«Ditosos os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem» – São Cirilo de Jerusalém

Arrancada uma árvore, cortada até pela sua base e depois feito o transplante— o salgueiro, por exemplo—, ela rebenta e volta a florir; e não voltará à vida um homem arrancado ao solo? Colhidas as sementes, repousam e descansam nos celeiros e voltarão a viver depois da primavera; e não voltará à vida o homem depois de ceifado e lançado aos celeiros da morte? Cortado e transplantado um ramo ou um rebento de vide, ganha vida e dá fruto; e não há de voltar a levantar-se o homem que caiu, para quem tudo foi criado?

Considerai agora o que se passa à nossa volta. Contemplai o panorama deste vasto universo: é semeado o trigo ou outro cereal, cai ao chão, apodrece, e já não serve para moer. Mas renasce desse apodrecimento, e cresce, e multiplica-se. Foi semeado um só grão e dá vinte, ou trinta, ou mais. Ora, para quem foi ele criado? Não foi para nosso uso? Não é para si próprias que as sementes saem do nada. Por isso, aquilo que foi criado para nós morre e renasce, e nós, para quem este prodígio acontece todas as vezes, seríamos nós excluídos deste benefício? Como deixaremos então de crer na ressurreição?

São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja
Catequeses Baptismais, n.º 18, 6; PG 38, 1021

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