Minha Madre, creio que é necessário dar-vos ainda algumas explicações sobre a passagem do Cântico dos cânticos: «Arrasta-me atrás de ti. Corramos!» (cf Ct 1,4) […] «Ninguém [disse Jesus] pode vir a Mim, se Meu Pai que Me enviou não o atrair». Em seguida, […] ensina-nos que basta bater, para que abram, procurar para encontrar e estender humildemente a mão para receber o que se pede (Lc 11,9ss.). Diz-nos ainda que tudo o que se pede a Seu Pai em Seu nome Ele o concede (Jo 16,23). […]
Que vem a ser pedir para ser «atraído», senão unir-se de maneira íntima ao objeto que seduz o coração? Se o fogo e o ferro tivessem razão e este último dissesse ao outro: «Atrai-me», não provaria acaso que deseja identificar-se com o fogo de maneira que ele o penetre e o embeba da sua substância ardente e pareça não fazer senão uma só coisa com ele? Madre minha querida, eis a minha oração, peço a Jesus que me atraia para as chamas do Seu amor, que me una estreitamente a Si, que viva e opere em mim. Sinto que quanto mais o fogo do amor me abrasar o coração, tanto mais direi: «Atraí-me», tanto mais também as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacinho de ferro inútil, se me afastasse da fogueira divina), tanto mais estas almas correrão com rapidez ao odor dos perfumes do seu Bem-Amado, porque a alma abrasada de amor não pode continuar inativa: sem dúvida mantém-se como Santa Madalena aos pés de Jesus, escutando a Sua palavra doce e inflamada. Parecendo não dar nada, dá muito mais do que Marta (Lc 10,39ss.).
Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscritos Autobiográficos C (Livraria Apostolado da Imprensa, Porto 1959, pp. 315-316)