Num livro a reflexão atual do beneditino alemão Anselm Grün
28/12/2015
Maria Teresa Pontara Pederiva – TRENTO
O momento mais importante na vida de todo ser humano: o nascimento de uma criança. Em todas as religiões, o vir à luz de uma pessoa sempre esteve envolto de uma auréola de mistério. Um mistério envolvido sempre pelo medo de algum evento que possa pôr em perigo a vida do nascituro e da mãe. Daí a necessidade da invocação a Deus para implorar misericórdia sobre aquelas duas vidas num momento crítico.
Ainda hoje, o período da espera de um filho e o acontecimento do nascimento representam para os dois genitores uma ocasião forte e única para refletir sobre os sentido da própria vida e, às vezes, para (re)aproximar-se de Deus. A gravidez nos revela, então, alguma coisa de sagrado, no interior do qual o Sagrado por excelência se manifesta com toda a sua força de vida e de sentido. No passado, as mães eram colocadas debaixo de uma espécie de proteção e Deus: uma tradição que talvez venha reproposta também nas comunidades de hoje, quiçá na ocasião dos encontros de Pastoral do Batismo para os pais que pretendem pedir o Batismo para o seu filho.
São reflexões incisivas e delicadas, veladas por uma auréola de mistério, da qual o padre Anselm Grün – monge beneditino prior da abadia de Münsterschwarzach, na Alemanha, e autor de numerosos textos de espiritualidade – se aproxima na ponta dos pés, em respeito à intimidade dos pais, interpretando palavras e sentimentos.
Um texto dedicado a eles em particular, mas por ocasião do Natal e em um contexto sobretudo ocidental, caracterizado de um dramático decréscimo das taxas de natalidade, representam um sinal de esperança e de abertura ao futuro.
Só os anseios das mães e o acompanhamento trepidante dos pais inspiram um livro rico de referências bíblicas, teológicas e humanas, mas há também uma outra preocupação do padre Grün: recordar-nos que não se nasce apenas uma vez porque o nascimento não se encontra somente na origem da nossa vida, mas tantas vezes, quando se atravessa um momento de crise e dela saímos “como se tivéssemos nascidos de novo”. “Somente aquele que volta sempre a enfrentar estes novos nascimentos se mantém interiormente vivo”.
A estrada que passa através da tristeza é como um parto: “Somento se atravessarmos a dor, nascemos para uma nova existência”.
“Se mil vezes Cristo nascesse em Belém, mas não em ti – escrevia o poeta silesiano Angelus Silesius – perenemente estarias perdido”. Mas que significa o nascimento de Deus em nós? “Geralmente vivemos as imagens que outros nos obrigam a fazer de nós mesmos, explica Grün, e a alma se rebela, se revolta. Quando, ao invés, entramos em contato com a imagem única que Deus fez de nós, entramos em sintonia conosco mesmos”.
Também os pais, por ocasião do nascimento de um filho e quando escolhem o nome de batismo, passam a colorir de imagens próprias a “sua” vida com projeções e expectativas voltadas mais a si mesmos do que ao outro. Mas é mesmo o sacramento do renascimento em Cristo volta a recordar-lhes a necessidade de desapegar-se de todas aquelas imagens e falsas expectativas para perceber o esplendor único de Deus que reluz naquela criança, filho dele, antes que nosso.
Uma realidade que o Evangelho da infância de Jesus, narrado por Lucas em toda a sua plenitude à luz da confiança total na vontade do Pai que acompanha o crescimento de toda criança. E ele o faz com uma predileção particular por aqueles mais pobres e em dificuldade.
Anselm Grün, “O mistério do nascimento”, Queriniana Brescia (Itália) 2015, 64 páginas, 7,00 euros.
Tradução do italiano: Pe. Raul Kestring