«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5,9)
Um observatório de investigação, criado por três universidades italianas, revelou recentemente que durante um ano circularam mais de um milhão de mensagens de ódio na internet. Tornam-se cada vez mais violentas, em particular contra os estrangeiros, contra os judeus, e sobretudo contra as mulheres.
É evidente que não podemos generalizar, mas todos nos deparamos – na família, no trabalho, no âmbito do desporto, etc. – com atitudes conflituosas, ofensivas e antagónicas, que dividem e comprometem a convivência social. Além disso, no mundo inteiro, estão atualmente em curso 56 conflitos armados, o número mais elevado desde a Segunda Guerra Mundial, com um grande número de vítimas civis.
Neste contexto, as palavras de Jesus ecoam ainda mais provocatórias, verdadeiras e fortes:
«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus»
«Cada povo, cada pessoa sente um anseio profundo pela paz, pela concórdia, pela unidade. Não obstante, apesar dos esforços e da boa vontade, depois de milénios de história, encontramo-nos incapazes de alcançar uma paz estável e duradoura. Jesus veio trazer-nos a paz, uma paz – diz-nos – que não é como aquela que “o mundo dá”[1] porque não é apenas ausência de guerra, de litígios, de divisões, de traumas. A “sua” paz é também isso, mas é muito mais: é plenitude de vida e de alegria, é salvação integral da pessoa, é liberdade, é justiça e fraternidade no amor entre todos os povos»[2].
A palavra de vida deste mês é a sétima das bem-aventuranças, que constituem o início do Sermão da Montanha (Mt5-7). Jesus, que as encarna todas, dirige-se aos seus discípulos para os instruir. Note-se que as oito bem-aventuranças estão formuladas no plural. Por isso, podemos deduzir que a ênfase não é dada a um comportamento individual ou a virtudes pessoais, mas a uma ética coletiva que se concretiza em grupo.
«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus»
Quem são os que promovem a paz? «A sétima bem-aventurança é a mais ativa, explicitamente operativa. A expressão verbal é análoga àquela utilizada para a criação no primeiro versículo da Bíblia, e indica iniciativa e laboriosidade. O amor, por natureza, é criativo e procura a reconciliação, custe o que custar. São chamados filhos de Deus aqueles que aprenderam a arte da paz e que a praticam, que sabem que não há reconciliação sem o dom da própria vida, e sabem que a paz deve ser procurada sempre e de todas as formas. […] Esta não é uma obra autónoma, fruto das próprias capacidades. É manifestação da graça recebida de Cristo, que é a nossa paz, que nos fez filhos de Deus»[3].
«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus»
Como viver então esta palavra? Em primeiro lugar, difundindo o amor verdadeiro por toda a parte. Depois intervindo quando, ao nosso redor, a paz estiver ameaçada. Por vezes, basta escutar com amor, até ao fim, as partes em litígio para vislumbrar uma saída.
Além disso, não descansaremos enquanto os relacionamentos cortados, muitas vezes por uma coisa de nada, não estiverem restabelecidos. Talvez possamos dar vida – na instituição, associação ou paróquia de que fazemos parte – a iniciativas específicas, com a finalidade de fomentar uma maior consciência da necessidade da paz. Há no mundo um vasto conjunto de propostas, grandes ou pequenas, que atuam com este objetivo, promovendo marchas, concertos, congressos. O próprio voluntariado põe em movimento uma grande corrente de generosidade, que constrói a paz.
Há também percursos educativos para a paz, como o «Living Peace»[4]. Atualmente são mais de 2600 as escolas e grupos que aderem a este projeto e mais de dois milhões de crianças, jovens e adultos envolvidos nas suas iniciativas, nos cinco continentes. Entre estas iniciativas está a de lançar o «Dado da Paz» – que se inspira no dado da arte de amar de Chiara Lubich[5] – que tem escritas, em cada uma das suas faces, frases que ajudam a construir relacionamentos de paz. Outra iniciativa, presente em todo o mundo, é o «Time out»: às 12:00 horas de cada dia, faz-se um momento de silêncio, de reflexão ou de oração pela paz.
Texto preparado por Augusto Parody Reyes e pela equipa da Palavra de Vida
[1] Cf. Jo 14, 27. [2] C. Lubich, Palavra de Vida de janeiro de 2004, in Parole di vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma, 2017, p. 709. [3] Papa Francisco, Audiência Geral. Catequeses sobre as Bem-aventuranças, 8. Quarta-feira, 15 de abril de 2020. [4] http://livingpeaceinternational.org. [5] C. Lubich, A arte de amar, Cidade Nova, Abrigada 2007.






