A doença, a morte e as dores,
Mas para alegrar a terra
Basta haver-lhe dado flores!”
Não sei de quem é a autoria desta pequena, mas significativa poesia. Talvez sabia quem, há muito tempo atrás, deu-me para decorá-la e declamá-la em público. A primeira recordação que tenho de uma exibição pública.
Cursava os anos primários na Escola Isolada Estadual de Volta Grande, então município de Taió; isso nos idos de 1957, 1958. Não recordo em que ocasião, a saudosa e querida professora Natalina Nolli, pediu-me que decorasse essa poesia. Eu a decorei tão bem que nunca mais dela me esqueci.
Alguém pode dizer: “Mas também era uma poesia muito pequena”. É verdade! São tantas, porém, as coisas pequenas da vida, ainda mais as da infância.
O motivo ao qual atribuo o fato de não me ter equecido daquela declamação, realmente, é a simplicidade e a profundidade de conteúdo e forma com a qual ela se apresenta.
Deus nos deu tudo. Até a liberdade de fazer guerra. Tanto a guerra entre nações como a guerra entre pessoas e grupos. Não há o que discutir: o que Ele não quer, não acontece. Ele é o Criador e Senhor de tudo, tenhamos fé ou não a tenhamos. Por outro lado, ele pode permitir fatos que ajudem a humanidade a caminhar, a progredir, a crescer. Não é a vida de cada pessoa uma sequência de erros e acertos? Esses erros e acertos possibilitam reflexão, amadurecimento, aperfeiçoamento, até o fim da nossa vida. Lógico, falamos aqui, agora, de pessoas que desejam ser honestas, sinceras, leais consigo mesmas e com os outros.
“A morte, as dores”, não dependem de nós escolhê-las ou não. Elas não dizem muito respeito à nossa liberdade. São fruto da nossa humana condição. Iluminados por uma sadia compreensão da pessoa humana, pela revelação, pela Palavra de Deus, precisamos acolhê-las, aceitá-las, integrá-las à nossa caminhada existencial. Aos membros da comunidade de Corinto, o Apóstolo Paulo diz: “Irmãos, entre vocês eu não quis saber outra coisa a ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo Crucificado” (1Cor 2,2). Ainda: “[… ]; nós, porém anunciamos Cristo crucificado, escâncalo para os udeus e loucura para os pagãos” (1Cor 1,23).
Merece reconhecer que, muitas vezes, as dores e sofrimentos são consequências do nosso modo de viver. Diz o velho ditado: “Cada um colhe o que planta”. E outro ditado ainda cabe aqui: “Quem semeia vento colhe tempestade”.
Enfim, o mais belo dessa poesia em questão: o reconhecimento da verdadeira missão das flores. “Basta haver-lhe dado flores!” Diante de tudo o que é ruim debaixo do céu, diante de tudo que é difícil, até inexplicável, as flores, tão diversas e tão belas, parecem contrabalançar, superar, transcender. Isto é, se eventualmente nada de bom houvesse sobre a terra, valeria a pena passar por aqui por causa das flores que Deus semeou em todos os lugares.
Felizmente, constatamos a existência da bondade, do amor, da coragem, da alegria enfim, com as quais Deus dotou o coração humano. Dá para afirmar que também ali, no coração do ser humano, em todos os seres homanos, Deus plantou diferentes e belíssimas blores!
Concluindo: não sabia que aquela declamação, desempenhada com as condições daqueles meus 7, 8 anos, poderia se tornar um verdadeiro programa de vida. No espírito de um verdadeiro humanismo e dos ensinamentos de Jesus, explicitados também pelo apóstolo Paulo, reconheço-me, hoje, na altura dos meus 60 anos de idade, como fruto das “guerras” que travei comigo mesmo, com os outros, com o mundo ao meu redor, até com Deus (lembra a luta de Jacó com Deus – Gn 32?). No entanto, com sinceridade, posso afirmar: as doenças, a morte e as dores, embelezaram ainda mais as flores que Deus plantou em mim e ao meu redor!
Um grande abraço a você, querido/a internauta!
Pe. raul Kestring