As partes dependem do todo e o todo depende das partes. Cuidar do nosso jardim é também cuidar da nossa Casa Comum e cuidar da nossa Casa Comum é também cuidar do nosso jardim.
Terceira parte
AGIR
“Comecemos irmãos e irmãs, porque até agora pouco ou nada fizemos”.
(São Francisco de Assis)
A primeira parte deste texto chamou a atenção sobre as mudanças climáticas. São gritos provindos das entranhas de nosso planeta. Essas mudanças constituem-se numa ameaça cada vez mais grave, especialmente da vida das populações mais empobrecidas. Acompanhamos diariamente, sinais no mundo inteiro, de que o planeta reage às situações de descuido.Em Santa Catarinajá vivemos várias experiências dessas mudanças como as enchentes, secas, vendavais, furacão, tornado, deslizamentos etc.
A segunda parte nos convidou para retomar o projeto da criação, apontando para re-criar as nossas relações a partir da dimensão da fé no Deus Criador e Libertador.
A partir dessas reflexões, entendemos que os problemas são complexos e que as soluções não são simples. Algumas destas soluções estão ao nosso alcance e fazem parte do nosso cotidiano. São pequenas iniciativas que fazem a diferença. Outras ações são mais complexas e, por isso exigem nossa participação mais efetiva nas políticas públicas e outros espaços. Exigem que os diversos setores da sociedade se articulem para construir outro mundo possível, outra civilização, outro modelo de desenvolvimento baseado em valores éticos e ambientais. Por isso, a importância de nossa participação e mobilizações cidadãs na defesa da vida do e no planeta.
A 22ª Romaria da Terra e da Água/SC, desde a sua preparação, pretende ser mais uma dessas oportunidades e espaço para refletir e gerar práticas concretas no cuidado do planeta.
Sugerimos aqui algumas pistas de ação, para orientar nosso debate em nossas comunidades, grupos, organizações, pastorais e movimentos. São pistas que podem direcionar nossas práticas concretas. Eis algumas:
1. Viver a espiritualidade do cuidado, alimentando uma mística de amor e pertença à Terra, retomando a Teologia da Criação.
2. Tomar consciência, estudar e aprofundar sobre as causas e consequências dos problemas do planeta e da humanidade como: o efeito estufa, o aquecimento global, a fome, a crise alimentar e outros.
3. Fomentar a Agroecologia como forma de viver, plantar, consumir, relacionar-se, nas pequenas propriedades e no mundo urbano, incentivando as Escolas de agroecologia, de feiras, políticas públicas específicas, etc.
4. Resgatar e apoiar a Agricultura Camponesa, como forma de produzir e de se relacionar, favorecendo a produção de alimentos saudáveis, fazendo plantios consorciados e evitando o uso de agrotóxicos, fertilizantes e sementes modificadas.
5. Exercer o Controle Social por meio da criação e fortalecimento de Conselhos Municipais para o Meio Ambiente, com caráter deliberativo, garantidos na forma da lei e apoiados pelo Judiciário.
6. Desenvolver alternativas ao atual modelo energético, possibilitando oficinas que orientem a construção de captadores de energia solar e energia eólica (cata-vento). O potencial eólico brasileiro é dez vezes o potencial da hidrelétrica de Itaipu.
7. Apoiar e participar nos Movimentos que lutam pela vida da terra e na terra: Movimento de Atingidos por Barragens – MAB; Movimento de Pequenos Agricultores – MPA; Movimento de Mulheres Camponesas – MMC; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST.
8. Incentivar o resgate, a produção e o uso de sementes crioulas como uma das formas de garantir a soberania alimentar, evitando as sementes geneticamente modificadas que circulam no comércio agropecuário, monopolizadas por poucas empresas.
9. Fortalecer os grupos de Economia Solidária e o Consumo Consciente.“Quando você consome produtos e serviços de empresas que exploram e destroem o equilíbrio da natureza, você também é responsável por esses danos causados à humanidade. Mas se você pratica o consumo solidário, além de assegurar o seu bem viver, contribui para suprimir a exploração dos trabalhadores e para manter o equilíbrio dos ecossistemas” (Euclides Mance).
10. Lutar para que os agricultores integrados (aviários, suínos) e seus trabalhadores tenham direitos respeitados, preços justos dos seus produtos e não sejam os únicos a pagar pela poluição no meio ambiente.
11. Reforçar a luta pela Reforma Agrária, dando continuidade ao abaixo-assinado pelo limite da propriedade da Terra e apoiando as ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, como forma de garantir terra para produção de alimentos saudáveis.
12. Criar consciência sobre a preservação da Reserva Legal; zelar pelas matas em nossas propriedades e fiscalizar aqueles que atentam para com a natureza, provocando incêndios, cortando árvores desnecessariamente, em casas, sítios, e exigir do governo que proíba e fiscalize desmatamentos de grandes proporções.
13. Mobilizar a população em favor da recriação de áreas de floresta, com toda a biodiversidade própria de cada região e recomposição das matas ciliares.
14. Diversificar a produção, enfrentando a forma capitalista do agronegócio e dos monocultivos, especialmente de pinus e eucalipto.
15. Lutar pela garantia e ampliação das políticas públicas que visam a proteção e conservação do meio ambiente. Participar e criar (onde não há) os conselhos municipais do meio ambiente e dos conselhos de defesa civil.
16. Aproveitar os espaços (públicos) e quintais de nossas casas para fazer hortas caseiras e comunitárias, produzindo de forma ecológica.
17. Incentivar a construção de cisternas para a captação da água da chuva (para uso nos banheiros, lavação de carros, calçadas, irrigação de hortas etc.).
18. Realizar mudanças cotidianas: reduzir: usar menos água, luz, carro…; reutilizar: usar até terminar – usar de maneira diferente; reciclar: fazer coleta seletiva, organizar onde não tem; recusar: o que for supérfluo (isto é necessário mesmo?); repensar: repensar o comportamento diário, mudanças no cotidiano.
Palavra dos Bispos da América Latina
Os bispos da América Latina, reunidos em Aparecida em 2007, também refletiram sobre as questões ambientais e sugeriram as orientações que seguem:
a) Evangelizar nossos povos para descobrir o dom da criação, sabendo contemplá-la e cuidar dela como casa de todos os seres vivos e matriz da vida do planeta.
b) Aprofundar a presença pastoral entre as populações mais frágeis e ameaçadas pelo desenvolvimento predatório, e apoiá-las em seus esforços para alcançar uma equitativa distribuição da terra, da água e dos espaços urbanos.
c) Buscar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade em favor de uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens, e que supere a lógica utilitarista e individualista, que não submete aos critérios éticos os poderes econômicos e tecnológicos. Portanto, animar os camponeses a que se organizem de tal maneira que possam conseguir suas justas reivindicações.
d) Empenhar nossos esforços na promulgação de políticas públicas e participações cidadãs que garantam a proteção, a conservação e a restauração da natureza.
e) Determinar medidas de monitoramento e controle social sobre a aplicação nos países das normas e padrões ambientais internacionais (Documento de Aparecida, número 475).
Declaração de Cancun
A Via Campesina, como articulação que representa milhares de famílias camponesas, acampada em Cancun, no México, em dezembro de 2010, com representantes de 36 países, numa jornada de lutas “pela vida e a justiça social e ambiental”, preocupada com a recuperação do equilíbrio climático, assim se pronuncia:
1. Assumimos a responsabilidade coletiva com a Mãe Terra, mudando os padrões de desenvolvimento das estruturas econômicas e acabando com as empresas transnacionais.
2. Reconhecemos governos como o da Bolívia, Tuvalu e alguns mais, que têm tido a valentia de resistir contra a imposição dos governos do Norte e corporações transnacionais e fazer um chamado para que outros governos se somem à resistência dos povos frente à crise climática.
3. Exigimos que seja feito acordos obrigatórios de que todos os que contaminem o ambiente devem prestar contas pelos desastres e delitos cometidos contra a Mãe Natureza. Da mesma forma, que sejam obrigados a reduzir a emissão de gases de carbono onde elas são geradas.
4. Alertamos aos movimentos sociais do mundo sobre o que acontece no planeta, para defender a vida da Mãe Terra porque estamos defendendo o que será o modelo das futuras gerações.
5. Chamamos para a ação e mobilização social as organizações urbanas e camponesas, para a inovação, para a recuperação das formas ancestrais de vida, a nos unirmos em uma grande luta para salvar a Mãe Terra, que é a casa de todos e todas, contra o grande capital e os maus governantes. Isso é nossa responsabilidade histórica.
6. Chamamos a humanidade para atuar imediatamente na reconstituição da vida de toda a Mãe Natureza, recorrendo à aplicação do “cosmoviver”. Por isso, desde as quatro esquinas do planeta, nos levantamos para dizer: Não mais dano à nossa Mãe Terra! Não mais destruição do planeta! Não mais despejo de nossos territórios! Não mais morte dos filhos e filhas da Mãe Terra! Não mais criminalização das nossas lutas.
Compromisso da 22ª Romaria da Terra e da Água/SC
Aqui foram elencadas algumas pistas de ação. Além dessas, tem muitas outras. Cada um e cada uma, em sua realidade, é convocado e convocada para eleger um ou mais compromissos necessários e viáveis, mas que contribuam para salvar o planeta.
A temática da Romaria nos faz provocações. Depende de nós compreender que as mudanças climáticas são sinais evidentes de que a vida está ameaçada, e que, desenvolvendo a ética do cuidado, podemos garantir que a vida tenha a última palavra.
O poema da criação, que está iluminando nossa Romaria, faz voltar ao nosso coração a memória de um Deus que cria e se alegra com sua obra: “Deus criou… e viu que tudo era muito bom”! Vamos cuidar do planeta, nossa casa comum! Vamos recriar o universo! Tudo ainda pode ser muito bom! É possível!
Quarta parte
1 TENDA: LUGAR DE ALIMENTAR A UTOPIA
A Romaria da Terra e da Água é organizada em forma de tendas. Por isso queremos entender que esse jeito não é só por uma questão estética ou prática, mas é uma questão de espiritualidade. Resgatar a espiritualidade das tendas é apontar para outro jeito de se organizar e se relacionar.
1.1 Origem das tendas
A Bíblia contém a história de Deus que se faz Companheiro e Libertador das pessoas empobrecidas. Nela encontramos a experiência de um povo formado de muitos povos, de muitas tribos com línguas e costumes diferentes. É a história da caminhada de um povo que faz em sua vida pessoal, comunitária e social, a experiência de um Deus que desce para libertar seu povo e o faz subir para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel (Ex 3.8). Terra da liberdade e da partilha. Terra da vida digna.
A Bíblia faz memória de um Povo de muitas raças e etnias, gente de muitas crenças, ritos e costumes, que se reúne ao redor da mesma experiência de libertação, ao redor do mesmo Deus que se faz Companheiro e Caminheiro com seu povo.
Na história da Bíblia, existe uma profunda ligação entre o morar na provisoriedade de tendas e a experiência de um Deus Libertador, que arma sua tenda no meio do povo. O Deus Libertador é nômade – “desce” (Ex 3,7) dos tronos inventados pelos poderosos e acampa junto com o seu povo empobrecido, que vive na fragilidade das tendas. Neste espaço se faz a partilha do ser, do ter e do poder (Ex 16.18.20).
O projeto das tendas se contrapõe ao projeto dos poderosos dos templos e palácios, que oprimem o povo. Templo e palácio são lugares de opressão e arrogância, lugar de concentração de poder e de riqueza; lugar de vida massacrada. Tenda é lugar de recriar a vida, a dignidade, a liberdade. Lugar da partilha do ser, do saber, do ter e do poder. É lugar de relações igualitárias; lugar de acolhida e aconchego; lugar de CUIDAR DA VIDA. A estrutura pesada dos templos e palácios absorve o tempo das relações. A simplicidade das tendas cria tempo para a convivência. São dois projetos: Palácio e Tendas.
O Segundo Testamento apresenta Jesus como “a Palavra de Deus que se encarnou e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). É o divino que se humaniza, armando provisoriamente sua tenda no meio da humanidade.
1.2 É preciso fazer a opção
Na história da Bíblia, um punhado de gente fez a opção pelas tendas. Também nós precisamos, todos os dias de nossas vidas, escolher entre o caminho feito de seguros palácios e templos e o caminho do seguimento de Deus que é Libertador das pessoas empobrecidas. Este seguimento se faz na escolha cotidiana, optando pelo caminho que se constrói na fragilidade das Tendas, recriando nossas relações, abrindo caminhos para a inclusão.
Precisamos voltar à experiência do Êxodo, da libertação e do morar em Tendas.
“Alarga o espaço de sua tenda, ligeira estenda a lona, estique as cordas, finque as estacas, porque você vai se estender para a direita e para a esquerda, seus filhos herdarão nações e povoarão cidades” (Is 54,2-3).
Precisamos esticar as cordas e fincar novas estacas, aumentar o espaço de nossas tendas, para que caibam todas as pessoas excluídas do direito de viver com dignidade. Precisamos estender ligeiro uma lona, algo simples, e partilhar um pouco do que somos, do que temos, do que podemos, do que sabemos; partilhar nosso tempo, nosso carinho, nossa vida!
1.3 Romaria da Terra e da Água no formato de Tendas
A 22ª Romaria da Terra e da Água/SC, organizada na forma de tendas, quer construir esse espaço, tão antigo e tão novo, onde a vida ocupa o primeiro lugar.
A tenda não é uma estrutura fixa; é feita para ser deslocada facilmente, para ser ampliada, esticando as cordas e fincando estacas. É espaço provisório, como provisória é nossa vida neste mundo. Somos romeiras e romeiros nesta terra.
As Pastorais, Organizações Populares, Organismos e Movimentos Sociais que são parceiros na realização da Romaria, armarão sua tenda, oferecendo acolhida, sombra, alimento, partilha de sua história, com fotos, símbolos etc.
As tendas,em nossa Romaria, são espaços de partilha, não só de alimentos, mas especialmente de vida, de saber, de experiências. Por isso, a construção das tendas deve estar de acordo com essa espiritualidade, garantindo que sejam espaços abertos, facilitando a circulação, a comunicação e a comunhão das pessoas. Não devem ser “barracas” para apenas distribuir comida, mas tendas da acolhida, da inclusão, da gratuidade, da conversa e convivência de irmandade.
Organizar a Romaria da Terra e da Água no formato de tendas tem um caráter profético, denunciando todas as formas de exclusão, de ganância e acúmulo, que causam tantas lágrimas, dores e empobrecimento. A tenda anuncia outras relações, baseadas na irmandade; outra economia, baseada na partilha; outro poder, baseado na circularidade.
Nesta Romaria que estamos discutindo sobre as Mudanças Climáticas, causadas pelo descuido para com nosso Planeta – nossa Casa comum, queremos que as tendas nos ajudem no exercício do CUIDADO com a vida. “Deus criou… e tudo era muito bom” (Gn 1,31).
A tenda é lugar de estabelecer relações de irmandade, de articular-se e fortalecer nosso compromisso de construir uma outra igreja e sociedade sem exclusões. TENDA É LUGAR DE ALIMENTAR NOSSAS UTOPIAS.
2 CELEBRAÇÃO DE ENVIO DA 22ª ROMARIA DA TERRA E DA ÁGUA
(Esta celebração deverá ser feita dia 04 de setembro)
PROVIDENCIAR: sementes crioulas, terra, água, pão para partilhar, uma cruz
de cedro ou de outra madeira verde, cartaz da 22ª Romaria da Terra e da Água.
1 O TEU NOME NOS REÚNE
COMENTARISTA: Irmãos e irmãs, boas vindas nesta celebração! Nos alegramos com a presença de cada uma e de cada um. Neste mês de setembro, dedicado à Bíblia, continuamos ouvindo Deus que vai falando e aquecendo nosso coração. Deus nos fala de muitas formas. Hoje queremos ouvir e celebrar a boa notícia da 22ª Romaria da Terra e da Águaem Santa Catarina, que acontecerá no dia 11 de setembro, em Irani, Diocese de Joaçaba.
(Entrada do cartaz da Romaria, vasilha com terra, água, sementes, produtos…).
CANTO: Romaria da terra faz o povo reunir…
Leitor/a. 1: A Romaria é um espaço para reunir gente de fé, gente que acredita no Deus Criador da terra e de todas as formas de vida. Em todas as romarias é plantada uma cruz de cedro como sinal de nossa esperança na ressurreição da vida.
(Entrada da Cruz)
CANTO: Vitória, tu reinarás…
Leit.1: Nesta Romaria estamos refletindo sobre as mudanças climáticas. Mudanças que estão ameaçando a vida em todo planeta. (Convidar para dizer o lema da Romaria): DEUS CRIOU… TUDO ERA MUITO BOM.
Pres.: O Senhor esteja convosco!
Todos: Ele está no meio de nós!
Pres.: Deus já está no meio de nós e é em nome Dele que celebramos: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
Que a ternura de Deus, o amor do Filho e a força do Espírito Santa estejam sempre conosco!
Todos: O amor de Cristo nos uniu.
2 A MISERICÓRDIA DE DEUS NOS PERDOA
Com.: Peçamos perdão pelas vezes que não cuidamos do planeta, nossa casa comum. Após cada invocação digamos: Perdão pelo nosso descuido!
- A terra está sendo envenenada pelo uso de agrotóxicos!
- A água está sendo contaminada, privatizada e se tornando mercadoria!
- As pessoas empobrecidas estão excluídas!
- As matas nativas são devastadas!
- Pinus e eucaliptos ocupam imensas áreas de Santa Catarina!
- Barragens são construídas, expulsando famílias de suas terras e causando impacto ambiental!
- O agronegócio cresce e revela a face mais cruel do capitalismo neoliberal!
- Efeitos da mineração causam grande carga poluidora do ambiente!
Pres.: Senhor, tende piedade de nós!
Cristo, tende piedade de nós!
Senhor, tende piedade de nós!
Pres.: Deus de ternura e misericórdia, perdoe a nossa falta de cuidado com a mãe terra e com todas as formas de vida do planeta. Por Jesus, teu filho e nosso irmão, na unidade com o Espírito Santo. Amém!
3 NOS ALEGRAMOS NO AMOR DE DEUS
Com.: Existe muita gente cuidando da vida; muitos grupos, movimentos sociais, igrejas… vivendo a ética do cuidado. Nos alegremos por tudo isso cantando:
Canto de Glória:
ORAÇÃO: Deus Pai e Mãe, Criador da vida, ilumina o nosso caminho e dá-nos força e coragem para cuidar da vida. Abençoa-nos e proteja-nos em nossa peregrinação nesta terra. Isso te pedimos pela intercessão de Jesus, na unidade com o Espírito Santo. Amém!
4 A PALAVRA DE DEUS NOS ILUMINA
Com.: Setembro é mês dedicado à Bíblia. Vamos acolher a Palavra de Deus escrita na Bíblia. Palavra que ilumina a nossa vida e aquece nosso coração (entrada da Bíblia).
CANTO: Tua Palavra é lâmpada para meus pés (ou outro).
Leit.: (Ver as do dia 04 de setembro).
Salmo:
Canto de aclamação
Evangelho: Mt 18,15-20.
Partilha da Palavra
Creio
Preces da comunidade: (A equipe prepara ou motiva para fazer espontânea).
5 OFERECEMOS NOSSOS DONS
Com.: Queremos ofertar nossa vida. Oferecemos a Deus tudo o que somos, temos, podemos e sabemos.
Canto de ofertório:
(Onde houver missa, segue a oração eucarística e comunhão).
6 O PÃO PARTILHADO NOS FORTALECE NO CAMINHO
(Onde houver celebração da Palavra, faz a bênção e partilha do pão).
Com.: Vamos acolher o pão que será abençoado e partilhado. É ele que sacia a nossa fome e nos dá forças.
Oração: DEUS DE AMOR E MISERICÓRDIA, ABENÇOA ESTE PÃO, FRUTO DA TERRA E DO TRABALHO DE MULHERES E HOMENS. ABENÇOA NOSSO DESEJO DE VIDA PARTILHADA E FORTALECE NOSSO COMPROMISSO NA LUTA PARA QUE HAJA PÃO EM TODAS AS MESAS. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
7 PAI-NOSSO
CANTO: Pão em todas as mesas, ou outro (enquanto partilha o pão).
8 ENVIO E BÊNÇÃO
Com.: Dia 11 de setembro acontecerá a 22ª Romaria da Terra e da Água em Irani, na Diocese de Joaçaba. Neste local, no dia 22 de outubro de 1912 aconteceu “O Combate do Irani”, na guerra do Contestado, onde muita gente foi morta, na luta pela terra.
(Convidar as pessoas que vão para a Romaria, para
se colocarem próximas do altar para fazer o envio).
A comunidade estende e mão e reza:
DEUS ROMEIRO COM SEU POVO / ACOMPANHA OS ROMEIROS E ROMEIRAS DA 22ª ROMARIA DA TERRA E DA ÁGUA. / ABENÇOA A VIAGEM / FORTALECE O COMPROMISSO DE CUIDAR DA VIDA DO PLANETA./ Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
Com.: A 22ª Romaria da Terra e da Água é motivada pelo lema: DEUS CRIOU… E TUDO ERA MUITO BOM! Cuidar da criação de Deus é compromisso de todas e todos nós. Como lembrança desse compromisso, vamos receber algumas sementes, que levaremos para nossas casas e plantaremos. O cuidado com elas, desde a germinação até darem flores e frutos, nos ajudará no exercício do CUIDADO.
(Distribuir as sementes).
Canto: Põe a semente na terra…
8 BÊNÇÃO DAS SEMENTES
Senhor, tu fazes brotar erva sobre os montes e plantas úteis para a vida. Abençoa estas sementes! Que deem flores e frutos! Sejam pão em nossa mesa! Sejam esperança em nossa luta! Sejam memória da nossa missão do CUIDADO. Confirma, Senhor, o trabalho de nossas mãos, por Cristo, nosso Senhor. Amém.
9 BÊNÇÃO FINAL
Deus Pai e Mãe nos abençoe e nos proteja, esteja em nossa frente para nos guiar, ao nosso lado para nos proteger, atrás para nos resguardar e acima para nos abençoar e nos fortalecer no compromisso de cuidar de toda criação. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
Canto final
3 ORIENTAÇÕES PRÁTICAS
Lembretes aos romeiros e romeiras:
- Cada comunidade se organizar e mobilizar ônibus para a Romaria;
- Preparar-se para a Romaria, participando nos espaços de estudo com a comunidade e na celebração de envio;
- Levar guarda chuva, chapéu (proteção para chuva ou sol);
- Levar lanche (farofa). As tendas oferecem algo, porém não significa que seja alimento para o dia todo;
- Verificar bem o horário de saída, garantindo que se chegue às 8:30h em Irani.
4 DISTÂNCIAS RODOVIÁRIAS E LOCALIZAÇÃO DE IRANI
CIDADE |
DISTÂNCIA |
Joaçaba |
55 km |
Chapecó |
100 km |
Caçador |
107 km |
Lages |
240 km |
Rio do Sul |
263 km |
Blumenau |
343 km |
Joinville |
393 km |
Florianópolis |
424 km |
Criciúma |
425 km |
Tubarão |
439 km |
Fonte: CIASC. Mapa interativo de Santa Catarina. Disponível em:
http://www.mapainterativo.ciasc.gov.br/tabeladistancias.php.
Acesso em 19.04.2011.
5 ORAÇÃO DA 22ª ROMARIA DA TERRA E DA ÁGUA
Senhor, nós vos bendizemos/ e vos damos graças porque criastes,/
por meio de Vossa Palavra,/ o céu, a terra, as águas/ e tudo o que neles contém.
Formastes o homem e a mulher/ à Vossa imagem e semelhança/
e os destinastes à missão de servir,/ amar/ e vos louvar com toda a criação.
Vosso amor transborda sobre nós/ e nos confia a responsabilidade/
de cuidar da vida em nosso planeta.
Nós vos pedimos, Senhor nosso Deus,/ Pai e Criador,/
ajuda-nos a fazer da 22ª Romaria da Terra e da Água/
uma sintonia com a Campanha da Fraternidade,/
vivenciando a fraternidade com a vida do planeta/
e contemplando a criação./ “Deus criou e viu que tudo era bom” (Gn 1,31).
Que o vosso Espírito Santo/ nos dê sabedoria e discernimento/
para desenvolvermos uma consciência forte/
que transforme os sinais de morte/ em sinais de vida,/ em nós e no planeta.
Ajuda-nos, Senhor,/ a sermos protagonistas de novos tempos./
Que transborde em nossos corações/ um amor profundo e fraterno/
para cada ser humano e toda criação.
Fazei-nos Senhor,/ discípulos e discípulas/
missionários e missionárias empenhados em construir/
um mundo viável para os tempos atuais/ e as futuras gerações.
Que pelo amor do Pai,/ do Filho e do Espírito Santo/
sejamos todos transformados em novas criaturas. Amém.
Dom Frei Mário Marquez, OFMCap
Bispo Diocesano
Realização: CNBB Regional Sul 4/Pastorais Sociais – CPT/SC – Cáritas/SC – CEBI – CEBs – CIMI – CRB – Via Campesina – Diocese de Joaçaba – Paróquia São João Batista/Irani
[1] O caboclo, em geral, é resultado da miscigenação do branco com o índio. No planalto serrano ele é resultado da miscigenação dos índios guaranis e Kaingangs com brancos e mamelucos provenientes de São Vicente e São Paulo na época das Entradas e Bandeiras.
[2] Adolfo Pérez Esquivel é um arquiteto, escultor e ativista de direitos humanos argentino, agraciado com o Nobel da Paz de 1980.
[3] O efeito estufa é um processo que ocorre quando uma parte da radiação solar refletida pela superfície terrestre é absorvida por determinados gases presentes na atmosfera. Como consequência disso, o calor fica retido, não sendo libertado para o espaço. O efeito estufa dentro de uma determinada faixa é de vital importância pois, sem ele, a vida como a conhecemos não poderia existir. Serve para manter o planeta aquecido e, assim, garantir a manutenção da vida.
[4] Bioma, “comunidade de plantas e animais, geralmente de uma mesma formação, comunidade biótica”.
[5] São organismos que, mediante técnicas de engenharia genética são modificado em laboratório, pela inserção de pelo menos um gene de outra espécie e ou contêm materiais genéticos de outros organismos. Resultados na área de transgenia já são alcançados desde a década de 1970, na qual foi desenvolvida a técnica do DNA recombinante. A manipulação genética recombina características de um ou mais organismos de uma forma que provavelmente não aconteceria na natureza.
[6] Organização das Nações Unidas.
[7] Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16), que aconteceu em Cancún, no México, entre 29 de novembro e 10 dezembro de 2010.