Nesse dia 09 de outubro de 2023, tenho santo orgulho de recordar e celebrar o dia do casamento de meu pai Gregório (in memoriam) e minha mãe Clarinda. Ela ainda muito vivamente presente entre nós!
Contavam eles e meus tios que saíram os dois de madrugada a cavalo, juntamente com os testemunhas, da casa dos seus pais (eram vizinhos quase de porta), rumo à Igreja Matriz Cristo-Rei que distava 25 quilômetros. Cavalgada, essa, que vencia estradas muito precárias, próprias daqueles tempos de pioneirismo migratório em regiões de densa floresta e pouco pouco povoadas.
Com a bênção sacramental matrimonial, Clarinda e Gregório iniciaram sua sonhada vida a dois numa casa meia-água, de madeira, construída no terreno do pai da noiva. Como presente de casamente, Clarinda ganhou dos seus genitores uma máquina manual de costura e uma vaca leiteira. Gregório pôde trabalhar num terreno comprado por seus pais do outro lado do “Rio Grande”, como chamávamos naquele tempo, a três quilômetros. Terreno, esse, partilhado com seu irmão Augusto. O suado trabalho, rendeu ao noivo o pagamento da parte do seu irmão e, consequentemente a respectiva posse individual.
Ali, no seu lote, medindo 25 hectares, sobre uma salutar e pequena colina, ladeada por outro rio, afluente do Rio Grande, o jovem casal construiu sua casa, toda ela em madeira. Ampla cozinha, que servia também de sala de estar e até de visita, três quartos com o quarto do casal, pequena sala de visitas e uma área de frente, onde se descansava ao meio dia, após o almoço. Um sótão, cujo acesso era facilitado por uma escada, guardava amendoim, restas de cebola e alho, o grande vaso cilíndrico de barro que conservava o Kraut (saboroso repolho temperado), outro grande pote de carne bovina e suína em banha, ferramentas; esse espaço superior servia de dormitório em ocasiões necessárias.
Depois, à chegada dos filhos, foi construída uma varanda atrás da residência que servia para o banho de gamela e algumas prateleiras de utensílios e bugigangas. Chegando a “modernidade” da desnatadeira, ali também foi instalada essa máquina.
Como o primeiro filho, eu pude acompanhar um pouco mais desses inícios.
Nos fundos da casa, a poucos metros havia o barranco que dava para o rio. Muita piava, cará, jundiá, traíra, trazíamos para a nossa mesa desse rio. Minha mãe, porém, preocupava-se justamente com esse barranco porque via nele o perigo para algum filho cair no rio. Por isso, meu pai providenciou uma cerca de estaquetas como proteção. Nessa cerca eu vi muitas galinhas desnucadas pelas fortes e decididas mãos de mamãe, afixadas pelo pescoço até pararem de se debater e, depois, depenadas e, enfim, preparadas para a refeição. Especialmente aos domingos e dias mais festivos, o frango assado ou frito era delicioso prato para a família.
Por volta do ano de 1960, foi construída a segunda casa da família, igualmente em madeira, mais estilizada e com três quartos, como a primeira. Dessa moradia, lembro muito vivamente do quarto da costura, onde a mãe, costureira, confeccionava nossas roupas. Meu enxoval para entrar no seminário, ela tudo fez. Na casa velha, ela sua máquina era manual. Na casa nova, já havia a máquina com pedal.
Esses detalhes indicam, sem dúvida, o espírito de luta e sacrifício que animava e fazia crescer a família. O casal Gregório e Clarinda, do abençoado amor que sempre os uniu, garantiam, tanto o crescimento numérico dos seus onze filhos – quatro mulheres e sete homens -, como o seu crescimento humano e espiritual. Sempre participando efetivamente da comunidade. Seja como Ministros Extraordinários da Comunhão, Ministros Extraordinários do Casamento. A mãe foi professora e catequista. Desde pequeno, vi meu pai animando a vida cristã da comunidade como capelão. Quase substituindo o padre, que visitava a comunidade, àquele tempo, a cada três ou quatro meses. Reza do terço aos domingos e dias santos de guarda, animação de sepultamentos, culto dominical, isso tudo as famílias acompanhavam sob a liderança do capelão. Um sacerdote saiu da religião católica, vivida intensamente pelo casal. Menos um filho que decidiu permanecer na roça, todos os demais conquistaram o diploma de ensino superior.
Sessenta e oito anos Clarinda e Gregório foram “uma só carne”. Passaram por dificuldades, até mesmo momentos mais nublados de relacionamento. Doenças, dificuldades econômicas. Mas acredito que aquela bênção sacramental que devotamente buscaram, naquele 9 de outubro de 1948, deu força, coragem, para que continuassem fiéis ao seu mútuo compromisso de amor e fidelidade, como também a fidelidade a Deus, pela sua palavra: “Não separe o homem o que Deus uniu”.
A foto ilustrativa, acima, registra momento da minha ordenação sacerdotal, ocorrida em 12 de dezembro de 1976, quando a primeira bênção sacerdotal, eu oficiei aos meus guerreiros e estimados pais.
De fato, à abençoada idade de seus 92 anos, em final de julho de 2016, meu pai faleceu. Só a sua morte, de fato, separou o profícuo e feliz matrimônio.
Gratidão eterna, querido pai e querida mãe!