Manifesto da Mariápolis de 1959 (trechos)

Chiara Lubich – Vale di Primiero, 30 de agosto 1959, Città Nuova
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«Se um dia os homens, não como indivíduos, mas como povos; se um dia os povos souberem pospor-se a si mesmos, à ideia que têm de suas pátrias, a seus reinos, e ofertá-los como incenso ao Senhor, Rei de um Reino que não é deste mundo, Guia da História; se fizerem isto pelo amor recíproco entre os Estados que Deus exige, como exige o amor mútuo entre os irmãos, aquele dia será o início de um tempo novo, porque naquele dia, tal como é viva a presença de Jesus entre dois que se amam em Cristo, Ele estará vivo e presente entre os povos, posto finalmente em seu devido lugar de único Rei, não só dos corações mas das nações: será o Cristo-Rei.
Os povos cristãos, ou seus representantes, deveriam saber imolar seu eu “coletivo”. Este é o preço. De resto, não se requer menos de cada um de nós para a consumação de nossos espíritos na unidade. Estes são os tempos em que cada povo deve ultrapassar os próprios confins e olhar além. Chegou o momento em que a pátria do outro deve ser amada como a própria, em que o nosso olho deve adquirir uma nova pureza. Não basta o desapego de nós mesmos para sermos cristãos. Hoje, os tempos exigem algo mais do seguidor de Cristo, uma consciência social do cristianismo, para que ele edifique não só a própria terra segundo a lei de Cristo, mas ajude na edificação das dos outros com o gesto universal da Igreja, com a visão sobrenatural que Deus Pai nos deu, Ele que do Céu vê as coisas de modo bem diferente de como nós as vemos. (…)

A história é feita só de guerras, e nós, quando crianças, por pouco não aprendemos nos bancos da escola que as guerras são boas, são santas, quase que salvaguardas da própria pátria. Pode ser assim e algumas vezes assim foi. (…) Nós que vemos como o Senhor está conquistando para si um por um os corações de seus filhos de todas as nações, de todas as línguas, transformando-os em filhos do amor, da alegria, da paz, da ousadia, da força, esperamos que o Senhor tenha piedade deste mundo dividido e disperso, destes povos fechados na própria casca a contemplar a própria beleza – para eles sem igual – limitada e insatisfatória, a defender com unhas e dentes, os próprios tesouros — resguardar até aqueles bens que poderiam servir a outros povos nos quais se morre de fome — e faça cair as barreiras e jorrar em fluxo ininterrupto a caridade entre terra e terra, torrente de bens espirituais e materiais. Esperamos que o Senhor componha uma ordem nova no mundo, Ele, o único capaz de fazer da humanidade uma família e de preservar as distinções entre os povos, para que, no esplendor de cada um, posto a serviço do outro, reluza a única luz de vida que, embelezando a pátria terrena, faz dela a antessala da Pátria eterna».

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