Quando, nos últimos dias, o Verbo de Deus nasceu de Maria revestido de carne e Se mostrou neste mundo, aquilo que se via d’Ele era outra coisa que não aquela que a inteligência podia discernir. Ver a Sua carne era evidente para todos, mas o conhecimento da Sua divindade era dado apenas a alguns. Do mesmo modo, quando o Verbo de Deus Se dirige aos homens através da lei antiga e dos profetas, apresenta-Se coberto com as vestes adequadas. Na Sua encarnação, vestiu-Se de carne; nas Sagradas Escrituras, está vestido com o véu das letras. O véu das letras é comparável à Sua humanidade, e o sentido espiritual da Lei à Sua divindade. No livro do Levítico encontramos os ritos do sacrifício, as diversas vítimas, o serviço litúrgico dos sacerdotes […]; bem-aventurados os olhos que vêem o Espírito divino oculto no interior do véu. […]
«Quando alguém se vira para o Senhor, diz o apóstolo Paulo, o véu é tirado, pois onde está o Espírito do Senhor há liberdade» (2Cor 3,17). É, portanto, ao próprio Senhor, ao próprio Espírito Santo, que devemos rezar para que Ele Se digne remover toda a obscuridade e que possamos contemplar em Jesus o admirável sentido da Lei, como aquele que disse: «Abri os meus olhos para que possa contemplar as maravilhas da Vossa Lei» (Sl 118,18).
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilia 1 sobre o Levítico; PG 12,405 (cf SC 286)