Só lembro que, à noite, aos pés da cama

“Só lembro que, à noite, aos pés da cama”, sabemos que este é uma frase  extraída de uma canção do Pe. Zezinho, dedicada à oração, especialmente da oração à Mãe de Jesus e nossa. Pe Zezinho faz lembrar com saudades da oração que as famílias, quase todas, faziam à noite ou de manhãzinha, antes de ir para o trabalho. Ou antes de os filhos saírem para a escola.

Esta frase daquele bonito canto, mais completa, diz assim: “Eu era pequeno, nem me lembro; só lembro que à noite, aos pés da cama, juntava as mãozinhas e rezava apressado; mas rezava como alguém que ama”.

Na nossa família, isso realmente era uma realidade. Havia um forte espírito de oração; e também de orção à Mãe do Senhor. À noite, antes de ir dormir, rezava-se o terço. Mesmo depois de um dia inteiro de trabalho extenuante no cultivo da terra, nos diversos serviços da lida agrícola, aquele momento era sagrado. Note-se ainda que os instrumentos agrícolas eram somente braçais.

Na nossa família, tínhamos também o santo costume de fazermos a oração da manhã juntos. E sabe onde? Sentados aos pés da cama do pai e da mãe.   Quando fazia frio, (e de manhãzinha, saindo da cama, qual a criança que não sente frio, em qualquer estação?), encostavamo-nos ao suporte trazeiro da cama dos pais, puxávamos a coberta até os ombros e, assim, rezávamos com eles.

Aqueles momentos de orãção não eram tão longos. Embora, para as crianças, e crianças de interior (tinham todo o seu mundo natural ao redor da casa e os afazeres também), aquilo tornava-se quase enfadonho. O exemplo e a insistência dos pais, porém, tudo acomodava. 

Aquelas recitações tinham uma sequência. Rezava-se o Pai-nosso, a Ave-Maria, o Creio em Deus Pai. A oração ao Espirito Santo tinha sempre o seu lugar. A Consagração ao Sagrado Coração de Jesus, a Salve Rainha, o Santo Anjo. O pai e a mãe rezavam uma oração em dialeto italiano  vêneto, que aprenderam de seus pais. Essa prece, dirigida a Santo Antonio, para nós, era mais difícil de ser decorada. Mas todas as demais, decorávamos todas e tínhamos que dizê-las em voz alta, sob pena de alguma chamada de atenção.

Rezávamos sempre antes das refeições assim:” Dignai-vos, ó meu Deus e generoso benfeitor, abençoar a nós e o sustento que vamos tomar, a fim de que ele sirva para manter-nos nos vosso santo serviço. Amém!”

Agora, vendo nossa mãe e nosso pai avançados em idade. O papai está com 86 anos e a mamãe está completando, agora, no dia 29 de março de 2012, 80, lembramos realmente com saudades daqueles momentos de espiritualidade em família.

Entendemos melhor agora como esse espírito de oração sustentou nossos pais e a nós todos em toda a nossa caminhada de alegrias e dores, até hoje. Basta recordar a palavra do Senhor:”O espírito é que dá a vida” (Jo 6,63).

Quando o Salmo 90 fala da robustez que caracteriza as pessoas que chegam aos oitenta anos de idade, aplico esta palavra aos meus pais, especialmente à minha mãe, lógico; ela, às portas da idade octogenária. A robustez corporal não ocorre sem o contributo da espiritualidade.

Por isso, brota do coração da gente uma imensa gratidão ao Senhor da vida que, dessa maneira misericordiosa, generosa, demonstra seu amor e seu poder.

Brota do coração também a prece: “que as famílias de hoje aprendam a encontrar na oração o segredo da sua união, da sua fidelidade, do cumprimento da sua inalienável missão no mundo confuso e difícil em que vivemos. Cheio de novas oportunidades, evidentemente! Mas imensamente desafiador para a realização do projeto divino/humano da família!

 

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