Imelda Lambertini, uma menina eucarística

Para mim, foi uma surpreendente descoberta! Uma menina de cerca de 13 anos, ao receber com profunda devoção a santa comunhão, subitamente, morreu. Morreu de amor! Fui logo pesquisar a história da sua vida. De família nobre e rica da primeira fase da Idade Média, nascida em Bolonha, Itália, por volta do ano 1320, morreu no mosteiro dominicano de Santa Maria Madalena em Valdipietra no ano de 1333. Havia entrado no mosteiro ainda pequena, levada pelo desejo de receber a Eucaristia. Esse desejo se realizou por meio de um milagre. Assim assegura a tradição. E isso a tornou modelo de devoção eucarística.

Foi o Papa Leão XII que, no dia 20 de dezembro de 1826, confirmou o culto à beata, já atestado no catálogo dos santos e bem-aventurados da Igreja bolonhesa de 1582. O Papa São Pio X, que abriu a comunhão para as crianças a partir da idade de 8 anos, proclamou beata Imelda Lambertini padroeira dos pequenos neo-comungantes. As relíquias da menina beata são, hoje, veneradas na igreja bolonhesa de São Sigismundo. O dominicano venerável Giocondo Pio Lorgna colocou a Congregação por ele fundada, as Irmãs Dominicanas da Beata Imelda sob o seu patrocínio. Hoje, estas Irmãs estão presentes em diversos países: Itália, Bolívia, Brasil, Camerun, Filipinas e Albania. Dedicam-se à Pastoral Paroquial, Catequética e Juvenil. Enfim, desejam contribuir para que as crianças e adultos possam “amar e fazer amar Jesus Eucaristia”, segundo a recomendação do fundador.

A extraordinária devoção de Imelda para com a Eucaristia é o fato que a fez eternizar-se na história da Igreja e da humanidade. É o próprio Jesus, em sua missão terrena, na sinagoga de Cafarnaum, quem nos garante: “Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,58s). Porém, o amor dessa menina beata por Jesus Eucaristia tem uma surpreendente diferença. Ciente de que a comunhão significa alimentar-se do Deus-Filho, o Salvador, na sua inocente e profunda fé, perguntava-se: “Como as pessoas podem nutrir-se de Deus e não morrer de amor?”

Para o Antigo Testamento, como se lê em várias passagens, não era possível ver a Deus sem morrer. Por isso, Moisés, quando se colocava diante do Senhor, cobria o rosto com um véu. Jesus Cristo, fazendo-se ser humano, revelou a todos a face de Deus sem que essa visão levasse à morte. Também as suas expressões faciais manifestavam os divinos/humanos sentimentos de seu coração.

No entanto, recentemente, por exemplo, o brasileiro, venerável João Luiz Pozzobon, em vida, expressou seu desejo de morrer de amor. “Se um dia me encontrarem sem vida, saibam que morri de amor”, disse ele com simplicidade e extraordinária confiança na misericórdia de Deus. Em certa manhã, cedinho, dirigindo-se à santa missa por rua com forte neblina, um caminhão atingiu-lhe acidentalmente e levou-o à eternidade. Certamente, esse diácono permanente e grande devoto da Virgem Maria, morreu com o coração pleno do amor divino.

E nós, como nos colocamos diante de Jesus-Eucaristia? Temos aquele respeito e aquela devoção que nos leva a morrer de amor? Com certeza, não queremos morrer. Queremos viver, como reza o salmista: “Não morrerei, mas viverei; e contarei as obras do Senhor” (Sl 118,17). O amor, porém, pressupõe a chamada “morte mística”, isto é, aquele morrer aos nossos planos para aderir ao plano de Deus; aquele morrer ao egoísmo para focar a atenção ao outro; aquele morrer, enfim, para deixar Cristo viver na gente!  Paulo: “Não sou mais eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)!

Ou, quem sabe, principalmente quando vamos à comunhão do corpo e do sangue do Senhor do céu e da terra, não o fazemos, às vezes como algo rotineiro, superficial, despreparados? Mesmo nós, os sacerdotes, nossas palavras trazem Jesus à sagrada hóstia e nossas mãos distribuem Jesus aos irmãos e às irmãs; mas será que fazemos esses gestos grandiosos com a veneração, adoração, que merecem?

Mas, diante da grande devoção da beata Imelda, levada ao céu no momento em que comungava o corpo e o sangue de Jesus, ainda tão pequena, pensamos sobretudo nas crianças e adolescentes das nossas celebrações de Primeiras Comunhões. Que enorme desafio para a Iniciação à Vida Cristã, ao processo Catequético, levar esses pequenos e pequenas a um verdadeiro encontro com o Salvador!

Mesmo a missão de Catequista, tão sublime, motivar meninos e meninas a essa profunda experiência com o amor divino e que, depois, com o envolvimento da família, praticarão no seu dia a dia! Damo-nos conta do quanto precisamos rezar, por exemplo? Quanto devemos nos fazer ajudar por adequados roteiros, ambientes apropriados, liturgias vivas, cantos, músicas, encenações, etc., para atingir realmente os catequizandos nessa vivência tão fundamental da existência terrena!

Vamos um pouco mais além: como seria uma plêiade de cristãos, discípulos e discípulas do Ressuscitado, vivendo a caridade que vem da sua presença eucarística? Em meio a tantas trevas de injustiças, ódios, egoísmos, guerras, vazios existenciais? Imaginamos que, no mínimo, Deus faria acontecer o que, em seu misericordioso amor, mais deseja para seus amados filhos: a paz, a felicidade, a libertação de todos os males, a salvação, enfim!

Não sejamos, portanto, empecilhos e, sim, humildes e fiéis protagonistas desse sonho humano e divino! Beata Imelda Lambertini fez a sua parte nessa divina aventura. E ela continua fazendo com seu testemunho que perpassa séculos e milênios. Não seja em vão essa graciosa luz para mim e para você, leitor, leitora amigo/a!

Com informações e imagens do site www.santiebeati.it
Pe. Raul Kestring – Blumenau, 11 de setembro de 2025

Leia também...