O mistério pascal revelado a partir do arrependimento do “bom ladrão”

O Presidente da Renovação no Espírito explica porque a fé salva

de Salvatore Martinez – Tradução do italiano por Pe. Raul Kestring

A mais bela oração pascal. Um dos malfeitores, pregado àcruz junto com Jesus, disse: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade eu te figo: ainda hoje estarás comigo no paraíso”» (cf. Lc 23,42-43).

Este “quadro evangélico” nos permite entrar no mistério da Páscoa, que jamais se poderá dizer definitivamente compreendido.

Releiamos, assim, um surpreendente diálogo entre dois homens pregados numa cruz, suspensos entre a terra e o céu: de um lado o Filho de Deus, destinado pelas Escrituras a uma morte tão ignominiosa quanto injusta; do outro lado um malfeitor comum, que pagava o preço legal dos seus crimes.

Ainda mais surpreendente é o tom deste dálogo: fala-se da vida ultra-traterrena.

O malfeitor crê que a morte não seja a palavra definitiva da sua existencia terrena; crê que existe um “céu” no qual é possível entrar e deste céu pede a Jesus que não seja excluído.

O pedido é acolhido; a resposta de Jesus não deixa dúvidas: «Hoje estarás comigo no paraíso».

O “bom ladrão”, no fundo, rompendo o silencio inverte a história,  reescreve-a. A sua é a mais extraordinária profissão de fé que os Evangelhos contam, a mais sofrida, a mais íntima. Ao seu lado, pregado a um lenho, está Deus, não um outro homem corrompido pelo pecado e merecedor de um destino de morte.

É o máximo, incrível, irrepetível diálogo do Deus feito homem com o homem que pede para tornar-se Deus, de estar com Deus, de permanecer para sempre com ele no reino dos céus.

Este ladrão formula a mais perfeita “prece pascal” que se posssa ser capaz de ouvir. É o mais perfeito viático para a Páscoa de Jesus na nossa vida.

O ladrão é a voz do mundo que não se esquece do Paraíso;  é a voz sofredora de um mundo que não se rende, mesmo quando Deus parece morrer, e invoca a Páscoa da ressurreição.

É este ladrão que combate e vence o erro no qual a humanidade se estava precipitando, considerando tudo já perdido.

Uma advertência para a nossa humanidade, sempre mais habituada ao inferno deste mundo e sempre menos atraída pela alegria do Paraíso: em Jesus “está para cumprir-se”, não para terminar! Em Jesus tudo tem sempre início.

Na hora da morte ter fé é já Páscoa. Não é possível merecer a Páscoa de Jesus sem os sentimentos do bom ladrão. Nenhuma outra voz se uniu  no pedido de ajuda a Jesus, senão a sua. Com energia e firmeza não se deixou levar pelo escâncalo que sofria: o ladrão escolhe ter fé como nenhum outro naquela hora tremenda.

O ladrão não se deixou impressionar vendo Jesus na cruz, impotente, impotente na fraqueza da carne despojada pelos pecados dos outros . Nem mesmo o clamor do povo enfurecido o impressionava, nem o fanatismo dos infiéis ou o ato vergonhoso dos blasfemadores e dos caluniadores.

Com tudo isso o malfeitor não se preocupou, mas com franqueza professou a própria fé, dizendo em alta voz: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino».

A bem da verdade, é este o primeiro, grande anúncio da Páscoa, a primeira antecipação da luz que ilumina as trevas do monte Gólgota.

Esta profissão de fé, que parte do coração de um homem, diz que todo coração humano é feito para a Páscoa , não para a morte; para a glória, não para a derrota humana.

Jesus que se comovera com a fé do povo cansado que o seguia(cf. Mc 6,34 ss), pela fé do centurião (cf. Mt 27,54), pela fé de Cananéia (cf. Mt 15,21-28), agora tem diante de si a humanidade que pede a Páscoa, que deseja ressurgir; que não crê na morte, mas na vida; que não quer a tristeza, mas a alegria; que não é feita para o inferno, mas para o Paraíso.

Eis o que exprime o “bom ladrão”: o bem que não conhece fronteiras, que supera os limites da terra, que dilata a vida humana até torná-la, em Jesus, divina, eterna.

“Hoje estarás comigo no paraíso”. Está tudo nesta resposta de Jesus.

“Hoje”. É assim anunicado um novo começo: o acesso à eternidade para todos os homens. Um novo tempo, que não é postergado.

“Hoje”. Não amanhã, porque a ressurreição é o tempo presente de Deus.

“Hoje”. É esta a medida de Deus, a única medida do tempo divino. A eternidade está no presente. A eternidade é Jesus, sempre e para sempre vivo.
[Para algum aprofondamento se recomenda a leitura do livro de Salvatore Martinez: Redizer a Fé – dar de novo a esperança, refazer a caridade, Edizioni RnS, 2011]

Fonte: ZENIT.org – Roma, sexta-feira, 30 de março de 2012

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