Nesta tarde de Finados, eu e meus pais, estivemos no Cemitério Jardim da Saudade, ao lado da BR 470, em Blumenau, para rezarmos pelos falecidos da família, como também por todos os mortos. São ocasiões de lembrar que nossa real família extrapola critérios de parentesco natural. A grande verdade/novidade do cristianismo é que Deus é nosso Pai e nós, todos e todas, somos irmãos/ãs. E Deus é um Pai que não se contenta com corações acanhados. Ele deseja ardentemente que seus filhos e filhas espelhem-se no coração de seu Filho Jesus Cristo. Ele derrubou todos os muros que separavam as pessoas para consituir uma só família, um só povo, para a vida de todos e para a sua glória.
Mesmo assim, se não sou irmão de alguém, certamente não o serei de todos. Às vezes até é mais fácil dizer que quero bem o africano, lá longe; e o meu irmão de sangue, ao meu lado, eu o ignoro. Seria flagrante hipocrisia.
Por isso, no trajeto do Bairro da Velha para o Cemitério da BR 470,, paramos numa floricultura e compramos dois bonitos vasos de flores e depositamos junto ao túmulo do genro e cunhado Gregório Peron, que foi morto em fevereiro de 2004. Lamentamos muito a tragédia. Por outro lado, como pessoas de fé, sabemos que o mistério da redenção passa por esses incógnitos caminhos. Vamos entendê-los somente na outra vida. Cabe-nos, em situações como esta, vivermos a tolerância, o perdão, a esperança cristã, inclusive da ressurreição social da justiça e da paz.
Às 16h, Pe. João Bachmann, pároco da Catedral de Blumenau e Vigário Geral da Diocese presidiu missa numa grande barraca montada no meio de cemitério. Também esta oportunidade de oferecer o sacrifício redentor de Cristo, atualizado na santa missa, por todos os que partiram deste mundo, Deus nos concedeu nesta tarde.
O sol estava forte. A tarde estava quente. Grande, porém, era a movimentação de pessoas naquele cemitéio, principalmente na hora da celebração. Nosso povo é solidário com seus falecidos. É solidário diante da dor da perda. Talvez seja este um dos grandes valores da nossa brasilidade. Aí esconde-se grande semente de verdadeira cidadania, esperança de uma nação fraterna, justa, igualitária.
Vale ainda lembrar a Palavra de Jesus, na Carta aos Romanos (13,8): “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor mútuo”. Nossos mortos vivem em Cristo, e a melhor forma de lhes sermos agradecidos é rezarmos por eles. Não somente a oração dos lábios. Recordar suas qualidades e guardá-las como a melhor imagem por eles deixada; perdoar suas fraquezas, oferecer-lhes os sacrifícios da nossa caminhada; não nos dessviarmos do caminho que nos leva ao encontrá-los (para eles seria uma intolerável decepção!) – enfim, honrar sua memória, são evidentese sinais do nosso amor por eles.
Portanto, no Dia de Finados, tenhamos consciência de que passam as flores, as velas, as lágrimas; a própria saudade ameniza-se e muitas vezes apaga-se. Entes, um dia, tão caros, por razões diversas, caem no total esquecimento. Atitude lamentável, embora frequente!
Não passa, porém, o amor que lhes devemos e dedicamos sinceramente. Pois “o amor jamais acabará” (1Cor 13,8).