No Dia de Finados, renovemos nossa vida e nossa fé na Ressurreição

 

No dia 02 de novembro celebramos todos os mortos. A data serve sobretudo para reflexão e oração sobre a certeza da morte que atinge todos os seres humanos. Pobres e ricos, pequenos e grandes, todos temos que passar por essa porta, rumo ao humanamente desconhecido. Conforme a revelação cristã, porém, a morte se ilumina com a promessa da vida eterna. Não só uma promessa, mas com a certeza de que a “vida não nos é tirada, mas transformada e, desfeita a nossa habitação terrestre, nos é dada uma habitação eterna no céu”. Assim reza o Prefácio da liturgia das exéquias, conforme o Missal Romano.
Essa crença na imortalidade é encontrada desde os povos mais antigos. Em sepulturas primitivas, verificou-se vestígios de alimentos, ali depositados para que a pessoa se alimentasse ao voltar à vida. Não há cultura que ignore os seus mortos.
Jesus Cristo foi explícito ao afirmar: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11,25-26). Para os cristãos e cristãs, essa é a verdade a respeito dos mortos. Ela se fundamenta na ressurreição do próprio Cristo. Ele não só anunciou a sua morte e ressurreição, mas tendo passado, ele mesmo, pela morte de cruz, ressuscitou.
Diversas passagens dos evangelhos apresentam Jesus como Senhor da morte e da vida. Lázaro, seu amigo, havia morrido há quatro dias e “estava cheirando mal” (Jo 11,39), disse-lhe Marta, irmã do morto. Em outras palavras, não há mais nada a fazer. Não, porém, para Deus. A pedra que protegia a sepultura foi tirada, Jesus orou ao Pai e gritou: “Lázaro, vem para fora” (Jo 11,41)! Diz o apóstolo e evangelista João que o morto saiu, foram-lhe desenroladas as amarras e faixas dos seus pés, das suas mãos e do seu rosto, como era costume judaico sepultarem seus mortos. E Lázaro voltou à vida. Observa João, diante daquele milagre, muitos creram em Jesus.
O evangelista Lucas conta outro fato maravilhoso que mostra o poder do Senhor sobre a morte. Passando por um povoado chamado Naim, Jesus e seu discípulos encontraram um cortejo fúnebre levando um jovem, filho único de mãe viúva, para o cemitério. Ele se compadeceu daquela mãe, mandou para o cortejo, tocou o caixão e ordenou ao morto: “Jovem, eu te digo, levanta-te” (Lc 7,14). O rapaz sentou-se e começou a falar com os que estavam à sua volta. Jesus entregou-o à sua mãe.
Essa manifestação do divino poder, o Senhor não faz somente para os outros. Ele mesmo, depois do terceiro dia da sua própria morte, cumpriu a promessa de ressuscitar. Foi a prova definitiva da sua divindade e da veracidade de todo seu ensinamento. O apóstolo chega a afirmar: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé”(1Cor 15,14).
O mesmo Paulo, então, conclui: “Mas na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20). Se Cristo foi o primeiro, depois dele, os que pertencem a ele” (1Cor 15,23). Pertencer a Cristo significa acolher a sua palavra, especialmente quando nos propõe: “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga” (Lc 9,23).
Ao longo da história, uma multidão de mulheres e homens aceitaram esse convite do Senhor e a ele foram fiéis até o fim. E agora povoam o céu, com os anjos, Maria e a Trindade. Esse destino não se reduz aos cristãos, mas a todos os que seguem a sua consciência, pois afirma o Concilio Ecumênico Vaticano II: “A consciência é a voz de Deus no íntimo da pessoa”.
Dessa forma, nesse dia da comemoração dos mortos, ir ao cemitério, visitar os familiares falecidos não é somente lamentar e chorar a sua partida desse mundo. Significa, sobretudo, renovarmos nossa fé em Cristo, nossa vida e ressurreição. E lembremos o apóstolo Tiago que nos exorta a não querermos mostrar uma fé sem obras. A fé deve ser mostrada pelas obras. Dar de comer aos que tem fome, saciar os que tem sede, visitar os doentes, visitar os prisioneiros, acolher os peregrinos, vestir os que não tem roupa e sepultar os mortos são as obras de caridade corporais. E as obras de caridade espirituais sugeridas são: Dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os aflitos, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as injustiças e rezar pelos vivos e pelos mortos.
São estas as perguntas da prova final da nossa vida. Jesus foi generosíssimo ao nos adiantar essas indicações. Dessa forma, todas essas coisas, se as tivermos praticado durante a vida, o Senhor nos acolherá no paraíso. Os que não as tiverem praticado, também conforme o evangelho de Mateus, “irão para o castigo eterno” (Mt 25,46). A verdade é que o nosso Rei e Juiz reconhece como feito a si tudo o que tivermos feito aos irmãos e às irmãs (Cf. Mt 25,40).
Junto da tumba de nossos falecidos e falecidas, assim, teremos ocasião de vivenciar a obra de caridade: “Rezar pelos vivos e pelos mortos”. As flores são sinais do amor e do carinho que perpetuamos por eles. As velas recordam a nossa fé em Cristo Ressuscitado, luz da nossa vida e certeza de ressurreição. Nossa oração, no entanto, torna-se sinal da nossa comunhão com eles em Cristo, o Caminho para a vida eterna.

Pe. Raul Kestring – Blumenau, 29 de outubro de 2024

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