Encontro de recordações, fé e saudades – Pe. Raul Kestring

Crédito: Pe. Raul Kestring
Crédito: Pe. Raul Kestring
Crédito: Pe. Raul Kestring

No dia 08 de setembro de 2024, na Capela Santo Antônio de Pádua, Volta Grande, município de Mirim Doce/SC, foi celebrada santa missa com integrantes da Família Kestering/Kestring, amigos e membros daquela comunidade. O grande objetivo do ato religioso era louvar a Deus pelo livro escrito pelo nosso tio Henrique Kestering/Kestring: “Proposta para uma Nova Organização da Igreja Católica”. Nesta obra, tio Rique, como o chamávamos, reserva espaço para falar de Volta Grande, sua história, cultura,

religiosidade. Mas, por bom tempo anterior, falava a todos com entusiasmo desse sonho, onde queria registrar principalmente a sua visão sobre o aperfeiçoamento da Igreja Católica Apostólica Romana. Ocupa, assim, boa parte do livro, a descrição da sua compreensão nesse sentido. Sobressai, nesse escrito, elaborado em parceria com Fábio Sidney Thiesen e Jonas Felácio Júnior, a necessidade de fundamentar-se na Palavra de Deus para iluminar hierarquia e membros. Pois, à época em que foram escritos esses livros bíblicos, foram nascendo as estruturas da igreja cristã. A arrecadação advinda será destinada totalmente para a Casa de Idosos Mão Amiga, em Ituporanga/SC. Esse espaço de caridade foi fundada pelo saudoso ex-.pároco de Imbuia, Pedro Paulo Wiggers.

Crédito: Roseli Kestring
Crédito: Roseli Kestring

Presidida pelo Pe. Raul Kestring, sobrinho do escritor, e ajudada pelo Diácono Permanente Valdir Alves, de Imbuia/SC, a missa ampliou o objetivo do encontro para recordar e celebrar a trajetória e o legado evangelizador desse ilustre apóstolo. A presença do mesmo diácono trouxe o testemunho do empenho renovador do nosso tio. Convidado pelo saudoso Pe. Pedro, para residir e exercer sua missão na Paróquia Santo Antônio de Pádua, em Imbuia, tio Rique ali morou durante quase treze anos. E não perdia um dia só para reunir grupos de casais e explicar-lhes a Palavra de Deus, Antigo e Novo Testamento. Como era seu estilo de busca apaixonada, servia-se de boas obras bíblicas, dicionários, gramáticas latinas e gregas, como também das línguas originais do texto sagrado. Na comunidade, porém, fazia mais: animava as celebrações através do canto, ensinava teclado, violão e outros instrumentos. Desejoso de ter boa saúde e vida longa, acolhia em sua casa um médico de medicina alternativa para receber cuidados e orientações. Esse profissional vinha de Curitiba mensalmente e lhe custava bons “trocados”. Assim, cultivava em sua horta verduras e legumes, especialmente soja, com sobrinhos agricultores paranaenses, com o qual fabricava nutritivo leite e derivados.

Henrique Kestering, filho de Carlos Kestring e Angelina Veronês, nasceu em 1943, na cidade de Orleans/SC. Em 1945, migrou com sua família para Taió, na localidade de Volta Grande, hoje pertencente a Mirim Doce. Ordenou-se sacerdote em 1962. Trabalhou no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Taió e em diversas paróquias da então Diocese de Joinville e, a partir da criação da Diocese de Rio do Sul, em 1969, agregou-se de corpo e alma à nova Igreja Particular. Depois de um período afastado do ministério por causa de uma crise depressiva, em memorável celebração, também ocorrida em Volta Grande, casou-se com a ex-freira Terezinha Wessler. Recordo-me ainda dessa missa que presidi e meus pais, Gregório e Clarinda, oficiaram o casamento, como ministros extraordinários do Matrimônio na Paróquia São Miguel Arcanjo, município de Mirim Doce. Daí para a frente, os dois esposos dedicaram suas vidas e seus talentos à evangelização.

Diácono Valdir, em sua emocionante fala, abriu realmente o agradecido coração e citava a generosa e fiel participação de Henrique e sua esposa Terezinha no dízimo da Paróquia. Além disso, Suas edificantes fidelidade e generosidade, só terminaram com sua morte. Ainda mais: o diácono tornou público que o animador cristão/católico doou todos os seus bens ao ancionato Mão Amiga, inclusive o depósito da poupança conjunta com Valdir, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil Reais).

A comunidade paroquial de Imbuia quis perenizar a memória do saudosa evangelizador dedicando uma sala das suas dependências para preservar livros, mapas bíblicos, esquemas didáticos, objetos pessoais dele.

Aquele domingo, em Volta Grande tornou-se verdadeira festa. A participada celebração, animada por belos cantos, as manifestações de gratidão, os pronunciamentos criaram profundo espírito de família entre todos os presentes. O caprichado almoço oferecido gentilmente pelos nossos primos foi o ponto culminante do evento, depois da santa missa. Muita verdura, alface, repolho, radici (ou chicória?), cenoura. Um panelão de risoto com carne bovina picada, gostoso molho. O arroz quase sumia, assemelhando-se a strogonoff. Três tipos de cuca e café estavam disponibilizados sobre o balcão desde a manhã.

Crédito: Pe. Raul Kestring
Crédito: Pe. Raul Kestring

Desejamos não só elogiar e agradecer este encontro festivo, fruto de carinho, amor e alegria, que teve a participação de muitas mãos e corações. Desejamos mesmo que esse perfil de encontro, com verdadeiro espírito de família, dedicação, trabalho, acolhida, gratuidade, torne-se constante na família envolvida e em toda comunidade cristã/católica. E quem dele participa leve essa chama acesa de fraternidade, esperança e paz num mundo que idolatra o celular, projetos unicamente pessoais e individualistas, indiferença, quando não, aderindo o ódio, a inimizade, a guerra.

Antes de sair da Volta Grande, fiz uma visita ao cemitério próximo à Capela, ao túmulo de Terezinha e Henrique, sepultados na mesma cova dos pais dele, Angelina e Carlos. Enquanto isso, vinha-me à mente a pergunta do anjo às mulheres que tinham ido ao túmulo de Jesus para ungir o seu corpo: “Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou.” (Lc 24, 5). Senti-me, eu também, a procurar quem está vivo, ressuscitado, os tios ali guardados. Com certeza, na sua imensa misericórdia, o Eterno Pai e Nossa Senhora Aparecida acolheram os dois discípulos missionários na plena glória e felicidade.

Pe. Raul Kestring – Blumenau, 09 de setembro de 2024

 

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