Não sei bem o porquê, na bonita confraternização de Natal da Cúria Diocesana de Blumenau, na sexta-feira, 20 de dezembro de 2024, após a santa missa, nas respectivas dependências, eu vi o nosso bispo Dom Rafael tão alegre como poucas vezes o havia visto. Essa constatação pode, certamente, ocorrer por uma disposição pessoal minha nesses dias, mais sensibilizado por festa tão significativa, ímpar, como é o Natal. Acredito, porém, que algo novo, nessa feliz ocasião, trazia esse clima de estima recíproca e gratidão entre todos os presentes. Envolvia até a senhora Marta que, como auxiliar na casa de Dom Rafael, estava conosco pela primeira vez.
Para mim, no entanto, não há dúvida de que o ilustre anfitrião da festa, o nosso estimado bispo, inspirava-nos sobremaneira. É de fundamental importância frisar que, pelas 9h30 daquela inesquecível sexta-feira, esse dedicado sucessor dos apóstolos presidira a Celebração Eucarística, “fonte e cume de toda ação evangelizadora”, como reza o Concílio Vaticano II. Divinas e humanas energias emanam desse “mistério da fé”. E como faz bem vivermos em família, em comunidade, os salutares efeitos da Divina Liturgia! A poesia bíblica do livro dos Salmos assim se expressa: “Como é bom e agradável que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso derramado sobre a cabeça, e descendo pela barba, a barba de Aarão, até a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermon quando desce sobre os mones de Sião. Sim, ali o Senhor concede as suas bênçãos, vida para sempre” (Sl 133,1-3).
Aarão, vamos recordar, era o irmão mais velho de Moisés (cf Êx 6,20). Também os judeus e muçulmanos o veneram. Para nós cristãos e cristãs, ele é considerado um profeta do Deus de Israel, tendo servido o Senhor como sumo sacerdote dos hebreus. Portanto, um homem santo. Mas essa santidade escondia a alegria derivada do encontro com o Senhor. Seu semblante era todo luz quando saía do altar da oração e do sacrifício. O óleo a escorrer-lhe pela barba anciã, indicava a unção com que esse homem se apresentava ao povo reunido. Para ver a alegria de uma pessoa mais velha, precisa-se cultivar uma sintonia profunda com ela. A glória de Deus invade-lhe todo o seu ser. Transmite essa experiência não somente por palavras, mas sobretudo por gestos, expressões faciais. Esse ser humano transfigura-se em mensagem de vida, caridade, manifestação do céu na terra.
E mais: ele gera ao seu redor, como que por osmose, um pouco da alegria do céu. Foi assim com Maria ao enconrtrar Isabel. Cheias do Espírito Santo, fruto do verdadeiro amor fraterno, criam um momento de paraíso em seu coração e no coração das pessoas ao seu redor. Se nossas famílias e comunidades descobrissem um pouco mais dessa experiência, veríamos muito mais sinais fortes do Reino de Deus presente no mundo. Pois não se trata de privilégio de justos e santos. “Eu vim para que todos, todos, tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), disse o Salvador. E todos, dessa forma, podemos e devemos nos tornar protagonistas do mundo novo da paz, da justiça e do amor. Sonho de Deus! Sonho de todos e todas nós! Mais ainda dos injustiçados e sofredores. “Felizes, felizes os que constroem a paz, porque serão chamados filhas e filhos de Deus (Mt 5,9)! Feliz Natal!
Pe. Raul Kestring – Blumenau, 21 de dezembro de 2024