Meu último encontro com Pe. Roberto Fritzen

Já é informação corrente nas redes sociais o falecimento do Pe. Roberto Fitzen, pároco da Paróquia Imaculada Conceição, bairro Bela Vista,  Gaspar, SC, ocorrido repentinamente nesta manhã de 28 de abril. Seu velório realiza-se na Igreja Matriz Imaculada Conceição, situada à Rua Nilton Cardoso, 130 – Bela Vista – 89110-000 Gaspar – SC. A missa de Corpo Presente está marcada para amanhã, dia 29, às 9h, na mesma igreja gasparense.

Logo que recebi o comunicado do falecimento do Pe. Roberto, veio-me à mente meu último encontro com ele. Foi na terça-feira de Páscoa, dia 18 de abril, quando fui à Bela Vista para fazer imagens e texto da despedida da Imagem Peregrina, fac-simile da imagem de Nossa Senhora Aparecida, em vista de publicá-los no jornal da nossa Diocese de Blumenau.

Nessa ocasião, Pe. Roberto me impressionou por sua acolhida realmente fraterna. Convidou-me a ir até a secretaria paroquial, onde concluía os trabalhos do dia. Contou-me de seus trabalhos e sobretudo falou-me da graça da visita da sagrada imagem à sua paróquia, às comunidades, aos doentes, à casa de acolhida de idosos. Em seguida, fez questão de que o acompanhasse até a casa paroquial, onde ofereceu-me café, frutas, o que agradeci naquele momento devido à proximidade da santa missa. Mas insistiu que, depois da celebração, viesse tomar o café ou até mesmo jantar com ele e sua cozinheira.

De fat o, terminada a missa e a despedida da imagem peregrina, fomos à sua casa paroquial. Então, deixou-me completamente à vontade diante da sua generosa cesta de frutas sobre a mesa. Restringi-me a saborear um vistoso abacate que disse-me ter recebido de uma de suas comunidades, como também outras frutas: laranjas, peras, kiwis, maçãs. Enquanto abria o abacate, ele aproximou-me o vidro de mel, assegurando quão saboroso é o mel com abacate. E historiava seu aprendizado: trabalhava na Paróquia de Anitápolis, pertencente nà Arquidiocese de Florianópolis e, lá, as famílias lhe ensinaram a receita que provei e aprovei, eu também.

Acabei saindo com uma sacola cheia das frutas da sua mesa. Além do coração alegre, contagiado pela paz e alegria do inesquecível colega e amigo.

Impressionou-me também Pe. Fritzen pela sua devoção à Mãe Aparecida. Revestiu-se de bela casula branca para presidir a santa missa. Deu destaque à presença da imagem fac-simile no pedestal ao lado do altar.

Em sua hoimilia focalizou a missão de Maria como Mãe de Jesus co-redentora, principalmente na paixão e ressurreição do Filho. Naquela terça-feira da Pàscoa, foi muito oportuna, edificante, essa associação.

Na mesma homilia, o pároco da Bela Vista destacou a solicitude de Maria com os pobres e excluídos. Citou os pescadores, que Ela escolheu para aparecer aos brasileiros, em 1717. Referiu-se à cor negra da imagem, representando sua solidariedade com os irmãos e irmãs da raça negra. Naqueles tempos, ainda eram escravos e havia dúvidas se realmente seriam pessoas humanas. Acentuava Pe. Roberto que “isso justificaria maus tratos, trabalhos, etc. impostos por seus proprietários”. Sim, proprietários porque eram mercadoria, comprada e vendida. Pe. Roberto expressava, assim, seu sonho de um Brasil e de um mundo, onde as pessoas, embora diferentes na cor, etnia ou cultura, vivessem como irmãos, na acolhida recícproca, na partilha, no verdadeiro amor, enfim.

Concluindo, Pe. Fritzen não omitiu a verdade do nosso destino final e eterno, quando, guiados pela Palavra do Senhor, nos reuniremos definitivamente na casa do Pai, com nossa Mãe Celeste, no lugar preparado por Jesus para cada um e cada uma de nós.

Eram simples suas afirmações, mas fortalecidas pela convicção, pelo testemunho pessoal, não só relativamente a mim, como relatava acima. Todos os colegas padres gostavam de visitar Pe. Fritzen. Sabia ele valorizar e acolher a todos. Com as crianças, jovens, adultos, idosos, famílias, de sua paróquia não era diferente. Um padre que sabia ser irmão, pai, amigo, conselheiro, administrador, animador pastoral.

Pe. Roberto Fritzen, recebe, agora, o prêmio dos discípuolos e discípulas do Senhor, coerentes com ensinamento do mandamento do amor pela pregação e pela vivência pessoal concreta. “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que fazeis”!

Texto: Pe. Raul Kestring

 

 

 

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