Hoje, dia 12 de dezembro, completo o 38º aniversário de ordenação sacerdotal

meus_albuns7bNeste dia 12 de dezembro de 2014, em profunda ação de graças, completo o 38º aniversário de ordenação sacerdotal.

Quero celebrá-lo com a recordação do abraço ritual e amoroso que recebi do meu bispo ordenante, o sábio e saudoso Dom Tito Buss. Neste abraço, vejo hoje o abraço de Deus Pai. Foi ele que, desde toda eternidade pensou em mim como pessoa e como sacerdote. Foi o Pai do Céu que tudo encaminhou para, no dia 12 de dezembro de 1976, pela imposição das mãos de Dom Tito, eu visse realizado meu sonho de criança.

Sinto que aquele abraço vai se distanciando cronologicamente, mas permanece vivo nos sucessores daquele apóstolo catarinense, que tive a graça de conhecer e dos quais tornei-me colaborador. Desde meu bispo ordenante e ao mesmo tempo, então, bispo diocesano, não faltaram-me o apoio, o incentivo, o exemplo, o carinho, em última análise, de Jesus por minha pessoa e meu sacerdócio. À parte os meus defeitos e carências, sinto-me amado pela Igreja, pelos colegas sacerdotes, religiosas, irmãos e irmãs, nos quais vejo e sinto o amor de Deus por mim.

Uma das primeiras e mais conscientes manifestações da minha vocação foi durante o curso primário, na saudosa Escola Isolada Estadual de Volta Grande, então município de Taió. Hoje aquele lugar pertence ao pós-emancipado município de Mirim Doce.

Lá, naquele meu primeiro santuário do saber e da convivência cidadã, no ano de 1958, num certo dia, apareceu a figura hierárquica e amedrontadora do Pe. Eduardo Summermatter, pároco da Paróquia de Taió. Com voz grave, a certa altura da inusitada visita, ele lança a pergunta:”Quem, de vocês, deseja ser padre?” Fui eu um dos que levantaram a mão, apresentado-me para o desafio. Lembro de outro colega daquela sala e daquela ocasião que levantou também a sua mão. E, lógico, como não se sabia bem o que era isso, algumas meninas não quiseram se ver excluídas da proposta.

Daquela data até hoje, passaram-se 58 anos. O positivo: uma trajetória constante, ininterrupta. Momentos de dificuldade, sim, e não poucos. Embora sem pretensões de julgamento ou ufania, totalmente descabidas para algo tão pessoal  e complexo, vi muitos colegas, ordenados na mesma época, desistirem do ministério.

Quis, porém, a providência e a graça que me mantivesse perseverante até hoje, e com decidida vontade e contínua confiança na graça de Deus,  vou permanecendo no meu caminho. Não esqueço de um conselho do meu diretor espiritual, nos inícios do ministério. Vivia momento de muitos questionamentos, beirando a crise vocacional. Este anjo de caminhada me fez entender a grandeza e a graça da perseverança. Entendi que, acontecesse o que acontecesse, perseverar era o mais importante naquela ocasião e sempre. Acho que esta ideia me deu forças, coragem de ir adiante.

Evidentemente, num dia celebrativo como o de hoje, muitas recordações afloram ao consciente e à emoção. Talvez a maior delas é a gratidão à misericórdia de Deus e a tantas pessoas que fizeram parte da minha história. Muitas ainda vivem, como meus amados pais, irmãos e irmãs, sobrinhos, a família, enfim. Vem à minha mente muitos sacerdotes, com quem tive oportunidade de partilhar a vida, trabalhos, estudos, cursos, responsabilidades e porque não reconhecer? –  igualmente dificuldades. Religiosas muito dedicadas e santas marcaram muito a minha trajetória humana e sacerdotal.

Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares,  falecida em 2008, tem uma meditação  que sempre me encanta por sua simplicidade e verdade. Ela diz para Deus: “Se um dia perguntares meu nome, diria ‘obrigado’. Obrigado por tudo e para sempre”. É este o meu mais forte sentimento no dia de hoje, nos meus 64 (quase 65) anos de vida, dos quais 38 de ordenação sacerdotal.

Aproveito para dizer ainda que não há como ignorar a presença da “cruz de cada dia”, como apelo constante à purificação, ao crescimento, à santificação. Acredito ter recebido a graça de entender um pouco a luz que nos vem exatamente da cruz. Já diz a sabedoria dos latinos, na sua concisão e profundidade: “Per crucem ad lucem” – “pela cruz à luz”.

No momento, por esses dias, convivo com a dor da enfermidade, em estado bastanteMônicab avançado, da minha irmã Mônica. Neste dia do meu aniversário de ordenação, ela se encontra internada no hospital, sedada, imóvel. Balbucia uma outra palavra. Ao que tudo indica, sua partida  está próxima. Ontem, dia 11, de manhã, fazia-lhe minha visita. E dentre as palavras que lhe sugeri, uma delas foi esta: “Mônica, é a cruz. Carregue-a até o fim”. Ela reuniu forças para, do seu coração e da sua fé, me fazer ecoar: “A cruz!”.  Que por esta cruz, Mônica esteja entrando na luz da eternidade. E que nós, por nossas cruzes, de qualquer tipo e medida, possamos ir também encontrando a luz, a luz da perseverança em Deus, a luz do amor e da graça. Pois foi pela cruz que fomos redimidos, libertos, reconciliados com Deus e entre nós.

Mônica lembra-me que o sacerdote encontra seu modelo em Jesus abandonado, crucificado, que se faz amor pela cruz, se aniquila, na expressão do Apóstolo Paulo, para libertar e salvar os irmãos.

Obrigado, desde já, a você que, tendo lido esta comunhão de alma, se faz solidário comigo neste dia e sempre. Deus nos abençoe com sua graça e sua imensa misericórdia!

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