Jubileu da “Missão – Fé, Esperança e Unidade”


Aproxima-se o dia 22 de junho deste ano de 2025. Data especialíssima para a Diocese de Blumenau. Numa grande concentração no Ginásio de Esportes Sebastião Cruz, popularmente apelidado de Galegão, será celebrado o jubileu de prata de criação e instalação dessa que é a décima diocese do nosso estado de Santa Catarina. Espera-se a presença de 4 mil pessoas, entre leigas e leigos, catequistas e catequizandos, religiosas e religiosos, Juvenistas e seminaristas, diáconos, sacerdotes, autoridades civis e militares, bispos. Dom Rafael Biernaski, nosso atual bispo diocesano presidirá toda a jornada que vai culminar na solene santa missa, às 15h30 daquela esperada tarde. A divulgação está sendo ampla e criativa. Uma delas, em hilário vídeo, retrata Dom Rafael subindo os longos e estreitos degraus da torre da Catedral e, abrigado junto ao nicho de um dos sinos, à altura de 45 metros do solo, contemplando a ampla vista da cidade e região, anuncia o evento e convida os cidadãos e diocesanos de Blumenau. Drone específico potenciou e qualificou a importante mensagem. Em menos de 12 horas, 20 mil acessos teve o inusitado convite.

Mas porque celebramos o jubileu de prata da Diocese de Blumenau? Uma comissão diocesana do jubileu, cuja presidência cabia a Dom Rafael e a coordenação, ao pároco da Catedral, Pe. Marcelo Martendal encarregou-se dos encaminhamentos referentes ao evento. Creio que o lema escolhido por essa comissão, “Missão – Fé, Esperança, Unidade”, pode muito bem retratar e inspirar todo o conteúdo das respectivas atividades, resumindo as motivações de tão nobre e santa iniciativa.
Primeiro, como ressalta o lema, trata-se de celebrar a Missão. “Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16) – declara o Apóstolo Paulo, padroeiro da jubilar diocese. Não há como os cristãos católicos fugirem dessa urgente tarefa. O saudoso e santo Papa Paulo VI, em sua Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (em português: O Evangelho deve ser anunciado) que comemorava os dez anos do Concílio Ecumênico Vaticano II, assim se expressa: “Foi com alegria e reconforto que nós ouvimos, no final da grande assembleia de outubro de 1974, estas luminosas palavras: ‘Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição.’” (EN 14) Essa afirmação perpassou toda a caminhada eclesial dos anos, das décadas, seguintes.

Nossa Diocese nasceu e viveu sob a luz dessa definição clara e profunda. Vemo-la providencialmente espelhada no lema episcopal do nosso atual bispo diocesano Dom Rafael Biernaski. “Evangelizare misit me”, em português: “O Senhor me enviou para evangelizar” (Lc 4,18). Portanto, unidos ao nosso Pastor e, nele, unidos ao Papa e a toda a igreja, como nossas atividades pastorais, alegrias e dores, na Diocese de Blumenau, desejamos evangelizar. Principalmente comemorando o jubileu, através cuidadoso e celebrativo livro, oração própria, teatro, cantos, santas missas. Nada disso teria sentido se nosso primeiro intuito não fosse tornar conhecido Jesus Cristo, enviado do Pai, sustentado pelo Espírito Santo; e, assim, transformar de uma sociedade materialista, hedonista e relativista que nos rodeia.

Coincide o nosso Jubileu Diocesano com o Jubileu da Encarnação, isto é, o 2025º aniversário do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quis o saudoso e querido Papa Francisco inspirar esse acontecimento na virtude cristã da esperança. Denominou-se o Jubileu da Esperança. E a iluminadora palavra do Apóstolo Paulo foi definida como seu tema-lema: “A esperança não engana” (Rm 5,5). É sob a égide dessa perspectiva esperançosa que se aprofunda ainda mais a vivência do jubileu da Diocese de Blumenau. Vemos ao nosso redor uma sociedade líquida, como exprime o sociólogo polonês Zigmunt Baumann. Os valores, os relacionamentos, as instituições, inclusive as religiosas, tornaram-se fluidos, voláteis e, assim, tendem a se dissolver rapidamente, como um líquido. Então vigoram os interesses pessoais, o egoísmo, os conflitos, as guerras, o descarte das pessoas, a dissolução da família, a depredação dos recursos naturais, o lucro a qualquer custo, o prazer imediato. Projetar nessa realidade obscura, desesperadora, autosuicida, a esperança cristã significa prestar um serviço essencial aos seres humanos e à criação. Realmente é a boa nova da qual o mundo, hoje, tem sede.

Que o mandato da evangelização não seja tarefa fácil, isso já verificamos e entendemos através da corajosa dedicação dos primeiros evangelizadores da nossa região. Embrenhados nas inóspitas matas, com suor e sangue, plantaram a fé cristã/católica. Movia-os a fé dos mártires e o ardor dos profetas. Não eram super-heróis. Eram, sim, homens de fé. No entanto, “Sufficit tibi gratia”, traduzido para o português, “Basta-te a minha graça” (2Cor 12,9), afirmava São Paulo Apóstolo. Ciente das suas limitações e fraquezas, esse inigualável evangelizador sentia a imensa desproporção diante da obra que lhe fora confiada. Assim entendeu, igualmente, o segundo bispo diocesano de Blumenau, Dom José Negri. Necessitava ele também, portanto, reconhecer a poderosa ação da graça de Deus em seu ministério. No entanto, não se trata de acomodar-se nessa certeza. Não foi assim com Paulo. Não foi assim também com Dom Negri. Lembro-me da grave enfermidade da coluna que ele sofreu no período em que pastoreava a diocese de Blumenau. Ausentou-se algumas vezes da Diocese, em busca de tratamento, ao ponto de ter de submeter-se a cirurgia. Em diversos encontros e celebrações, apresentava-se ele, cumprindo sugestão médica, com visível suporte branco ao pescoço. Mesmo assim, durante o seu pastoreio na Diocese de Blumenau, visitou pessoalmente todas as suas 275 comunidades. Percorreu as paróquias ministrando concorridas palestras sobre a Palavra de Deus, a Eucaristia, Vocação, Missão.

“Deus é amor” (1Jo 4,8) era o lema episcopal do primeiro bispo diocesano de Blumenau, Dom Angélico Sândalo Bernardino. Amor que forma eternamente a Família Trinitária, três Pessoas num só Deus. Perfeita unidade na diversidade. Dom Angélico foi o primeiro a reunir as centenas de milhares de cristãos católicos da região de Blumenau, igualmente, numa família, a Igreja Particular. Lembro-me do primeiro encontro do clero da nova Diocese, ocorrida logo depois da solene instalação, na Casa de Formação São José, no bairro Itoupava Central, Blumenau. Era a primeira medida do bispo para unir a recém-instalada Diocese. Santo Inácio de Antioquia, no século II, comparava a unidade dos sacerdotes ao seu bispo com as cordas de uma cítara. Diferentes cordas, evidente, mas afinadas, produzindo o sonoro e belíssimo acorde. Assim, a partir da comunidade presbiteral, todos os fiéis, suas famílias e comunidades, como num imenso coro, fariam ressoar a alegria e a força da unidade. Esta, aliás, é indispensável e fundamental na evangelização! Pois a Palavra do Senhor é clara e categórica: “Nisto todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). As pastorais, os movimentos eclesiais, as comunidades, os organismos diocesanos, foram, então, retomados e reativados.

A vida eclesial ganhou novo impulso, com corajosa opção pelos mais fragilizados e excluídos. Especialmente a formação dos futuros sacerdotes ganhou atenção com a construção dos seminários menor, em Blumenau, e maiores, filosófico em Brusque e teológico em Florianópolis. Dom Bernardino inaugurou também a formação de diáconos permanentes na Diocese, constituindo a Escola Diaconal São Lourenço. Em seu ministério em Blumenau, o primeiro bispo sofreu e encarou a catástrofe ambiental de 2008, quando a sua própria residência, no bairro Vila Nova, foi atingida, e toda a região do Vale do Itajaí teve irreparáveis danos, vinte e duas pessoas morreram com os alagamentos e deslizamentos de terra. Desabrigados, aos milhares. O compassivo bispo esmerou-se em visitas às famílias vitimadas, ativando urgentemente a Cáritas Diocesana, insistindo para que as igrejas e salões paroquiais acolhessem os desabrigados e desabrigadas e lhes providenciasse agasalhos, colchões, água, comida. Por seu coerente profetismo, defendendo os marginalizados da sociedade, foi admirado e apoiado por muitos, mas também foi odiado e incompreendido por tantos. Algumas vezes, até pelos meios de comunicação da cidade e região. Como bispo emérito, residindo em São Paulo, deu provas evidentes do seu carinho por Blumenau e pelos ex-diocesanos. Por ocasião do aniversário de muitos e muitas, ou em datas significativas, seus parabéns chegavam por telefone, pelo Whatsapp ou por email. Pessoalmente, também eu fui agraciado com essa cordialíssima atenção do inesquecível Pastor. Ciente de a sua hora ia se aproximando, em derradeiro e profundo amor, escreveu à sua amada diocese, manifestando o desejo de ser sepultado em Blumenau.

No dia 15 de abril de 2025, ano jubilar da sua ex-diocese, morreu Dom Bernardino. Com respeitosa e agradecida acolhida do corpo do irmão sucessor dos apóstolos no adro da Catedral de Blumenau, o atual bispo diocesano, Dom Rafael Biernaski, o extinto apóstolo foi sepultado, na cripta da mesma Catedral São Paulo Apóstolo. Apenas dois dias antes da data do anúncio, no Vaticano, da criação da sua amada Igreja-esposa e da sua nomeação como seu primeiro bispo diocesano. À frente da sua tumba, está exposta a bonita imagem de Nossa Senhora do Bom Parto, Maria de Nazaré, de quem ele dizia ser sua Madrinha. Ela vai à frente do querido afilhado, no eterno e feliz abraço do Eterno Pai. Dali, Dom Angélico, continua, com seu forte testemunho, com seus ensinamentos, com seu evangélico e santo legado, enfim, a chamar profeticamente seus ex-diocesanos ao amor que gera unidade, família, Igreja de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Texto: Pe. Raul Kestring
Imagens: Diocese de Blumenau

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