Fico muito compadecido com as notícias que chegam da Nicarágua, na América Central, informando sobre a prisão de padres, bispos, seminaristas, líderes e opositores ao regime do Presidente Daniel Ortega. Até a Organização das Nações Unidas – ONU e outros organismos internacionais tem manifestado profunda preocupação com aquele país pois, lamentam “a Nicarágua se afasta cada vez mais do Estado de Direito”. Onde isso pode chegar, só Deus sabe; mas essa cruel ditadura, futuro bom não prenuncia, não!
O Papa Francisco, diversas vezes declarou sua tristeza com aquelas ocorrências, apelando para a libertação dos prisioneiros e repatriação dos exilados.
Entretanto, em nossa terra de Santa Cruz, a realidade sócio-religiosa não está muito nos trilhos. O forte clima de tensões e polarizações trouxe escancaradas divisões não só no meio político, mas também dentro da própria Igreja de Cristo, pela unidade da qual Jesus Cristo sofreu a perseguição, a paixão e a horrível morte de cruz.
Longe de querer a uniformidade de pensamento. Quanto menos querer a uniformidade da prática transformadora/evangelizadora. Desde os inícios a Igreja teve diversidade de ritos, liturgias, interpretações da Escritura, posições políticas. Subsistiu, todavia, e subsiste até hoje a “Igreja una, santa, católica e apostólica”. O termo “católica” significa a sua abrangência universal, vocábulo, este, que não designa somente um alcance geográfico. Católica, quer dizer que acolhe em si todas as diferenças culturais, ideológicas, políticas, desde que não firam o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Outra designação que se aproxima do termo católico é “diversidade reconciliada”. O mistério divino tem dentro de si a diversidade: três diferentes pessoas e um só Deus. Mas vivem em perfeita e eterna pericorese, isto é, em profundíssimo diálogo e perfeita comunhão.
O que quer dizer diversidade reconciliada? É uma entidade diferente respeitando a outra diferente. Sabendo escutá-la. Acolhendo a diferença. Ajudando o diferente encontrar sua identidade e lugar. Em suma, em constante e progressivo diálogo, interação recíproca. Ninguém perde nessa dinâmica. Todos ganham a convivência pacífica, a harmonia de caminhada. Pois a meta dessa fraternidade é construir na terra as realidades do céu, quais sejam a solidariedade, a justiça, o amor, a alegria, o Reino de Deus, enfim.
Mas será que isso é possível? Vê-se tanto ódio, guerra, injustiças, ao nosso redor, no mundo. Há alguns anos atrás, uma Campanha da Fraternidade convocava todos à vida fraterna com o seguinte lema: “Comece em sua casa”. Sim, começar na própria casa, naquele abrigo material, mas sobretudo na casa interior de cada um e cada uma. Os santos falam do castelo interior, luminoso, acolhedor, pacífico, reconciliado. Aí fundamenta-se o castelo exterior, aquela realidade externa que vai sendo edificada pacientemente, perseverantemente, recomeçando sempre, irmanada aos outros, somando forças espirituais e materiais.
Finalizando, uma Diocese define-se como “porção do povo de Deus” (Concilio Vaticano II). Se é isso, então, deve inspirar-se no Deus uno e trino. Diversidade e unidade caracterizam todas essas pessoas, grupos, movimentos, pastorais, associações. Isolamento, apropriação da verdade, condenação do outro, violência eliminadora ou excludente, isso não combina com povo de Deus!
Ainda, permitam-me destacar: o lugar da autoridade. É por isso que Jesus Cristo colocou um Papa, o primeiro, Pedro. Papa em Italiano significa pai. Pai é acolhida, discernimento, orientação, referência de unidade. O bispo é representante do Papa; o padre, do bispo; o líder, o cristão, é presença de Cristo; portanto, em consciente obediência, harmonia com a autoridade. Santo Agostinho pregava que se alguém, na Igreja, faz obras às escondidas do bispo (também do padre: de Cristo, trabalha para o diabo. Onde se debocha da autoridade, se critica desrespeitosamente, se afronta, se exclui, se culpa, se agride, a autoridade, ali, vai reinar o Demônio.
Senhor Jesus, louvo-te pela maravilhosa obra da tua Igreja, una, santa, católica, dialogal, sinodal! Na tua misericórdia, Senhor todo poderoso e todo misericordioso, faz que a Igreja em Blumenau, a Diocese de Blumenau, tão diversa em suas comunidades, em seus ministros, em suas famílias e grupos, resplandeça em unidade! Então o mundo há de crer, pois pediste ao Pai: “Que todos sejam um para que o mundo creia” (Jo 17,21).
Texto: Pe. Raul Kestring