Dom Tito Buss, um bispo samaritano

Hoje a liturgia católica celebra São Tito, estreito colaborador de Paulo Apóstolo na obra da evangelização. Esta memória litúrgica ocorre logo, no dia seguinte à celebração da festa da Conversão de São Paulo. Isto, para dizer quão próximos realmente eram na missão que desempenhavam. Tanto isso é verdade que Paulo endereça uma carta a Tito, integrada ao Novo Testamento.

Mas quero aproveitar este dia para lembrar e celebrar outro Tito, o Tito Buss, que por trinta e um anos, exerceu o serviço episcopal na Diocese de Rio do Sul, no estado de Santa Catarina. Depois desse encargo, permaneceu em Rio do Sul como bispo emérito mais treze anos, até sua morte, ocorrida no dia 30 de abril de 2013.

Seu lema episcopal foi extraído justamente da Carta de Paulo a Tito: “Prega a sã doutrina” (Tt 2,1).

Mas não pretendo aqui expor a biografia deste dedicado pastor da Igreja e do Povo de Deus. Isso o leitor poderá encontrar no site da Diocese de Rio do Sul (https://www.dioceseriodosul.com.br/) ou num dos escritos de Dom Tito, intitulado “Memórias” (Editora Nova Era, Rio do Sul, 2005).

Resumidamente, neste dia de São Tito, desejo exprimir minha gratidão ao perseverante e querido bispo Dom Tito.

Foi ele quem me ordenou sacerdote e orientou meus primeiros anos de ministério na Diocese de Rio do Sul. Em época imediatamente pós-conciliar, quando se buscava um novo modo de ser Igreja, nãos sem tensões, Dom Tito soube manter equilíbrio na alta função que exercia. E dessa forma, para mim, foi referência de vivência sacerdotal e trabalho pastoral. O fato de ele de ter trabalhado bom tempo em casas de formação de novos padres e como professor de teologia, favorecia-lhe conduzir com prudência e sabedoria a sua Igreja Particular, seus padres, seu povo.

Sou imensamente agradecido a Dom Tito porque, num período de enfermidade que atravessei, encontrei nele um verdadeiro pai. Quando foi preciso me afastar da Diocese para tratamento, sua caridade presbiteral foi palpável e inesquecível. Nada, em momento algum, faltou-me algo do que era necessário. E ele mesmo, capacitado em parapsicologia clínica, inúmeras vezes ajudou-me em sessões de cuidado profissional. Atendeu, assim, milhares de pessoas que buscavam saúde e paz. Graças a esse carinho, posso dizer assim, recuperei-me e há mais de vinte anos trabalho, a bem dizer, normalmente.

Outro fato, para mim, significativo e inesquecível foi quando, no ano de 2001, celebrei meus vinte e cinco anos de sacerdote. Agendei uma missa jubilar na Comunidade Santo Antônio de Pádua, em Volta Grande, município de Mirim Doce. Nesta localidade, nasci, cresci e, muito jovem, entrei no seminário.

Não esqueci, no entanto, de convidar Dom Tito para a minha missa de jubileu de prata sacerdotal. Duvidava, porém, que o bispo viria. A distância, a estrada não tão fácil de transitar, as limitações da idade avançada, poderiam ser-lhe justo empecilho.

Mas não. Qual não foi minha surpresa, pouco antes do início da santa missa, ver chegando meu bispo ordenante; e sozinho, dirigindo seu veículo. Guardo na memória pequeno pensamento da sua homilia. Lembrava ele, então, o que disse São Francisco de Assis a respeito da dignidade do sacerdote. Parafraseio aqui a afirmação do santo de Assis: “Se, pela estrada, encontrasse um anjo e um sacerdote, eu saudaria primeiro o sacerdote, pois o sacerdote traz Jesus na Eucaristia, poder que o anjo não recebeu”.

Dom Tito, obrigado! Para a glória de Deus, posso dizer que o senhor me sustentou na vocação e missão sacerdotais. Também com suas sempre excelentes reflexões teológicas, bíblicas, dogmáticas. Mas, literalmente, o que me “salvou” foram seus gestos de bispo samaritano. Descansa na plena e eterna paz do Senhor!

Pe. Raul Kestring

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