Dom Carlos Verzeletti, bispo de Castanhal, no Brasil, relata a situação dos encarcerados: Na sua miséria, vejo a minha e a nossa miséria prque somos todos miseráveis”. Neste Ano da Misericórdia assinou um decreto para a construção de uma igreja dedicada ao beato Paulo VI e relançou o empenho pela “Mesa da Caridade”.
“O Ano Santo da Misericórdia nos pede para abrimos as portas do nosso coração, das nossas casas, das nossas comunidades aos excluídos e descartados da nossa sociedade”. Dom Carlos Verzeletti é um pastor no meio do povo: no Brasil desde 1982, a partir de 2004 guia a Diocese de Castanhal, no estado do Pará. Todo ano, na primeira semana de outubro, entra em todos os 13 cárceres do território, porque “é sempre um momento de graça. Uma experiência única que me faz tocar e reconhecer na sua carne a presença viva de Jesus que se identifica com eles”.
A situação das casas penais não é certamente das melhores. “O quadro que encontro em algumas celas – conta Dom Carlos – me recorda as imagens do inferno dantesco: o volume altíssimo de duas ou três televisões, a mais torpe pornografia nas paredes, o acre cheiro que exala da sua carne, os resíduos jogados no corredor, que apodrecem na água estagnada; os gritos e as vulgaridades de quem joga cartas se misturam com aqueles dos exorcismos dos prosélitos das igrejas pentecostais que rejeitam a nossa presença.
Cada vez é um novo início. “Tenho a impressão que estou descendo no mais baixo e mortal degrau da degradação humana e penso que exatamente aqui que o Senhor me quer e me espera; é aqui, onde pareceria absurda a sua presença que ele se faz encontrar. Eu os fito nos olhos e os escuto atentamente enquanto as minhas mãos, superando as barreiras, apertam as deles. Muitas vezes choro com eles…”.
Naquela condição se pode reler toa a experiência humana. “Na sua miséria vejo a minha e a nossa miséria porque somos todos miseráveis; miseráveis por causa dos nosso egoísmo e orgulho, do nosso pecado e malícia, das nossas hipocrisias e falsidades, mas Deus, movida pela sua grande misericórdia, abriu as portas do seu coração, desceu no meio de nós para permanecer conosco”.
A misericórdia “desafia a nossa diocese a reorganizar Pastoral Carcerária, infelizmente ainda limitada. No retiro de Natal, finalmente 13 sacerdotes se dedicaram a motivar e organizar nas suas paróquias a pastoral carcerária”. Hoje são mais de 6.000 os detentos, amontoados em celas estreitas, sem ar, mal-cheirosas, imundas, cada uma das quais com 15 ou vinte pessoas, obrigados a fazer turnos para dormir”.
Dom Verzeletti trabalha numa diocese jovem (fundada em dezembro de 2004) que começou um intenso trabalho de evangelização a 360 graus”, em particular no plano pastoral, os esforços do bispo se concentraram na dinamização “de pequenas comunidades, embasados sobre os relacionamentos verdadeiros entre as pessoas, transformando as paróquis em “comunidades de comunidades”. Nestes anos, com certeza, não faltaram as obras: com a colaboração da Comunidade João XXIII, surgiram duas casas de acolhida e de recuperação (com os sugestivos nomes “Ressurreição” e “Santíssima Trindade”) contra a dependência da droga e do álcool. Como prolongamento da adoração perpétua, que se tem na cripta da Catedral, nasceu a “Mesa da Caridade” para oferecer hospitalidade e alimento ao povo de rua, propondo aos adoradores uma espiritualidade encarnada: Cristo adorado na Eucaristia é acolhido e alimentado nos pobres”.
Para responder à necessidade de ajudar as famílias, ao invés, ativou-se um consuiltório familiar: no campo da educação e promoção humana foi encaminhada uma Escola das Artes (com o apoio de 8 por mil)” para tirar os jovens da marginalização e para permitir-lhes desenvolver os talentos”. Recentemente o bispo assinou um decreto para a construção de uma paróquia dedicada ao beato Paulo VI, na periferia de Castanhal que abrangerá uma área de 25 mil habitantes. E escolheu o dia 8 de dezembro, aniversário do encerramento do Concilio e inicio do Jubileu, como data simbólica, “imensamente agradecido ao Senhor pela renovação da Igreja, provocada pelo Concílio Vaticano II, com o propósito de que este acontecimento continue vivo na memória das futuras gerações; reconheço o extraordinário testemunho de amor do beato Paulo VI para como a humanidade. E o Papa Francisco repropõe o espírito de Montini, motivando a Igreja a sair de si mesma para retomar com entusiasmo o caminho missionário anunciando a misericórdia, coração do Evangelho”.