Claudio Risé e o pe. Maurizio Botta participam de um debate no Pontifício Ateneu Regina Apostolorum.
Por Redação
Roma, 14 de Maio de 2015 (ZENIT.org)
As questões relacionadas com a mulher e com a condição feminina estão na ordem do dia há décadas. Não ocorre o mesmo, porém, com as questões sobre o masculino, a não ser por alguma literatura bastante recente que lança certa luz sobre a crise da masculinidade e, em particular, da figura paterna.
O que conota a diferença masculina? O tema foi abordado em um painel de discussão no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma, organizado pelo Instituto de Estudos Superiores sobre a Mulher. Como explicou Marta Rodríguez, diretora do Instituto, “não podemos falar da mulher se não falarmos do homem. O homem e a mulher naufragam juntos e são resgatados juntos”.
O psiquiatra Claudio Risé explicou que o “macho selvagem” é “um arquétipo sempre presente no inconsciente coletivo”, desenvolvido particularmente por Carl Gustav Jung. Este arquétipo não é separado dos outros, mas não vive em contato com eles de modo absolutamente complementar.
Um dos transtornos de personalidade mais comuns nos dias de hoje é, no entanto, o “narcisismo”, para o qual o outro só é experimentado como uma resposta de “confirmação do próprio valor” e como um objeto de reivindicação de um suposto “direito” de ser amado.
Durante o debate, moderado pela advogada Ignazia Satta, do grupo de pesquisas do Instituto de Estudos Superiores sobre a Mulher, verificou-se o outro lado da moeda da crise masculina, que é a anulação da feminilidade a partir do papel materno, como demonstrado pelas legislações a favor do aborto ou pela inseminação artificial, em todas as variações possíveis.
A promoção dessas leis e da confusão antropológica, que é simultaneamente sua causa e sua consequência, se relaciona com os complexos de culpa dos homens no tocante às mulheres. Com isto, não é mais abordada a questão da diferença sexual e se evita toda forma de autoconsciência.
O ponto de vista cristão foi apresentado pelo pe. Maurizio Botta, da Congregação do Oratório, fundada por São Felipe Neri. O Evangelho, disse o padre, apresenta em Jesus Cristo o maior exemplo de masculinidade e de força, de acordo com um arquétipo muito distante de qualquer forma de “politicamente correto”.
O Cristo “viril” e “selvagem” realiza gestos “desagradáveis” e “inaceitáveis” aos olhos da maioria: não tem medo de ficar sozinho, indo contra a corrente, e tem a coragem de perguntar aos discípulos: “Vocês também querem ir embora?” (cf. Jo 6,60-69). O ato de derrubar as mesas dos comerciantes no templo (cf. Mt 21,12) também se revela como um ato “profético”.
É esta masculinidade que torna o Cristo admirado pelas mulheres (que o seguem até o Gólgota), enquanto os homens querem imitá-lo.
Não pode ser esquecido, tampouco, o ponto de vista das crianças, que nutrem uma “nostalgia do masculino” e são as primeiras vítimas da crise da virilidade. Em outras palavras: as crianças precisam de dois braços que as lancem ao ar e as recebam de volta, como fazem, brincando, muitos pais; isto simboliza o encontro com a vida e com a autonomia, sob o olhar atento e incentivador do pai.
Ao mesmo tempo, continuou o pe. Botta, no casamento deve ser evitada a armadilha segundo a qual, para a mulher, “os filhos se tornam mais importante que o marido”: o homem pode, de fato, experimentar uma estranheza inicial em relação aos filhos, mas ele também deve ser ajudado a não cair na preguiça quando se trata de cuidar da família.
Para resgatar a complementaridade entre masculino e feminino, é essencial, portanto, redescobrir o “caminho da criação” e o “caminho da redenção”: no primeiro, identificamos a aliança entre homem e mulher; no segundo, a aliança com Deus.
Sem o sacrifício de Jesus Cristo na cruz, porém, a aliança nascida com a criação “pode nos levar a um mundo utópico”. Não pode haver um amor homem-mulher que não implique a entrega total da vida até a última gota de sangue.
Especialmente do homem, é necessária uma virilidade inimiga de todo narcisismo e uma força comparável não tanto à agressividade, mas à resistência de um carvalho, assim como a de Cristo na Cruz.
A masculinidade é complementar à feminilidade na medida em que recebe e absorve a ternura feminina, como demonstra Cristo, cercando-se de mulheres, inclusive pecadoras, independentemente dos preconceitos dos outros.
O homem viril, no entanto, não é efeminado, mas respeita a mulher, absorvendo a doçura de que ela é capaz: é por isso que também os padres e religiosos, a exemplo de Cristo, podem viver a sua complementaridade masculino-feminina.
Descrevendo a condição do homem de hoje, o pe. Botta traçou um tipo homérico ideal entre Telêmaco, que busca o pai perdido, e os pretendentes à mão de Penélope, totalmente incapazes de gestos nobres e viris, imersos no desfrute dos prazeres sensuais.