Uma das mais significativas imagens do meu pai Gregório Kestring que tenho guardadas é esta abaixo. Ele está cantando. Deus o dotou com uma invejável voz! Timbre/tessitura abrangente, de baixo/barítono a tenor! Limpidez. Afinação natural. Saúde pulmonar.
Na verdade, ele cresceu numa família de amantes da música e do canto. Cantava-se muito naqueles idos tempos, quando não havia rádio. Televisão, nem se imaginava! Talvez nos grandes centros habitacionais! Grande diversão era reunir-se a família, algum vizinho, tomar o violão, o cavaquinho, a flauta, o violino, a escaleta, às vezes o acordeão, e soltar a alegria de cantar. Ah, ia me esquecendo do pandeiro!
Cantava-se um pouco de tudo: folclore brasileiro, canções italianas (dialeto vêneto), uma ou outra canção alemã, hinos religiosos, pequenas peças instrumentais.
E reunia-se a família inteira na sala, ao redor da mesa, na área da casa.
O desempenho de cantor do seu Gregório evidenciava-se mais na igreja, nas celebrações. Ele começava e sustentava o canto. Mesmo não conhecendo muito teoria musical, sabia o tom confortável de cada hino. E quando algum outro iniciava em tom meio alto, ele fazia questão se segurar até o fim. Não deixava ninguém passar vergonha!
No sepultamento da tia Augusta Bloemer Kestring, que era casada com tio Martinho Kestring, irmão do nono Carlos, eu ainda usava calças curtas, lembro-me muito vivamente daquela interminável procissão. Estrada estreita, poeirenta, buracos, até atoladores em algum lugar, mata nativa em grande parte. Cinco quilômetros até o cemitério da capela. Toda a comunidade organizada em duas filas. E meu pai animava as orações, os cantos, as orientações.
Saudades, pai! Obrigado por este legado de fé, de alegria, de coragem, de liderança, de encanto pela vida!
Com certeza, em plena realização da tua fé, continuas cantando no céu.
E com teu legado, continuas também nos animando na terra! Do nosso jeito, com nossos dons, nosso timbre de voz, ainda por entre desafios e relativas conquistas, dores e relativas alegrias, vamos nos encaminhando para o nosso definitivo porto de chegada!
Não parece, mas já se vão quatro anos da sua partida do nosso meio!