Neste dia 12 de dezembro de 2018 completo quarenta e dois anos de ordenação sacerdotal. Com muita alegria, percebo o trabalho de Deus em minha vida sob esta opção que fiz definitivamente nos meus verdes 26 anos de idade. Mas que teve seu início mesmo aos 11 ano de idade. Na verdade, foi uma continuidade porque a graça divina me deu uma família temente a Deus na Igreja Católica Apostólica Romana. Inclusive da parte dos meus avós, todos eram católicos fervorosos, participantes da vida da comunidade. Em casa, desde que me conheci como gente, vi a oração,a caridade, sob suas mais diversas formas iluminarem nossa vida diária de agricultores.
No caminho do sacerdócio, o primeiro encontro com a cruz foi a separação física da família. Como ali havia verdadeira acolhida e carinho recíprocos, o ambiente de seminário me parecia frio. Carente do calor humano que sentia na minha família. Talvez nem fosse tão frio assim, mas foi difícil para mim a adaptação à nova casa, à convivência com pessoas totalmente desconhecidas, de procedências tão diversas, inclusive culturalmente. A consequência é que uma intensa saudade me visitava quase todos os dias. Percebia também, talvez até de forma exagerada, que a minha família sentia a minha falta. Minha mãe me mandava frequentemente pacotes de frutas de casa por alguém que fizesse.a tão difícil viagem, naqueles tempos, percorrendo os 25 km que me separavam de casa.
Quando fico a imaginar um pouco esse tempo de saudade que vivi o seminário, por um lado, vejo que foi a cruz do Senhor cavando em mim o espaço do desapego e do altruísmo. Se tivesse desistido, com certeza, nesse aspecto espiritual, teria estagnado numa vivência um tanto infantilizada. Teria, quem sabe, formado uma família, o que de per si não penso configurar-se como egoísmo, infantilidade, de forma alguma. Homens e mulheres que optam conscientemente pela família, aos poucos se descobrem, igualmente num caminho de crescimento e santidade,no qual a presença da cruz não falta. Mas Deus queria algo mais de mim. Ele me quis seu sacerdote, sacerdote da Igreja, sacerdote do povo.
Essa consciência da vida como caminhada com a cruz, não tenho dúvidas, foi a chave da minha perseverança até hoje na missão para a qual Deus me chamou e eu lhe disse “Sim”. Doenças, frustrações, carências, defeitos, pecados, diversas nuances desse aspecto inalienável da vida de um sacerdote duram a sua vida toda. Há momentos mais intensos. Há períodos realmente duros para atravessar. No entanto, como Jesus não permaneceu na cruz, assim o padre, na oração, na caridade com os irmãos e irmãs, supera, vai para a frente! na missão assumida diante de Deus e de si mesmo
E não há alegria maior neste mundo do que a paz que vem dessa entrega, desse desapego, dessa fé, desse compromisso generoso.
Na oração consecratória do ordenando, durante o respectivo rito, o bispo ordenante exorta: “Conforma a tua vida à cruz de Cristo”. Isso ouvi do meu bispo ordenante, Dom Tito Buss, já na eterna glória e por quem guardo gratidão e respeito.
Neste dia 12 de dezembro de 2018, completando 42 anos de vida consagrada a Deus e aos irmãos no presbiterato, louvo a Deus pela caminhada gratificante e abençoada que fiz até este momento. E digo novamente o meu “Sim” ao chamado. Sei que viver com Deus e para Deus, não só para o sacerdote, mas para toda pessoa batizada e de fé, torna-se a mais ousada e feliz aventura nesta terra. A eterna recompensa será consequência da fidelidade sempre assumida e reassumida nesta terra. “Servo fiel, entra na alegria do teu Senhor” será o convite bendito, o mais bendito que poderemos ouvir ao partirmos daqui.