Carta aberta ao meu amigo Adalberto Day

Caríssimo irmão e amigo Adalberto,

Em sua luta contra a doença, você me lembra o saudoso e agora beatificado João Paulo II. Ele impressionou fortemente o mundo todo com a transparência diante do sofrimento que, ao final da sua vida, enfrentou. Mesmo diante das câmeras de TV, numa das últimas imagens que deixou, tive ocasião, eu também, de ver as manifestações de seu avançado “mal de Alzheimer”.

João Paulo II não tinha medo da cruz que, em sua adiantada idade, lhe pesou aos ombros naqueles instantes finais da sua existência terrena.

Não o imagino, sinceramente, em instantes finais, Adalberto. Imagino-o cheio de seus sonhos de cientista social, pesquisador, escritor e amante do nosso povo e da nossa história. Imagino-o em caminho de recuperação da sua enfermidade, graças às atuais e surpreendentes conquistas da ciência médica.

Certamente os incômodos da doença e dos procedimentos médico/terapêuticos não lhe faltam.

Venho confessar-lhe, no entanto, minha admiração pela sua transparência, humildade e fé. À semelhança do papa polonês, você pede minhas orações. Realmente é momento de  buscar a ajuda do alto, dos amigos e, no meu caso, dos pastores, daqueles que representam a Igreja, a mediação sacramental com o divino.

Edifico-me com essa sua atitude. E acredito que você, dessa forma, edifica a muitos.

Por outro lado, uma Palavra de Jesus que nos foi legada pelo apóstolo Paulo, sempre me traz muito conforto quando também sou visitado pela dor. Encontra-se na Carta aos Romanos:”Os sofrimentos do tenpo presente não tem proporção alguma com a glória que nos será revelada” (8,18).

Essa Palavra nos traz a perspectiva transcendente de todo e qualquer sofrimento humano. É a resposta ao porquê das nossas cruzes. Ao mesmo tempo, nos enche da “esperança que não decepciona”, outra pérola de vida saída da pena de Paulo (Rm 5,5). Exatamente porque engloba nossa luta pela vida e, porque não dizer? – inclusive da vida que nos espera no além deste mundo.

O contexto dessas afirmações do Apóstolo incita-me a outro horizonte vital. É o horizonte ecológico da vida humana. Textualmente, diz-nos o escritor sagrado: “Pois sabemos que toda criação até agora geme e sofre dores de parto, aguardando ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8,19-22).

 Sei da sua singular sensibilidade diante das ameaças e urgências da luta ecológica, cada vez mais perigosas para a vida no planeta. Isso, sem dúvida, tem seu outro lado, evidentemente positivo, destacado por Paulo. São “dores de parto”. Anuncia, portanto, uma nova realidade, um novo mundo, um novo planeta, cujos sinais estão surgindo. Mesmo em Blumenau, quantos sinais estão indicando que a preocupação ecológica vai se avolumando, especialmente em nossas crianças e jovens!

Sem querer delongar-me mais, no dia de hoje, desejo viver essa comunhão na fé e na esperança com você, Adalberto, e com tantas pessoas, ao nosso redor e no mundo, que sofrem muito mais do que nós.  Sabemos que não sofremos em vão.

Como o beato João Paulo II, não tenhamos medo. Caminhemos rumo à vida, à vida verdadeira e “abundante” (Jo 10,10)

“Os sofrimentos do tenpo presente não tem proporção alguma com a glória que nos será revelada” (8,18).

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