Comunhão de almas no Eremitério

 

O Dia do Padre coincide com a memória litúrgica de São João Maria Vianney, respectivo padroeiro, anualmente, no dia 04 de agosto. A Pastoral Presbiteral da Diocese de Blumenau, por acomodação de agendas, promoveu um passeio no dia seguinte. O Convento Franciscano de Rodeio acolheu a seleta caravana, da qual participava também Dom Rafael, nosso bispo diocesano. Sortido café matinal; bons “papos”; meditação diante de um artístico, enorme e rico ícone de inspiração franciscana; diversificado e nutritivo almoço.

À tarde, visita à famosa Vinícula San Michelle e, em seguida o micro-ônibus levou os sacerdotes e o bispo para conhecer o Eremitério Frei Egídio, uma Casa de Retiro e Oração construída numa montanha, um tanto distante da cidade de Rodeio. Uma estrada estreita serpenteia, primeiro passando por área semi-habitada e de boa vegetação. Depois, densa mata atlântica abre alas para o peregrino. Enfim, uma subida bastante íngreme e naquela terça-feira, garoenta. O veículo não conseguiu subir e todos tiveram que meter-se a pé, debaixo dos pingos do céu.

Na verdade, dessa forma, Deus preparava um momento singular do passeio presbiteral. Ocorreu logo depois de percorrer as caprichadas instalações da medieval e ampla construção. Reuniram-se aqueles peregrinos meio humececidos na singela capela. Ao centro do mistagógico cenário, um luminoso e caleidoscópico sacrário. Lembra a sarça ardente do livro do Êxodo. Os raios de sua luz enchiam todo o penumbroso e sagrado espaço. Ali estava o bispo emérito da Diocese de Barra, Dom frei Luís Flavio Cappio com seu traje modesto e olhos brilhantes. Frade franciscano da Ordem dos Frades Menores – OFM, ele, tendo renunciado ao governo da sua Diocese por ter atingido a idade canônica, 75 anos, escolheu aquele ermo para passar o resto de seus dias. Com sua voz mansa, firme e paterna, historiou o Eremitério. Momento muito rico de detalhes, datas e nomes de pessoas que fizeram e fazem a Casa de Recolhimento. Mais do que isso.

Na palavra, sucedeu ao guardião da Casa Dom Rafael que evidenciou a autêntica profecia de Dom Cappio, em seu ministério episcopal pelo sertão baiano, sobretudo em relação à sua sensibilidade ecológica. O Rio São Francisco, por exemplo, tornou-se para ele paixão pastoral. A sua greve de fome pela restauração das vitais águas para toda a região girou o planeta e feriu o coração da própria Igreja nos pontificados de Bento XVI e Francisco. Podia muito apropriadamente expressar essa realidade o bispo de Blumenau, pois, à época, trabalhava no Vaticano, junto à Congregação encarregada dos bispos de todo o mundo.

O resultado daquele grito profético: reforçado apelo ao surgimento da Carta Encíclica Laudato Sì, assinada pelo pontífice latino-americano. Esse saudoso Sucessor de Pedro descortina, assim, um claro sopro do Espírito para a ineludível esperança de uma Casa Comum restaurada. Não apenas a casa revigorada. Nesse dia dedicado à Festa da Transfiguração do Senhor Jesus cabe bem dizer: Frei Cáppio deseja o sertanejo baiano e todos os seres humanos transfigurados pela água saudável, novo batismo da criação.

Pe. Raul Kestring – Blumenau, 06 de agosto de 2025

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