A Capela do Santíssimo Sacramento, na Igreja Matriz Nossa Senhora Imaculada Conceição, Rio dos Cedros, estava edificada na frente direita do templo. No final do ano passado, foi transferida para o outro lado do bonito espaço sagrado. É que onde estava, as janelas do ambiente de oração e adoração davam para o extenso corredor lateral, contíguo ao pátio de estacionamento. Assim, as pessoas, sem se darem conta dos fiéis compenetrados, passavam bem próximas e conversando alto. E, às vezes até, ali, abordando assuntos um tanto inconvenientes. Portanto, a decisão de efetuar essa mudança foi das mais consequentes e sábias.
Com as últimas reformas, os riocedrenses e visitantes, agora, contemplam uma artística parede frontal da Matriz. Dali foi retirado o Sacrário. Placas de mármore com figuras esguias e multiformes emolduram um vistoso e belíssimo crucifixo afixado à parede.
Mais do que isso: a forma da imagem é inspiradora, isto é, aparenta, não um vigoroso Cristo pregado, mas uma efígie que lembra mais a prostração, o aniquilamento. Muito lógico, esse perfil, pois representa realmente o “Servo Sofredor”, prefigurado pelo Profeta Isaías. Para mim, esse crucifixo identifica-se, de fato, com as dores humanas. Dores, às vezes, inimagináveis, invisíveis, profundas. Em consultórios de psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas, muito pouco se vê imagens bem acabadas, de faces e cores alegres. Porque? Porque, geralmente, quem chega até aquela sala distancia-se daquela eventual harmonia, daquela beleza. Seu interior está totalmente desfocado, angustioso, triste, desanimado, desesperado.
Podemos trazer essa lógica para nossas igrejas. Não que esses lugares de oração e reflexão devam ser feios, desajeitados. Eles representam a harmonia do céu. No entanto, uma figura central, polarizadora de imediata atenção de uma pessoa em busca do paraíso dentro de si e, quem sabe, ainda, da harmonia dentro da sua família, ela vê o mistério da esperança não enganadora, não fictícia, trazida a todos os homens e mulheres pelo Cristo Encarnado que assumiu todas as dores da humanidade e iluminou-as com a luz da ressurreição. O Crucifixo de Rio dos Cedros é assim: profundamente solidário com os abandonados, sozinhos, desorientados, famintos, em busca da libertação humana/cristã. Jesus veio para os doentes.
Por outro lado, quem entra na Igreja Matriz Nossa Senhora da Imaculada Conceição, imediatamente, divisa a nova e sugestiva Capela do Santíssimo, à sua direita, ao lado do presbitério. A pequena luz acesa indica o procurado local. Ali, o visitante poderá recolher-se em adoração, em oração de súplica, meditação, reconciliação, ação de graças ao Deus “que tinha a condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos seres humanos. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,6-8).
E alguém que se encontra com Deus não sai desse encontro igual como entrou. Deus é Pai. Deus é misericórdia, luz, coragem, vida nova, ressurreição.
Impressiona-me ver o presépio com o silêncio reinante naquele recinto. Em adoração diante do Menino Jesus, mesmo os reis magos, sábios, simplesmente oferecem seus presentes. Não falam. Agem simbolicamente. As palavras, ali, são pequenas, insuficientes, agitadoras. O mistério requer o silêncio, requer símbolos. E a palavra, quando vier, que seja temperada por esse silêncio de estupor.
Nós vivemos uma época tão conturbada, congestionada de informações de todos os tipos e por tantos meios de comunicação. Relativismos, imediatismos e subjetivismos distraem a pessoa de si mesma e da sua missão. Com certeza, se adorarmos mais o triúno Deus, seremos mais fortes diante de desilusões e fracassos tantos. Estamos no mundo “para amar e servir a Deus”. Assim reza o catecismo.
“Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as igrejas que estão no mundo. E vos bendizemos porque, pela vossa Santa Cruz, remistes o mundo”! (Oração atribuída a São Francisco de Assis) Eu a aprendi na minha Iniciação à Vida Cristã, quando se aproximava a minha Primeira Comunhão.
Texto: Pe. Raul Kestring