Recebemos, nesta manhã, 01 de maio, a triste notícia da morte de Dom Tito Buss, primeiro bispo e ultimamente bispo emérito da Diocese de Rio do Sul.
Evidentemente, pela fé em Cristo Ressuscitado e em sua promessa de vida eterna, nossa tristeza é superada. Dom Tito é o “servo fiel” que entra na “alegria do Senhor” (cf. Mat 25,23), após seu dedicado, perseverante, serviço a Deus, à Igreja, aos irmãos, até o fim. Vivenciou intensamente seus 18 anos como padre e seus 44 como bispo.
Dom Tito ordenou-me sacerdote no inesquecível dia 12 de dezembro de 1972. Sou-lhe eternamente agradecido por isso. Mas também acompanhou meu sacerdócio como verdadeiro amigo e pai.
Foto da minha ordenação sacerdotal – 12.12.1976
Quando celebrei meu jubileu de prata sacerdotal, em dezembro de 2011, agendei uma missa jubilar na minha terra, Volta Grande, município de Mirim Doce/SC, na Comunidade Santo Antonio. Ali havia celebrado a minha primeira missa. Fui, então pessoalmente à sua residência e o convidei a concelebrar e fazer a homilia. Ele veio. Chegou com boa antecedência dirigindo seu veiculo. Ainda bem que me oganizei e cheguei também com antecedência, pois quase que o bispo chega e ninguém o recebia. Embora ele não fosse de cerimônias nesse sentido.
Foto da minha primeira missa – 19.12.1976
À comunidade reunida naquela ocasião, Dom Tito falou da pessoa do sacerdote. Entre outras coisas que ele falou, não esqueço da citação de São Francisco de Assis. Referiu-se a um escrito desse santo ou relato de outros, no qual ele exalta a figura do sacerdote. E diz que se encontrasse pelo caminho um anjo e um padre, saudaria primeiro o padre. De tão alta dignidade é revestido o sacerdote. Logicamente, vê-se aí um pouco da teologia própria da Idade Média. Por outro lado, o Vaticano II retomou e é perene a expressão teológica que define o perfil do sacerdote: “alter Christus”, isto é, outro Cristo. Ou ainda aquela outra expressão: “agere in persona Christi” – o sacerdote age “na pessoa de Cristo”.
Percebo na minha vida e no meu ministério como o povo de Deus manifesta esta estima, este sentido, esta valorização da pessoa do sacerdote. Evidentemente, ai do ministro que se detenha nesta vanglória. Pois a missão de Cristo é a missão do Servo Sofredor. Ele é chamado a assumir as suas próprias fraquezas e pecados, como também as fraquezas e pecados do povo. Verdadeira Kenose, aniquilamento que, mais e menos, vai perpassando sua vida e seu ministério.
Posso testemunhar que Dom Tito não só ensinou a teologia do sacerdócio. Ele a viveu de modo exemplarmente perseverante, sábio, profundo.
No dia em que ele foi ordenado bispo e foi instituída a Diocese de Rio do Sul, 3 de agosto de 1969, como seminarista, recém-terminara eu o Ensino Médio, frequentado no Seminário de Azambuja . E naquele exato ano de 1969, lecionava no Seminário Menor de Joinville, em Bateias, municípío de Campo Alegre, SC, uma vez que Rio do Sul pertencia à Diocese de Joinville. Hoje, faz bom tempo, aquele seminário não existe mais. Tive, portanto, embora não ainda como sacerrdote, a oportunidade de acompanhar o início da caminhada pastoral da Diocese de Rio do Sul. Posso dizer que Dom Tito enfrentou “barra pesada” naquela ocasião. Inúmeras cartas anônimas, por exemplo, ele recebeu, manifestando rejeição, verdadeiros desacatos, de pessoas influentes da cidade. Sem contar a luta que, naqueles tempos, significava pôr uma diocese em caminhada pastoral.
A Igreja Particular de Rio do Sul, hoje, naturalmente, continua com suas lutas. Mas se percebe nela uma Igreja consolidada, com seu clero, verdadeiro batalhão de lideranças pastorais, especialmente ministros extraordinários da comunhão, que Dom Tito animou pessoalmente por muiito tempo. Chama a atenção o grande número de catequistas que o cuidado pastoral de Dom Tito soube despertar e incentivar.
Dom Tito, “servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor” (Mt, 25,23)! Nossa gratidão e nossas preces o acompanham a cada dia da nossa vida.