A morte de um irmão – Uma passagem de Deus

Nossa família teve a graça de permanecer durante mais de sessenta anos sem ver a morte de um membro. Vimos partir, também repentina e tragicamente, o cunhado Gregório, há alguns anos atrás. Foi dura essa experiência. Muito dura. Em Deus, no entanto, não se resumia a uma desgraça. Em seus planos insondáveis, todos os acontecimentos que ele permite ou manda tem sua razão de ser. “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).

O Maximino foi o primeiro que Deus chamou para junto de si de entre nós. Embora, como dizia a faixa daquela coroa mortuária que depositamos ao lado do seu corpo, no cemitério de Florianópolis, “seremos sempre onze”. É verdade, para os que temos fé, quem morre não desaparece; é transformada a forma da sua existência.

Mas a experiência da morte de uma pessoa da família é motivo de profunda reflexão. Se Deus nos fala através de todos os acontecimentos, não nos falará através da morte?

Numa ocasião dessas tocamos a verdade de que não vivemos neste mundo para sempre. Facilmente esquecemos que estamos no mundo de passagem. E como passam rápidos nossos dias! Especialmente depois de certa idade, parece ocorrer uma certa aceleração dos dias e anos que se vão indo. Alguém da familia morrer significa descobrir de novo o chamado que nos vem da provisoriedade da existência terrena. Ao mesmo tempo, impõe-se que nessa provisoriedade vivamos o eterno, o que não passa, isto é, Deus e sua Palavra.

Ver um irmão, de repente, partir, como ocorreu ao falecido Max, é chamado a olhar para os dez que ficaram e perguntar: O que precisamos mudar para sermos ainda mais aquela família pensada por Deus? E com certeza, esse pensamento de Deus passa pelos nossos pais, tão cheios de fé e de amor por cada um de nós.

A ocasião da morte do Maximino foi a primeira ocasião, na qual nos encontramos todos os irmãos e irmãs. Diante do corpo do 5º membro da família, estávamos todos os outros dez. Uma espécie de fruto, quem sabe, do chamado divino que, de certa forma bateu em cada um e cada uma de nós. O chamado a sermos melhores filhos de Deus, em Jesus Cristo. O chamado de sermos melhores irmãos e irmãs entre nós! Essa intenção até se concretizou no dia do sepultamento do Max, quando, chegando em Blumenau, nos reunimos na casa da Rose e do Miguel. Em torno do pai e da mãe estávamos todos, menos o Jerônimo, que já havia partido direto de Florianópolis para São Paulo.

Ali, de maõs dadas, rezamos o Pai-nosso. Nos declaramos expressamente dispostos a esquecer lacunas, deficiências, mágoas, ofensas do passado e vivermos um novo tempo. O tempo do perdão, da tolerância, da misericórdia, da fraternidade natural existente entre nós, mas não vivenciada no seu sentido verdadeiro e pleno.

O importante é que não sejam pretensões pessoais, preconceitos ou ideologias que nos guiem. Isso pode acontecer e acontece porque “cada cabeça é uma sentença” – já diziam os antigos romanos. Se assim se proceder, certamente, o objetivo não será inatingível. Mas sem dúvida será mais longo, toruoso e mais complicado.

O caminho mais direto para uma família ser família de fato, para uma comunidade ser comunidade de fato, é o seguimento dAquele que, autorizadamente, se auto-declarou:”Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). “Eu sou” é o nome de Deus (Êx 3,14). NEle todos existimos. NEle tudo existe. Não que seja caminho fácil, mas sem dúvida será o mais direto, o mais luminoso, o mais tudo.

E foi o caminho que todos aprendemos e continuamos aprendendo de nossos queridos pais. Com o leite materno, bebemos essa fé, essa opção de vida. Seja ela a luz, a força, a coragem de darmos o passo, em vista de, quanto antes, antes que seja tarde, sermos Família aqui na terra para, depois, sermos Família com Deus no céu.

Assim rezamos na oração que Jesus nos ensinou e que aprendemos no colo de nossos pais: “Assim na terra como no céu” (Mt 6,10).

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