No dia 15 de setembro de 2024, por convocação de Dom Rafael Biernaski, bispo diocesano de Blumenau, realizou-se a 23ª Assembleia Diocesana de Pastoral, no amplo espaço do salão de encontros e promoções da Paróquia São Francisco de Assis, Blumenau. Todo o evento ficou marcado pelas flores de girassol, utilizadas no momento da oração inicial e na celebração de encerramento e envio dos participantes.
Que a natureza é o primeiro livro da revelação de Deus, se não me engano, é uma das famosas teses demonstradas pelo maior teólogo da Igreja, São Tomás de Aquino em sua clássica obra Summa Theológica. Por isso a escolha dos girassóis para favorecer o espírito orante da assembleia tornou-se enriquecedor porque sabe-se do misterioso movimento inerente a essa flor ao acompanhar a rota diária do sol no seu desenvolvimento e amadurecimento.
Por outro lado, é inquestionável a benéfica e fundamental contribuição dos raios solares para o vigor das plantas e dos animais, inclusive dos seres humanos. Os indígenas dedicam ao sol a adoração devida a uma divindade. Aliás a espiritualidade dos povos originários em geral vê a criação toda como sagrada e, por isso, tornam-se guardiões da vital biodiversidade da terra.
Como autêntico sinal da divindade, no entanto, apresenta-se o movimento da flor do girassol acompanhando o revigorador direcionamento à luz solar. Tanto isso é verdade que a semente dessa planta oportuniza diversas propriedades nutritivas, curativas, ornamentais, paisagísticas.
Assim, encontra-se nela uma clara demonstração do que pode ser chamado de “Evangelho da natureza”. O sol, na espiritualidade cristã, claro, não é uma divindade, mas é depositário de energias que não provém do acaso. Foram-lhe dadas, sem dúvida, pelo próprio Criador. E, na vida e harmonia de toda criação, o astro-rei ocupa lugar de proeminência, simbolizando a revigorante luz de Deus,
Ultimamente, o Espírito Santo que, em união com o Filho e o Pai, como fonte da vida e da harmonia do universo, principalmente da reconciliação entre as diversidades dos seres humanos está sendo retomada pelo Papa Francisco, em suas catequeses semanais. O Divino Espírito faz surgir o homem novo que se congrega amorosamente à humanidade redimida por Cristo. Este novo Adão obedece à ordem divina de salvaguardar toda a criação.
Uma assembleia eclesial é muito apropriadamente comparável ao girassol. Seus membros, animados pelo Espírito Santo e guiados
pela Palavra do Senhor, põem-se à escuta dos planos de Deus para a evangelização da Igreja, especificamente para a evangelização da Igreja local. Estabelecem, assim, em sinodalidade, planejamentos, ideias fortes, prioridades, métodos, ações pastorais, celebrações, tendo em vista que o restaurador sol divino possa ir renovando todas as coisas (Cf. Ap 21,5).
Ocorre que essa alegoria acompanha a Diocese de Blumenau desde os seus inícios. O primeiro aniversário de instalação da Diocese de Blumenau, em junho de 2001, foi celebrado com o destaque à mensagem do girassol. O eloquente símbolo litúrgico daquele ato religioso foi representado por uma menina, também em seu 1º ano de idade, revestida de pequenos girassóis. Pelo corredor central do magnífico templo, foi levada por seus até o presbitério, onde o primeiro bispo de Blumenau, agora gozando da sua emeritude, Dom Angélico Sândalo Bernardino, acolheu-a em seu colo. E, ao final daquela memorável liturgia, todos os presentes ganharam pacotinhos de sementes da bonita flor para que pudessem plantá-las na sua propriedade, no seu jardim. Daí nasceu um dos mais significativos cognomes da Diocese de Blumenau: Diocese dos Girassóis. E porque não poderíamos qualificar a assembleia diocesana de setembro de 2024, vigésima terceira da diocese, como a “assembleia dos girassóis”?
Pe. Raul Kestring – Blumenau, 28 de setembro de 2024
